O presidente Donald Trump minimizou na terça-feira, 25, o envio de mensagens de texto sobre planos sensíveis para um ataque militar contra os hutis do Iêmen este mês, em um grupo de bate-papo no qual havia um jornalista. Ele afirmou que esse foi “o único erro em dois meses” de seu governo, enquanto legisladores democratas criticaram duramente o tratamento descuidado de informações altamente sigilosas.
Trump disse à NBC News que o deslize “acabou não sendo grave” e reafirmou seu apoio ao assessor de segurança nacional, Mike Waltz. Segundo um artigo publicado pela revista The Atlantic na segunda-feira, Waltz aparentemente adicionou por engano o diretor editorial da publicação, Jeffrey Goldberg, ao chat no qual estavam 18 altos funcionários do governo discutindo os planos para um ataque.

“Michael Waltz aprendeu uma lição, e ele é um bom homem”, disse Trump. Ele também pareceu culpar um colaborador não identificado de Waltz por ter incluído Goldberg no grupo. “Foi um dos funcionários de Michael no telefone. Um membro da equipe incluiu o número dele lá.”
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No entanto, o uso do aplicativo de mensagens Signal para discutir uma operação sensível gerou críticas contundentes de legisladores democratas, que manifestaram indignação com a insistência da Casa Branca e de altos funcionários do governo de que nenhuma informação confidencial foi compartilhada. Os principais funcionários do governo não conseguiram explicar por que uma aplicação de acesso público foi usada para tratar de um assunto tão delicado.
Primeiros comentários públicos de Waltz
Waltz disse na terça-feira que não sabia como Goldberg acabou no chat. “A ele, em particular, nunca o conheci, não o conheço e nunca me comuniquei com ele”, declarou Waltz.
Mais tarde, no programa The Ingraham Angle, da Fox News, Waltz afirmou que ele mesmo criou o grupo de bate-papo e que especialistas técnicos da Casa Branca estavam investigando como o contato de Goldberg foi integrado.
“Cometemos um erro. Vamos seguir em frente”, disse Waltz, acrescentando que assumia “toda a responsabilidade” pelo episódio.
Trump, por sua vez, manteve seus ataques contra The Atlantic e Goldberg e enviou mensagens contraditórias sobre se seu governo mudaria a forma como compartilha informações sensíveis no futuro.
“Não usaremos muito [o Signal] no futuro”, disse Trump. “Esse é um dos preços que se paga quando não se está na Sala de Gerenciamento de Crises, sem telefones, o que, sinceramente, sempre é o melhor.”
Ele acrescentou: “Se dependesse de mim, todos estariam juntos em uma sala. A sala teria paredes de chumbo sólido, um teto de chumbo e um piso de chumbo.”
A diretora de Inteligência Nacional Tulsi Gabbard, que, segundo relatos, estava no chat do Signal, reconheceu na terça-feira, durante uma audiência na Comissão de Inteligência do Senado, que estava em viagem ao exterior no momento do incidente. Ela não revelou se estava usando um telefone pessoal ou um dispositivo fornecido pelo governo, pois o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca está revisando o caso.
Democrata classifica o erro como “uma vergonha”
Gabbard e o diretor da CIA, John Ratcliffe, que também participou do chat do Signal e testemunhou na terça-feira, enfrentaram duras críticas dos legisladores.
“Diretor Ratcliffe, esse foi um erro grave, correto?”, perguntou o senador Jon Ossoff, democrata da Geórgia. Após uma breve pausa, Ratcliffe balançou a cabeça. “Não”, respondeu ele. Ratcliffe tentou interromper enquanto Ossoff fazia uma pergunta subsequente, levando ambos a falarem ao mesmo tempo.
“Isso é uma vergonha”, disse o senador. “É completamente antiético. Não houve pedido de desculpas. Não houve reconhecimento da gravidade desse erro.”
Antes de sua vitória eleitoral em 2016 sobre a democrata Hillary Clinton, Trump pediu que a ex-secretária de Estado fosse processada por se comunicar sobre informações confidenciais com seus assessores por meio de um servidor de e-mail privado que ela havia configurado. O caso foi investigado, mas o FBI recomendou que nenhuma acusação fosse apresentada, o que foi acatado.
Clinton foi uma das democratas que criticou esta semana o uso do Signal por funcionários do governo. “Isso só pode ser uma piada”, escreveu Clinton em uma publicação na rede social X, destacando o artigo da The Atlantic e incluindo um emoji de olhos revirados.
Trump também enfrentou acusações por mau uso de informações confidenciais em sua propriedade de Mar-a-Lago após seu primeiro mandato na Casa Branca. No entanto, essas acusações foram posteriormente retiradas.
Governo diz que os democratas não deveriam estar indignados
Na terça-feira, os principais funcionários da presidência insistiram que a indignação democrata era exagerada. Ratcliffe e Gabbard disseram aos legisladores que a cadeia de mensagens não incluía informações confidenciais sobre os planos de ataque dos Estados Unidos.
Mas The Atlantic informou que as mensagens continham detalhes precisos sobre pacotes de armas, alvos e cronogramas, embora a revista não tenha publicado esses detalhes.
Ao ser questionada sobre se essas informações deveriam ser confidenciais, Gabbard evitou responder diretamente. “Deixo essa questão para o secretário de Defesa e o Conselho de Segurança Nacional”, afirmou.
Em um debate com legisladores, Ratcliffe disse que o secretário de Defesa, Pete Hegseth, tem autoridade para decidir se a informação no chat era confidencial.
Hegseth evitou responder perguntas sobre se as informações divulgadas no Signal eram sigilosas. Na noite de terça-feira, do Havaí, ele repetiu quase palavra por palavra sua declaração do dia anterior: “Ninguém está enviando planos de guerra, e isso é tudo o que tenho a dizer sobre o assunto.”
Os democratas contestaram, dizendo que o vazamento de planos militares demonstrava uma negligência gritante em termos de segurança, mas Ratcliffe insistiu que nenhuma regra foi violada.
Investigação
Em resposta a questionamentos do senador democrata Ron Wyden, do Oregon, Gabbard e Ratcliffe disseram que participarão de uma auditoria para investigar o uso do Signal por funcionários do governo.
Wyden afirmou que o caso deve ser investigado. “Acredito que deveriam haver renúncias”, disse ele.
O diretor do FBI, Kash Patel, que compareceu à audiência com Ratcliffe e Gabbard, afirmou que só recentemente foi informado sobre o incidente no chat do Signal e que não tem atualizações sobre se o FBI iniciou uma investigação. Warner pediu uma atualização até o final do dia.
A Casa Branca divulgou um comunicado na terça-feira classificando a controvérsia como um “esforço coordenado para desviar a atenção das ações bem-sucedidas do presidente Trump e de seu governo para punir os inimigos dos Estados Unidos e manter os americanos seguros.”
A segurança do Signal
O Signal é um aplicativo que permite mensagens diretas, bate-papos em grupo e chamadas de áudio e vídeo. Ele usa criptografia de ponta a ponta, impedindo que terceiros vejam ou escutem as comunicações. Seu protocolo de criptografia é de código aberto e também é utilizado pelo WhatsApp, da Meta.
Vários funcionários do governo já usaram o Signal para correspondência organizacional, incluindo o agendamento de reuniões sensíveis.
O senador Angus King, independente do Maine, questionou Ratcliffe e Gabbard sobre a alegação de que nenhuma informação classificada foi incluída no chat. “Me custa acreditar que os alvos, o momento e o armamento não fossem confidenciais”, enfatizou.