O presidente Donald Trump defendeu na quinta-feira, dia 22, o pagamento de bônus a professores que carreguem armas e disse que as escolas têm de ser tão bem protegidas quanto os bancos. “Para um matador ou alguém que quer ser um matador, entrar em uma zona livre de armas é como ir comprar sorvete”, afirmou o presidente durante encontro com representantes dos Estados. Na quarta-feira ele defendeu “dar armas aos professores” como forma de impedir ataques em massa nas escolas americanas.
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Presidente da Federação Americana de Professores, que tem 1,7 milhão de associados, Rand Weingarten disse que a proposta é uma “das piores ideias” que ouviu em meio a uma “série de ideias muito ruins”. A presidente da Associação Nacional de Professores, Lily Eskelsen García, também rejeitou a sugestão. “Educadores precisam estar focados em educar nossos estudantes.”
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Além de propor o aumento do número de armas nas escolas, Trump se declarou a favor da elevação da idade mínima para compra de rifles e fuzis de 18 para 21 anos. A medida é a primeira defendida pelo presidente que contraria claramente a posição da Associação Nacional do Rifle (NRA), o poderoso lobby pró-armas dos EUA.
A entidade sustenta que o aumento da idade viola direitos constitucionais de autodefesa de cidadãos. Apesar de poderem adquirir fuzis em alguns Estados, menores de 21 anos são proibidos de comprar bebidas alcoólicas em todo o país. O atirador que matou 17 pessoas em uma escola na Flórida, na semana passada, tem 19 anos e comprou um AR-15 legalmente.
A regulamentação do funcionamento das instituições de ensino é responsabilidade dos Estados americanos. Em oito deles, não há proibição específica para o porte de armas dentro de escolas primárias e secundárias, segundo o Centro Legal para Prevenção da Violência com Armas.
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Trump ressaltou que não é a favor de armar os professores de maneira indiscriminada, mas sim aqueles que tenham experiência. Ele estimou que entre 10% e 40% dos educadores seriam qualificados para andar armados. “Eles poderiam receber um pequeno bônus”, disse Trump, que prometeu financiar parte do treinamento. “Quero minhas escolas protegidas tanto quanto os meus bancos.”
Pesquisa Washington Post-ABC News, divulgada na quarta-feira, mostrou que 51% dos americanos acreditam que professores armados não teriam evitado o massacre na Flórida. A medida foi considerada potencial mente efetiva por 42% dos entrevistados. Controles mais estritos no acesso a armas foram defendidos por 58%, enquanto 77% apontaram para o tratamento de problemas mentais como a medida mais eficaz para evitar ataques a tiros.
Os EUA têm 3,1 milhões de professores primários e secundários, segundo o Departamento de Educação. Se 10% forem armados, isso significará entregar armas para 310 mil profissionais. No caso de 20%, o número subiria a 620 mil, quase metade dos militares da ativa. Além disso, há outros 400 mil educadores em escolas particulares.
Sobreviventes do massacre na Flórida rejeitam a ideia de armar professores e defendem que o problema seja enfrentado com o endurecimento das leis que regulam o comércio de armamento. Entre outras medidas, eles propõem a proibição da venda de fuzis de estilo militar e de cartuchos de munição com mais de dez balas.
Campanha de arrecadação de fundos iniciada pelos alunos para financiar seu movimento tinha obtido até quinta-feira, 22, US$ 3,5 milhões, mais que o triplo da meta inicial de US$ 1 milhão. Entre os maiores contribuintes estão celebridades de Hollywood, como George Clooney, Oprah Winfrey, Steven Spielberg e o produtor Jeffrey Katzenberg. Cada um deles doou US$ 500 mil.
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