WASHINGTON - O presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente Vladimir Putin, da Rússia, estão conversando por telefone nesta terça-feira, 18, enquanto Washington pressiona por um cessar-fogo na guerra na Ucrânia. Trump disse que os tópicos incluiriam usinas de energia e a “divisão” dos ativos ucranianos.
A ligação será a primeira conversa conhecida entre os dois líderes desde que a Ucrânia concordou em apoiar um cessar-fogo de um mês apoiado pelos EUA, desde que a Rússia faça o mesmo. Embora Trump tenha declarado seu desejo de intermediar uma trégua o mais rápido possível, Putin parece estar buscando mais concessões.
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“Muitos elementos de um Acordo Final foram abordados, mas ainda há muito a ser feito”, escreveu Trump na segunda-feira no Truth Social, sua plataforma de mídia social. Ele acrescentou que a guerra “deve terminar AGORA” e disse que estava ansioso pelo telefonema com Putin.
A proposta de cessar-fogo sobre a mesa
Há uma semana, o secretário de Estado Marco Rubio e Michael Waltz, conselheiro de segurança nacional dos EUA, sentaram-se para conversar na Arábia Saudita com uma delegação liderada por Andrii Yermak, chefe de gabinete do presidente ucraniano, o ministro das Relações Exteriores Andrii Sibiha e o ministro da Defesa Rustem Umerov.

Após mais de oito horas de conversações, os Estados Unidos e a Ucrânia emitiram uma declaração conjunta dizendo que Kiev apoiaria a proposta do governo Trump para um cessar-fogo de 30 dias com a Rússia, sujeito à aprovação da Rússia. Os Estados Unidos disseram que retomariam imediatamente o fornecimento de ajuda militar e inteligência à Ucrânia, que o governo Trump havia suspendido após uma reunião explosiva entre EUA e Ucrânia na Casa Branca.
Os Estados Unidos e a Ucrânia também concordaram em concluir “o mais rápido possível” um acordo para desenvolver os recursos minerais essenciais da Ucrânia.
A postura da Rússia
Putin ainda não concordou em interromper a guerra que a Rússia iniciou há mais de três anos. Ele disse que a ideia de um cessar-fogo era “correta e nós definitivamente a apoiamos”, mas estabeleceu várias condições que poderiam atrasar ou inviabilizar qualquer trégua. Isso inclui a exigência de que a Ucrânia pare de mobilizar novos soldados, treinar tropas ou importar armas durante qualquer pausa nos combates.
Putin também disse que a Rússia continuaria a insistir em um acordo de paz que abordasse as “causas originais” da guerra - sinalizando que não vai parar a guerra até que extraia uma promessa de que a Ucrânia não se juntará à Otan e que a aliança reduzirá sua presença na Europa Central e Oriental.
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“Há questões que precisamos discutir e precisamos conversar sobre elas com nossos colegas e parceiros americanos”, disse ele em uma coletiva de imprensa na quinta-feira, pouco antes de se reunir com Steve Witkoff, que é o enviado especial de Trump para o Oriente Médio, mas também tem desempenhado um papel nas negociações de paz sobre a Ucrânia.
No domingo, Witkoff disse à CNN que sua reunião com Putin havia durado de três a quatro horas. Embora tenha se recusado a compartilhar os detalhes da conversa, ele disse que tudo correu bem e que os dois lados “reduziram as diferenças entre eles”.
A proposta de cessar-fogo pode criar tensão entre os desejos de Putin de obter uma vitória de longo alcance na Ucrânia e de estreitar os laços com Trump.
Tópicos da conversa
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, não quis dizer quais tópicos estavam na agenda da ligação.
Trump disse na noite de domingo que esperava discutir questões territoriais com Putin, bem como o destino das usinas de energia ucranianas. Ele também observou que já houve discussões sobre a “divisão de certos ativos”.
“Queremos ver se podemos acabar com essa guerra”, disse Trump. “Talvez consigamos. Talvez não, mas acho que temos uma chance muito boa.”
Trump não detalhou o que quis dizer com ativos ou usinas de energia, mas seus comentários foram feitos no mesmo dia em que Witkoff mencionou um “reator nuclear” em uma entrevista à CBS News.
Essa parece ser uma referência à usina nuclear de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, que a Rússia tomou no início da guerra e ainda controla. A usina de seis reatores é a maior da Europa, e sua proximidade com a linha de frente dos combates há muito tempo gera preocupações sobre o risco de um desastre radiológico.
No entanto, não ficou imediatamente claro se qualquer discussão sobre a usina se concentraria no fato de a Rússia abrir mão dela - ou encontrar uma maneira de mantê-la sob qualquer trégua.
A usina fica perto do rio Dnipro, na região de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, que a Rússia anexou oficialmente, apesar de controlar apenas parte de seu território. Entregar a usina significaria ceder o território que a Rússia considera seu. Isso também daria às tropas de Kiev um ponto de apoio em uma área controlada pela Rússia que tem sido relativamente protegida dos ataques ucranianos graças à barreira natural do grande rio Dnipro.
Ao mesmo tempo, segundo especialistas em energia, a usina nuclear está em condições precárias após três anos de guerra e a restauração das operações completas exigiria muito tempo e investimento da Rússia. Isso poderia significar que a Rússia poderia ver um incentivo para tentar trocá-la em negociações por algo mais, como a flexibilização das sanções ocidentais sobre a economia russa, dizem os especialistas.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, acusou Putin de protelar as negociações para que o exército russo possa avançar no campo de batalha e fortalecer sua posição nas negociações de cessar-fogo.
O esforço de Moscou para expulsar as tropas ucranianas da maior parte da região de Kursk, na Rússia, nos últimos dias, privou Kiev de uma importante moeda de troca em qualquer negociação em potencial.
Os movimentos em Kursk dão à Rússia a oportunidade de mostrar a Trump que ela detém o ímpeto no campo de batalha. E os mapas do campo de batalha compilados por grupos russos e ocidentais que analisam imagens de combate e imagens de satélite mostram que as forças russas já cruzaram a região de Sumy, na Ucrânia, a partir de Kursk, no que os analistas dizem que pode ser um esforço para flanquear e cercar as tropas ucranianas restantes em Kursk ou abrir uma nova frente na guerra.
Zelenski acusou a Rússia de estar se preparando para montar uma ofensiva maior na região de Sumi, que abriga centenas de milhares de pessoas.
Apesar dos reveses em Kursk, as forças de Kiev paralisaram uma ofensiva russa na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, e começaram a recuperar pequenas áreas de terra, de acordo com analistas militares e soldados ucranianos. Os analistas militares, no entanto, têm debatido se, após mais de 15 meses de ofensiva, as brigadas russas estão exaustas ou se estão se reagrupando para uma nova investida.
Tensões recentes entre os EUA e a Ucrânia
Desde que assumiu o cargo, Trump realinhou a política externa americana aparentemente a favor da Rússia - fazendo eco a um discurso do Kremlin que culpava Kiev por iniciar a guerra.
Isso gerou alarme na Ucrânia sobre a possibilidade de Trump diminuir o fluxo de assistência militar dos EUA. A tensão no relacionamento veio a público em 28 de fevereiro, quando Trump e o vice-presidente JD Vance repreenderam Zelensky no Salão Oval, dizendo que ele não era suficientemente grato pelo apoio dos EUA.
Desde então, a Ucrânia tem procurado suavizar suas relações com o governo Trump, e Zelensky tem expressado repetidamente sua gratidão pela assistência americana.
Concessões e garantias
Rubio disse que a Ucrânia teria que fazer concessões sobre as terras que a Rússia havia tomado desde 2014 como parte de qualquer acordo para acabar com a guerra. Mas ele também disse que seria imperativo, nas conversas com Moscou, determinar o que a Rússia estava disposta a conceder.
Antes de concordar com a proposta de cessar-fogo, a Ucrânia havia insistido que qualquer cessar-fogo incluísse garantias de segurança, mas não houve nenhuma indicação desde então de que tais garantias seriam fornecidas antes que qualquer cessar-fogo provisório entrasse em vigor.
Os aliados europeus prometeram mais apoio a Kiev. O primeiro-ministro Keir Starmer, do Reino Unido, disse que continuaria pressionando Trump para obter garantias de segurança americanas - um esforço de lobby que ele compartilha com o presidente Emmanuel Macron, da França. Reino Unido e França já se comprometeram a contribuir com tropas para uma força de manutenção da paz e estão tentando convencer outros países da Europa a fazer o mesmo.