Trump diz que a Ucrânia iniciou a guerra com a Rússia e mata seus cidadãos. Quais são os fatos?

Presidente americano deu uma série de declarações falsas sobre a guerra na Ucrânia

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Por Justin Spike (AP)

KIEV - O presidente Donald Trump culpou falsamente a Ucrânia por iniciar a guerra que custou dezenas de milhares de vidas ucranianas, causando indignação e alarme em um país que passou quase três anos lutando contra um exército russo muito maior.

Trump chamou o presidente ucraniano Volodimir Zelenski de “um ditador sem eleições” e afirmou que seu apoio entre os eleitores estava perto do fundo do poço.

Zelenski disse na quarta-feira que a desinformação está vindo da Rússia, e parte do que Trump disse ecoa a própria narrativa russa sobre o conflito.

Imagem de 27 de setembro de 2024 mostra encontro entre o presidente da Ucrânia Volodmir Zelenski e o então candidato à presidência dos EUA, Donald Trump. Após tomar posse, Trump quer negociar fim da guerra com a Rússia sem a participação da Ucrânia Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

Veja a seguir algumas das declarações de Trump:

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A Ucrânia “nunca deveria ter começado a guerra”

O que Trump disse: “Vocês estão lá há três anos. Vocês deveriam ter acabado com isso... Vocês nunca deveriam ter começado. Vocês poderiam ter feito um acordo”.

Os fatos: O exército russo cruzou a fronteira em 24 de fevereiro de 2022, em uma invasão total que Putin procurou justificar dizendo falsamente que era necessária para proteger os civis de língua russa no leste da Ucrânia e impedir que o país se juntasse à Otan.

Mas a agressão da Rússia contra a Ucrânia não começou nessa época. Em 2014, o presidente russo Vladimir Putin viu sinais de que a Ucrânia estava se afastando da esfera de influência da Rússia, buscando alianças com nações da Europa Ocidental.

Putin anexou ilegalmente a Península da Crimeia e iniciou uma agressão armada na região de Donbas, no leste da Ucrânia, que se transformou em um conflito de longa duração que deixou milhares de mortos.

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Esse conflito se arrastou até 2022, quando Putin ordenou o que ele chamou de exercícios militares ao longo das fronteiras da Ucrânia. Ele disse ao mundo que os cerca de 150.000 soldados que ele havia reunido não seriam usados para invadir a Ucrânia. Mas na madrugada de 24 de fevereiro, a Rússia lançou ataques aéreos generalizados e os soldados começaram a invadir a fronteira.

A Ucrânia deve realizar eleições

O que Trump disse: “Temos uma situação em que não tivemos eleições na Ucrânia, onde temos lei marcial”, disse Trump em Mar-a-Lago, acrescentando na quarta-feira em uma publicação nas mídias sociais: “Um ditador sem eleições, Zelenski, é melhor agir rápido ou ele não terá mais um país”.

Os fatos: Zelenski foi eleito para um mandato de cinco anos em 2019, e as próximas eleições presidenciais estavam programadas para a primavera de 2024. Mas a lei ucraniana proíbe eleições parlamentares ou presidenciais durante um estado de lei marcial, portanto Zelenski permaneceu no cargo. Ele disse que acredita que as eleições serão realizadas na Ucrânia depois que a lei marcial for suspensa. O país precisaria alterar a lei se decidisse realizar uma votação.

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Há vários fatores que, de acordo com o governo da Ucrânia, “tornariam literalmente impossível garantir um processo eleitoral justo nas circunstâncias de uma guerra total”.

De acordo com a agência de refugiados das Nações Unidas, cerca de 6,9 milhões de refugiados ucranianos foram registrados em todo o mundo desde fevereiro de 2022. Desses, milhões permanecem fora do país devido à guerra. Seria quase impossível para todos os que foram deslocados participar de uma eleição, potencialmente roubando o direito de voto de milhões de pessoas.

Além disso, cerca de 800.000 soldados estão servindo atualmente nas Forças Armadas ucranianas, que lutam para conter os avanços russos. Uma eleição exigiria a retirada dos soldados das linhas de frente para votar, enfraquecendo a posição militar da Ucrânia. Além disso, os combatentes não poderiam se candidatar a cargos públicos, um direito que lhes é garantido pela lei ucraniana.

Muitos ucranianos estão vivendo em áreas sob ocupação russa, o que essencialmente impede sua participação em qualquer processo eleitoral. E como a Rússia continua a atacar regularmente alvos militares e civis em todo o país, reunir milhões de cidadãos em locais de votação lotados poderia criar um perigo adicional.

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Imagem de 18 de maio de 2022 mostra tropas russas caminhando em meio a destroços em Mariupol, na região de Donetsk, leste da Ucrânia Foto: via AP

O apoio de Zelenski está no fundo do poço?

O que Trump disse: “O líder na Ucrânia, quero dizer, odeio dizer isso, mas ele está com um índice de aprovação de 4%.”

Os fatos: Zelenski “mantém um nível razoavelmente alto de confiança pública” - cerca de 57% - de acordo com um relatório divulgado na quarta-feira pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev.

Em discurso em Kiev na quarta-feira, Zelenski disse que o número dado por Trump, para o qual o presidente não citou fontes, era “desinformação” originada na Rússia, e que o presidente “infelizmente vive nesse espaço de desinformação”.

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Zelenski disse que, nas próximas semanas, pedirá a pesquisadores que realizem pesquisas sobre a confiança do público nele e compartilhará os resultados com o governo Trump.

Milhões de mortes

O que Trump disse: “Quando você vê o que aconteceu na Ucrânia, com milhões de pessoas mortas, incluindo os soldados, milhões de pessoas mortas, uma grande porcentagem de suas cidades arrasadas, não sei como alguém consegue viver lá.”

Os fatos: Nenhuma estimativa de qualquer análise respeitável coloca as mortes perto da casa dos milhões.

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Embora os números exatos do número de mortes sejam desconhecidos, Zelenski disse no início deste mês que mais de 46.000 soldados ucranianos haviam sido mortos desde o início da guerra em grande escala em fevereiro de 2022. Ele também disse que “dezenas de milhares de civis” foram mortos nas áreas ocupadas da Ucrânia, mas que nenhum número exato estaria disponível até o fim da guerra. Os dados mais recentes do Ministério da Defesa da Rússia, publicados em janeiro de 2023, apontavam para pouco mais de 6.000 mortes de militares, embora relatórios de autoridades dos EUA e do Reino Unido apontassem um número significativamente maior.