Trump diz que seus problemas na Justiça o ajudam a atrair eleitor negro

Ex-presidente faz discurso adaptado sob medida e se compara a fatia do eleitorado historicamente alvo de injustiças nos EUA

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Por Michael Gold

THE NEW YORK TIMES - O ex-presidente Donald Trump, em um discurso para um grupo conservador negro na noite de sexta-feira, 23, disse acreditar que as quatro acusações criminais a que ele responde lhe renderam apoio dos eleitores negros, pois estes teriam visto a injustiça histórica do sistema de justiça da qual eles são vítimas refletidas nos problemas legais do republicano.

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“Acho que é por isso que os negros estão do meu lado agora”, disse Trump em um evento organizado pela Federação Conservadora Negra em Colúmbia, na Carolina do Sul. “Porque eles veem que o que está acontecendo comigo acontece com eles. Isso faz sentido?”

Em outro momento de seu discurso, ele sugeriu que os eleitores negros haviam se aproximado dele “porque foram tão prejudicados e discriminados, e na verdade viram como eu estou sendo discriminado. Tem sido bastante incrível.”

Trump há muito tempo usa o discurso de lei e ordem para mobilizar sua base conservadora, bem como uma linguagem racista codificada para atacar adversários políticos. Seus comentários na sexta-feira vieram em um discurso repleto de acenos explícitos aos eleitores negros, um grupo que votou esmagadoramente no Partido Democrata por décadas, mas cujo apoio Trump e sua campanha estão ansiosos para conquistar.

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À medida que o ex-presidente mudou seu foco da primária republicana, onde é o favorito dominante, para a eleição geral, ele tem incluído cada vez mais menções aos eleitores negros em seus discursos.

Normalmente, Trump afirma que os afro-americanos se saíram melhor economicamente sob sua administração do que sob a do presidente Joe Biden. Ele também afirmou que o influxo de imigrantes na fronteira com o México está prejudicando desproporcionalmente os trabalhadores negros, que enfrentam a ameaça de perder seus empregos para imigrantes dispostos a trabalhar por salários mais baixos.

Mas no discurso de sexta-feira Trump adaptou seus comentários sob medida para os eleitores negros. Em particular, ele uniu uma das principais queixas que animam sua campanha —que as 91 acusações criminais que enfrenta são obra de promotores com motivação política e de um sistema de justiça injusto — com um apelo baseado em raça.

Em um momento, Trump mencionou a foto de sua ficha policial tirada em agosto, quando foi indiciado na Geórgia por acusações relacionadas a seus esforços para reverter sua derrota eleitoral de 2020 naquele estado. Sua campanha usou a foto em esforços de arrecadação de fundos e a estampou em roupas, assim como fizeram diversos vendedores independentes de todo o espectro político.

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Donald Trump em evento organizado pela Federação Conservadora Negra em Colúmbia, na Carolina do Sul.  Foto: Andrew Harnik/AP

Trump observou que pessoas negras estavam usando camisetas com sua foto de ficha policial. “Sabe quem abraçou isso mais do que qualquer outra pessoa?”, perguntou à multidão. “A população negra.”

Ele também falou extensivamente sobre sua lei de reforma da justiça criminal. Ele raramente mencionava essa lei —que, entre outras coisas, buscava reduzir as sentenças mínimas obrigatórias para alguns crimes— enquanto fazia campanha para multidões predominantemente brancas em Iowa e New Hampshire.

O ex-presidente há muito tempo é acusado de reproduzir comentários e comportamentos racistas. O Departamento de Justiça o processou em 1977 por discriminação contra potenciais inquilinos negros. Ele foi criticado por alimentar a tensão racial quando publicou anúncios em jornais de Nova York na década de 1980 pedindo ao estado que adotasse a pena de morte após o estupro de uma corredora no Central Park, crime erroneamente atribuído a cinco adolescentes negros e latinos —a história foi retratada na série “Olhos que Condenam”, da Netflix.

E ele se destacou como uma figura política conservadora quando alimentou a animosidade em relação a Barack Obama ao se tornar um expoente do chamado movimento birther, que espalhou falsas teorias questionando a nacionalidade de Obama.

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Trump continua enfatizando o nome do meio de Obama, Hussein, quando se refere a ele na campanha. E ele ainda questiona se adversários políticos que são pessoas não brancas são elegíveis para ocupar cargos. O alvo mais recente foi Nikki Haley, sua única rival restante para a indicação presidencial republicana, que tem ascendência indiana.

Mas Trump frequentemente celebra a melhora de sua posição entre os eleitores negros na campanha. Ele conquistou apenas 8% dos votos negros nacionalmente em 2020 e 6% em 2016, mas pesquisas mostraram que ele tem recebido mais apoio, especialmente em estados cruciais para a disputa.

Durante o discurso de sexta-feira, enquanto agradecia aos apoiadores e amigos na multidão —uma característica típica dos discursos de campanha de Trump—, ele observou que estava tendo dificuldade para vê-los.

“As luzes estão tão brilhantes em meus olhos que não consigo ver muitas pessoas lá fora”, disse Trump, arrancando risos da plateia. “Mas só consigo ver os negros. Não consigo ver nenhum branco, entende?” Ele também criticou o que chama de políticas identitárias, mesmo enquanto tentava repetidamente agradar aos eleitores negros.

Ao contar uma história sobre negociar o preço de uma reforma para o Air Force One, Trump criticou Obama por não fazer o suficiente para reduzir os custos. “Você prefere ter o presidente negro ou o presidente branco que tirou US$ 1,7 bilhão do preço?”. Ele foi aplaudido em resposta.

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