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Análise|Trump está mais forte do que nunca depois da vitória na Superterça

Ex-presidente ocupa hoje, sem dúvida, uma posição de comando político mais forte na política americana do que em qualquer outro momento nos últimos oito anos

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Por Ross Douthat

THE NEW YORK TIMES - Há cerca de 18 meses, Donald Trump sofreu uma de suas piores derrotas políticas, quando muitos de seus leais candidatos ao Congresso, escolhidos a dedo por ele, foram derrotados em uma eleição legislativa de meio de mandato que claramente favorecia os republicanos. Muitas pessoas - eu era uma delas - pensaram que esse poderia ser o começo do fim para Trump, um indicador claro de fraqueza política que encorajaria os eleitores do Partido Republicano a abandoná-lo ou prepará-lo para uma derrota decisiva nas eleições gerais.

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Em vez disso, Trump ocupa hoje, sem dúvida, uma posição de comando político mais forte na política americana do que em qualquer outro momento nos últimos oito anos. Sua vitória na Superterça, na noite passada, completa a repetição das primárias republicanas de 2016, com a oposição a ele dividida e sua coalizão, desta vez, muito mais forte desde o início.

Embora o apoio residual a Nikki Haley indique algum descontentamento persistente, as pesquisas que importam mostram Trump vencendo consistentemente o presidente Joe Biden - uma demonstração de força que vai além de qualquer coisa que ele tenha conseguido em um momento semelhante em suas duas candidaturas presidenciais anteriores.

O ex-presidente dos EUA e candidato à Casa Branca novamente pelo Partido Republicano, Donald Trump Foto: Win McNamee/Getty Images via AFP

Como passamos da derrota e da aparente fraqueza para a recuperação e a força? Comece com o resultado político mais importante das decepções republicanas em 2022, que não foi o golpe temporário para Trump, mas o breve retorno do encanto dos eleitores com Biden, adiando qualquer esforço dentro da coalizão liberal para tratar da questão de sua idade em 2024.

Naquele momento, ficar ao lado de Biden não significava apenas que os democratas estavam presos a uma aparente decrepitude presidencial para acompanhar um histórico econômico impopular. Significou também que o argumento entre os republicanos sobre a inelegibilidade de Trump, que por um breve período foi potente o suficiente para elevar Ron DeSantis nas pesquisas, naufragou rapidamente. A cada nova pesquisa que mostrava Biden em dificuldades, ficava cada vez mais difícil para DeSantis, e depois para Haley, convencer os eleitores que gostavam de Trump de que era hora de virar a página.

Assim, ao salvar Biden, as eleições de meio de mandato ajudaram a ressuscitar Trump. O mesmo aconteceu com o retorno da guerrilha jurídica liberal, que ficou em suspenso durante os dois primeiros anos de Biden, mas voltou com força total na série de acusações, processos judiciais e tentativas de remover Trump da votação presidencial.

Há uma frustração liberal compreensível depois de todas as tentativas de derrotar o trumpismo e ele se manter uma espécie de força política imbatível, mesmo com a quantidade de derrotas contundentes que ele e seus aliados sofreram nas urnas. Mas há um padrão claro: não se pode esperar derrotar Trump, exceto nas urnas - porque todas as tentativas de investigação, impeachment e processo simplesmente não têm o efeito político desejado.

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Obviamente, Trump é corrupto, e alguns dos processos contra ele têm mérito. Mas, com muita frequência, essas tentativas acabam manchadas por intenções puramente partidárias, sejam elas assumidas por vigaristas liberais como Michael Avenatti [advogado que representou a atriz pornô Stormy Daniels em sua batalha legal contra o ex-presidente Donald Trump e foi condenado a 14 anos de prisão na Califórnia, por fraude], ou simplesmente perseguidas com uma mistura de exagero, incompetência e desejo de influenciar o voto.

Foi o que aconteceu no ano passado. Os promotores poderiam ter apresentado uma única acusação contra o ex-presidente, no caso dos documentos confidenciais. Em vez disso, apresentaram quatro - a primeira (o caso de Nova York) completamente partidária e rebuscada e as outras duas exigindo teorias jurídicas novas ou exageradamente criativas para serem bem-sucedidas. E agora uma das promotoras, Fani Willis, da Geórgia, recapitulou o arco de Avenatti, pois sua perseguição a Trump expôs suas próprias vulnerabilidades éticas.

Enquanto isso, também tivemos a estranha onda de entusiasmo por uma solução mágica da 14ª Emenda para o problema de Trump, sua remoção das urnas por meio de um oficialismo estatal ou imposição judicial. Em termos de batalha jurídica, esse foi o pior dos mundos: o esforço foi antidemocrático e incompetente ao mesmo tempo, escancarando um medo liberal especial de Trump (impulsionando-o entre seus principais apoiadores) e um medo geral da elite em relação aos eleitores (e, em consequência, alienando os eleitores indecisos), ao mesmo tempo em que levou a uma repreensão totalmente previsível e unânime de 9 a 0 da Suprema Corte.

Portanto, Trump cresceu por ter tido sorte, mais uma vez, com seus rivais e inimigos. Mas ele também subiu ao fazer algo um pouco mais incomum: ceder os holofotes e mostrar um pouco - apenas um pouco - de disciplina política real.

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Ele se recusou a ser levado ao palco do debate das primárias, seja por Haley, Chris Christie ou seu ex-vice-presidente. Mike Pence.

Ele está com profissionais políticos de certa forma normais administrando sua campanha. Ele manteve seus discursos mais bizarros confinados ao estranho micromundo de sua rede social, o Truth Social, em vez de fazer um retorno triunfante a uma plataforma de mídia social maior. Ele fez menos comícios, ganhou menos manchetes com seus insultos e se afastou de algumas brigas que poderiam ter durado semanas no passado. (Por exemplo, quando uma provocação ao marido de Haley, que estava servindo no exterior, foi mal recebida na Carolina do Sul, Trump praticamente abandonou a retórica de sua campanha).

Apoiadores de Trump aguardam para assistir o discurso do candidato após vitórias na Superterça Foto: Rebecca Blackwell/AP

Esse não é exatamente um “novo Trump”: seus discursos em comícios ainda são desconexos e recheados de queixumes, e basta dar uma olhada no Truth Social para ver suas velhas manias em ação. Pode ser que ele pareça mais contido porque está sendo contido, a contragosto, por forças mais fortes do que seu ego, desde o avanço da idade até as exigências de todos esses julgamentos e questões legais.

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Mas, independentemente de haver uma estratégia real ou não, sua posição atual claramente justifica a regra da era Trump de que quanto mais discreto ele for, melhor ele vai nas pesquisas. Uma campanha cautelosa de líder e um calendário lotado de datas em tribunais foram muito melhores para sua posição política do que um calendário lotado de comícios e um retorno às postagens constantes na plataforma de mídia social de Elon Musk.

Essa é a única parte do renascimento trumpiano que, na minha opinião, deve dar à campanha de Biden algum grau de conforto para a corrida presidencial. Em geral, a Casa Branca parece estar em um tipo perigoso de negação sobre sua posição lamentável, tentando afastar a mensagem clara das médias das pesquisas. Mas se Trump prospera ao receber menos atenção, uma campanha para as eleições gerais vai fornecer muito mais lembretes de seu caos e sua inaptidão aos eleitores que simplesmente não estão prestando muita atenção agora.

Ou, pelo menos, isso é o que se espera de uma campanha normal para as eleições gerais, com um candidato democrata pronto para enfrentar Trump e colocar holofotes em suas reclamações e divagações. Mas ainda não sabemos se Biden pode realmente desempenhar esse papel. Se ele não puder, então a peculiar recuperação de Trump, a maneira como ele parece ter se aproximado da indicação de seu partido e da liderança nas eleições gerais, pode se estender até a restauração em novembro.

* Ross Douthat é colunista de opinião do The Times desde 2009. Ele é o autor de “The Deep Places: A Memoir of Illness and Discovery”.

Análise por Ross Douthat

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