O presidente Donald Trump decidiu enviar mais cem agentes federais para Portland, no Estado do Oregon, para conter a onda de protestos que tomou conta da cidade. Segundo o jornal Washington Post, o Departamento de Segurança Interna estuda ainda mandar outros 50 homens da agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP), que reforçariam o contingente que já está no local reprimindo as manifestações.
Os protestos, que ocorrem há mais de 60 dias seguidos em Portland, começaram após a morte do negro George Floyd, assassinado por policiais brancos em Minneapolis, em 25 de maio. A maior cidade do Oregon carrega uma tradição de distúrbios que lhe valeu o apelido de “Pequena Beirute”, dado pelo ex-presidente George Bush pai, nos anos 90.
A decisão de reprimir os protestos com tropas federais era uma ameaça de Trump. Pressionado pela pandemia, pela crise econômica e atrás do democrata Joe Biden nas pesquisas, o presidente tenta repetir a fórmula que lhe rendeu a vitória em 2016, de ser o candidato “da lei e da ordem”.
Em junho, Trump assinou um decreto para proteger estátuas, monumentos e prédios federais, prevendo até 10 anos na cadeia para quem for flagrado em atos de vandalismo. Portland foi uma das primeiras cidades a receber os agentes federais, que se encastelaram na sede do Tribunal de Justiça, no centro da cidade.
No entanto, a situação se agravou, principalmente depois que começaram a circular vídeos na internet de policiais sem identificação prendendo manifestantes nas ruas – longe do prédio do tribunal. Desde então, os protestos cresceram, ultrapassaram as fronteiras do Oregon e já não são exclusivamente contra a violência policial, mas adquiriram também um tom de confronto aberto contra o presidente.
Na semana passada, Trump anunciou o envio de agentes federais para Chicago e Albuquerque, no Novo México, e ameaçou intervir em outras metrópoles, todas governadas por prefeitos democratas. “Não vamos deixar que Nova York, Chicago, Filadélfia, Detroit e Baltimore, sobretudo Oakland, sejam um desastre. Não vamos deixar que isso aconteça no nosso país”, afirmou o presidente.
A intervenção tem sido criticada pelos democratas. “O governo federal está violando a lei”, disse o prefeito de Portland, Ted Wheeler. “Vivemos em uma democracia, não em uma república de bananas”, afirmou Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados.
No fim de semana, houve violência em Seattle e um homem que carregava um fuzil AK-47 morreu baleado em Austin, no Texas. Em Portland, os protestos ocorrem durante a noite, e alguns se arrastam até o amanhecer. Na sede do Tribunal de Justiça, estão 114 agentes federais, que chegaram em meados de julho. Não há informações sobre quantos voltariam para casa após a chegada do reforço.
A informação de que o contingente de mais 100 homens seria enviado a Portland foi obtida pelo Washington Post, que teve acesso a um e-mail enviado por Derrick Driscoll, vice-diretor do Serviço de Delegados dos EUA, a outros oficiais.
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