No dia seguinte aos ataques iranianos contra bases usadas por tropas americanas no Iraque, Donald Trump preferiu evitar uma escalada no conflito e optou por mais sanções econômicas ao Irã. No primeiro pronunciamento após o ataque, nesta quarta-feira, 8, o presidente americano disse que está pronto para “abraçar a paz” e garantiu que prefere a pressão diplomática à opção militar.
Em pronunciamento na Casa Branca, Trump comemorou o fato de os mísseis iranianos não terem deixado vítimas e anunciou novas sanções econômicas ao Irã – mas não detalhou quais. Dentro do governo americano, cresce cada vez mais a certeza de que Teerã lançou um ataque moldado para seu público interno, buscando causar o mínimo possível de efeitos colaterais.
A leitura da diplomacia americana é que a retaliação iraniana ofereceu uma saída honrosa para ambos os lados. Assim, Trump ficou à vontade para cantar vitória. “Nenhum americano foi ameaçado pelos bombardeios na noite passada”, disse o presidente, que prometeu “sanções poderosas” e afirmou que o regime iraniano parece estar “se acalmando”. “O que é uma coisa boa para todos os envolvidos e uma coisa boa para o mundo.”
De acordo com militares iraquianos, o Irã lançou, na noite de terça-feira, 22 mísseis contra duas bases que abrigam boa parte dos 5,2 mil soldados americanos no Iraque: Ain al-Assad e Irbil. Os ataques foram uma resposta iraniana à morte do general Qassim Suleimani, assassinado por um drone americano na semana passada.
Ao lado do presidente, durante o pronunciamento na Casa Branca, estavam o vice-presidente, Mike Pence, e os secretários de Defesa e de Estado, Mark Esper e Mike Pompeo.
Hoje, assessores da Casa Branca diziam nos bastidores que o comando militar americano soube dos ataques do Irã com antecedência. Os serviços de inteligência dos EUA foram alertados pelos iraquianos – quer por sua vez teriam sido informados pelos próprios iranianos.
O porta-voz do primeiro-ministro do Iraque, Adel Abdul Mahdi, confirmou que o premiê recebeu um aviso prévio de Teerã. O alerta permitiu que as tropas dos EUA fossem colocadas em locais fortificados e seguros dentro das bases no Iraque.
Em Teerã, o governo iraniano, celebrou os ataques. Em pronunciamento na TV, o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, disse que o lançamento de mísseis contra bases que abrigam tropas americanas no Iraque foi “um tapa na cara” dos EUA. O chanceler do Irã, Mohamed Javad Zarif, disse que seu país “concluiu medidas proporcionais de autodefesa” – o uso do termo “concluiu” teria sido recebido com alívio em Washington.
“Ficaria muito surpreso se o Irã tentasse algum ataque direto aos EUA, porque eles sabem que Trump ordenaria uma rápida retaliação”, afirmou Will Todman, analista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), de Washington.
“Estabeleceu-se que Trump irá reagir quando há baixas dos EUA, mas não quando outros incidentes acontecerem. Estamos essencialmente de volta à situação que estávamos antes da morte de Suleimani. Os atos de agressão podem continuar, só há menos chance de que atinjam americanos”, afirma Todman.
Reunião de cúpula
Na terça-feira, 7, na sequência do ataque, Trump se fechou com a alta cúpula do governo americano na Casa Branca para discutir a estratégia.
“Enquanto eu for presidente, o Irã não será autorizado a ter uma arma nuclear. Bom dia”, começou Trump. Trump cobrou lideranças europeias a abandonarem o acordo nuclear assinado durante o governo Obama e partirem para uma nova negociação.
Os EUA saíram do acordo já sob a liderança de Trump, em 2018. “O Irã precisa abandonar sua ambição nuclear a apoio ao terrorismo. O tempo chegou para que Reino Unido, Alemanha, França e China reconheçam essa realidade. Precisamos trabalhar para chegar a um acordo com Irã que torne o mundo um lugar mais seguro”, disse Trump.
O americano afirmou que vai pedir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para “se envolver cada vez mais” no processo de paz no Oriente Médio.
Ao dizer que o Irã tem patrocinado o terrorismo e perseguido o armamento nuclear, Trump enalteceu a ação que matou Suleimani e definiu o general como um líder que cometeu “as piores atrocidades”. “Ele estava recentemente planejando novos ataques, mas o paramos. Ele deveria ter sido eliminado há muito tempo”, disse Trump.
O governo americano afirma que Suleimani representava uma ameaça iminente contra os EUA, justificativa usada para ordenar o ataque que matou o general.
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