WASHINGTON - Em linha com seu antecessor, o presidente americano Donald Trump se afastou nesta terça-feira, 18, da promessa de campanha de suspender o acordo de restrição nuclear com o Irã, ao anunciar que manterá o tratado e o alívio das sanções previsto no pacto, ao menos por enquanto. A decisão positiva era amplamente esperada, já que Washington não quer se arriscar a dar as costas aos demais signatários.
Além disso, em junho, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) - órgão da ONU que monitora a aplicação do "Joint Comprehensive Plan of Action" (JCPOA) - parabenizou o Irã pelo respeito aos compromissos adquiridos. Sob os termos do acordo, firmado há dois anos, Teerã reduziu a produção de material nuclear em troca da suspensão de diversas sanções econômicas.
Na segunda-feira, o governo Trump admitiu que Teerã "cumpre as condições" do texto. Desde que o pacto entrou em vigor, no dia 16 de janeiro de 2016, o Executivo americano deve "certificá-lo" a cada 90 dias no Congresso, ou seja, confirmar que Teerã respeita os termos estabelecidos. Na véspera, venceu mais um prazo imposto pelo Congresso ao Executivo para informar se o Irã deteve seu programa de armas nucleares.
O governo Trump "certificou" esse acordo pela primeira vez em abril. Em maio, o presidente republicano já havia dado continuidade à política de seu antecessor, Barack Obama, no que diz respeito à suspensão das sanções vinculadas ao programa nuclear. Na sequência, porém, o Executivo lançou uma revisão de seu posicionamento.
O texto foi firmado no dia 14 de julho de 2015, em Viena, pelo Irã e pelas principais potências mundiais (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha). O acordo foi visto em Washington como uma forma de evitar uma ação militar para impedir que o Irã obtivesse armas nucleares.
Não aliviou, porém, as tensões entre Teerã e Washington. Ambos continuam em lados opostos em conflitos no Oriente Médio, como na Síria e no Iêmen. Durante a campanha eleitoral, Trump denunciou o pacto nuclear e prometeu renegociá-lo, sendo mais duro com o Irã.
Sanções
Desde que assumiu o governo, Trump já declarou - em duas ocasiões - que o Irã cumpre o tratado, observando efetivamente o que foi acertado. A Casa Branca tem-se esforçado para deixar claro, contudo, que não será branda com o Irã, sugerindo que pode adotar novas sanções não relacionadas à questão nuclear, além de prometer uma aplicação mais estrita do acordo.
"Esperamos implementar novas sanções relacionadas ao programa de mísseis balísticos e de embarcações rápidas" do Irã, afirmou a Casa Branca. "O Irã permanece como uma das ameaças mais perigosas para os interesses dos EUA e para a estabilidade regional", acrescentou.
Entre as principais preocupações do governo figuram a melhoria das capacidades de mísseis do Irã, o apoio ao governo sírio, os abusos contra os direitos humanos e a detenção de americanos.
"O presidente e o secretário de Estado julgam que estas atividades iranianas minam gravemente a intenção (do acordo), que era contribuir para a paz e a segurança regional e internacional", declarou um funcionário. "Como resultado, o presidente, o secretário de Estado e toda administração avaliam que, indiscutivelmente, o Irã está em falta com o espírito" do acordo.
Para o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, que passou na segunda-feira pela sede da ONU em Nova York, o governo Trump envia sinais contraditórios" sobre a vontade dos EUA de respeitar esse acordo a longo prazo.
Nesta terça-feira, o Parlamento iraniano começou a estudar uma lei para reforçar o programa balístico e a Força Qods, dos Guardiães da Revolução, para lutar contra as ações "terroristas" de Washington. Trata-se das forças de elite do Exército encarregadas das operações no exterior, principalmente na Síria.
"A mensagem é clara e os americanos devem entender isso. O que estão fazendo se dirige contra o povo iraniano, e o Parlamento resistirá com todas as suas forças", garantiu o presidente da Assembleia, Ali Larijani. / AFP
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