Opinião | Trump está flertando economicamente com políticas de Maduro e Erdogan

Conselheiros indicam que o republicano poderia reduzir a independência do Federal Reserve, o banco central americano, ou desvalorizar o dólar

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Por Paul Krugman (The New York Times)
Atualização:

Mais de 30 anos atrás, os economistas Rudiger Dornbusch (um dos meus mentores) e Sebastian Edwards escreveram um artigo clássico sobre o que definiram como “populismo macroeconômico”. Os exemplos que os motivavam foram surtos inflacionários sob regimes de esquerda na América Latina, mas parecia claro que o problema principal não era o governo de esquerda em si; era, em vez disso, o que acontece quando governos descambam para o pensamento mágico. Na verdade, eles poderiam ter incluído a experiência da ditadura militar que governou a Argentina de 1976 a 1983, que matou ou “fez desaparecer” milhares de esquerdistas, mas também adotou políticas econômicas irresponsáveis que ocasionaram uma crise nas balanças de pagamentos e inflação nas alturas.

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Exemplos modernos dessa síndrome incluem governo esquerdistas, como o da Venezuela, mas também governos nacionalistas de direita, como o de Recep Tayyip Erdogan, na Turquia, que insistiu ser capaz de combater inflação cortando taxas de juros.

Os Estados Unidos serão os próximos?

Eu gostaria que as pessoas parassem de chamar Donald Trump de populista. Afinal, ele nunca demonstrou nenhuma disposição em ajudar os trabalhadores americanos, e suas políticas econômicas não ajudaram realmente — seu corte de impostos em 2017, em particular, foi um presente para os ricos. Mas seu comportamento durante a pandemia de covid-19 mostrou que ele é viciado em pensar magicamente e negar realidades da mesma forma que qualquer homem-forte ou ditador desimportante, o que torna bem possível ele poder ser responsável pelo tipo de problema que resulta de políticas com base em charlatanismo econômico.

Ex-presidente Donald Trump em evento de campanha na Pensilvânia. Foto: Joe Lamberti/Associated Press

Mas vejam, uma política econômica destrutiva não é o que mais me alarma em relação ao possível retorno de Trump ao poder. Minha mente se atormenta muito mais com os prospectos de retaliações contra seus oponentes políticos, os imensos campos de detenção para imigrantes indocumentados e além. Ainda assim, parece válido notar que mesmo enquanto os republicanos criticam o presidente Joe Biden pela inflação que irrompeu durante seu governo, os conselheiros de Trump têm ventilado ideias de políticas que poderiam ser muito mais inflacionárias do que qualquer coisa que já tenha acontecido até aqui.

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É verdade que a inflação aumentou em 2021 e 2022 antes de baixar, e há um debate vigoroso sobre a magnitude do papel das políticas de Biden nesse processo. Estou cético, entre outros motivos, porque a inflação nos EUA desde o início da pandemia de covid acompanhou proximamente os índices de outras economias avançadas. Mas notável foi o que o governo Biden não fez quando o Federal Reserve começou a elevar os juros para combater a inflação. Havia um risco claro de taxas mais altas causarem uma recessão politicamente desastrosa, mas até aqui isso não aconteceu. Biden e seu time não pressionaram o Fed a segurar a alta; eles respeitaram a independência do Fed, permitindo à instituição fazer o que considerou necessário para controlar a inflação.

Alguém acha que Trump — que em 2019 insistiu que o Fed cortasse os juros para zero ou até menos — teria exercido um comedimento comparável?

Conforme muitos observadores notam, algumas propostas políticas de Trump certamente fariam a inflação aumentar. Uma repressão contra a imigração minaria um dos fatores críticos que permitiram aos EUA combinar crescimento econômico sólido a inflação em queda. Propostas de uma onda de novas tarifas aumentariam os preços ao consumidor — e é provável que Trump aumente tarifas para muito além dos 10% que ele tem ventilado se as novas tarifas não reduzirem significativamente os déficits comerciais dos EUA, o que esse processo não produzirá.

Realmente preocupante, porém, são as indicações de que um futuro regime de Trump manipularia a política monetária em busca de vantagens políticas a curto prazo justificando suas ações com doutrinas econômicas tresloucadas.

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O Federal Reserve é uma instituição semi-independente não por causa de algum princípio constitucional sacrossanto, mas porque os países constataram que, na prática, é importante limitar influências partidárias sobre taxas de juros e impressão de dinheiro. Mas nas semanas recentes emergiram relatos de que os conselheiros de Trump querem retirar grande parte da independência do Fed, presumivelmente para que Trump possa eletrizar a economia e o mercado de ações da maneira que desejou em 2019.

Prédio do Federal Reserve, o banco central americano, em Washington. Foto: Kevin Lamarque/Reuters

Também há relatos de que conselheiros de Trump, obcecados com o déficit comercial, querem desvalorizar o dólar, o que de fato ajudaria as exportações mas também seria claramente inflacionário — aumentando os preços das importações e superaquecendo uma economia americana já aquecida. (Na realidade, a força da nossa economia é provavelmente a principal razão para o valor do dólar estar aumentando.)

E relata-se que, mesmo enquanto falam sobre enfraquecer o dólar, os conselheiros de Trump discutem punir outros países que reduzam o uso das verdinhas — que soa contraditório e parece envolver uma visão alucinada sobre quanto poder econômico os EUA possuem.

Os detalhes dessas más ideias são provavelmente menos importantes do que a mentalidade que elas revelam, que rejeita lições aprendidas duramente do passado e aceita como verdade fantasias econômicas.

E como Trump responderia se as coisas dessem errado? Lembrem-se, ele sugeriu que buscássemos combater a covid com injeções de desinfetante. Por que deveríamos esperar que ele fosse menos inclinado ao pensamento mágico ao lidar, digamos, com uma nova alta na inflação?

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Novamente, a política macroeconômica não é minha maior preocupação sobre o que poderá acontecer se Trump retornar ao poder. Mas definitivamente é uma preocupação. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Opinião por Paul Krugman

Vencedor do Prêmio Nobel de Economia, é colunista do New York Times.

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