Nenhum lugar nos Estados Unidos teve condados historicamente democratas mudando tão drasticamente na direção do ex-presidente Donald Trump como nas comunidades do Texas ao longo do Rio Grande, onde os residentes hispânicos compõem maioria esmagadora. Nas eleições recentes, a mistura da região de centros urbanos expandidos e áreas rurais que eram redutos democratas por gerações começou a se tornar vermelha, cor do Partido Republicano. Na terça-feira, 5, Trump trouxe o sul do Texas firmemente para o seu lado, conquistando 12 dos 14 condados ao longo da fronteira com o México, e fazendo avanços significativos até mesmo em El Paso, a maior cidade dessa região. Em 2016, Trump havia vencido em apenas cinco.
O apoio a Trump ao longo da fronteira do Texas é o exemplo mais marcante do amplo abraço nacional ao candidato republicano entre eleitores hispânicos e da classe trabalhadora. Essa mudança ocorreu em comunidades rurais, bem como em grandes cidades, como Miami, e em partes de Nova York e Nova Jersey.
Mas o Texas se destacou. Oito dos dez principais condados democratas que mais se inclinaram para Trump na terça-feira estavam na fronteira do estado ou a uma curta distância.
Uma das maiores mudanças ocorreu no condado de Starr, uma área rural com 65 mil habitantes pontilhada por pequenas cidades onde trechos do muro na fronteira estavam sendo construídos. Lá, a renda é baixa, e muitos viajam longas distâncias para trabalhar nos campos de petróleo do oeste do Texas.
A região se virou para o lado republicano nesta eleição, apoiando Trump por cerca de 16 pontos percentuais. Ele havia perdido ali para Hillary Clinton por 60 pontos em 2016.
Preocupações com a inflação e o grande número de travessias de fronteira não autorizadas nos últimos anos dominaram a campanha no condado. Na cidade fronteiriça de Roma, eleitores que apoiaram Trump disseram que o fizeram principalmente por motivos práticos e por preocupação com a imigração descontrolada.
Fabiola Rodriguez, 28, mãe solo de dois filhos, disse que ir ao supermercado se tornou uma experiência dolorosa. Quando Trump era presidente, ela disse que conseguia encher o carrinho de compras por cerca de US$ 250 (cerca de R$ 1.400). Agora, ela gasta US$ 300 (R$ 1.700), e a quantidade de produtos não chega à metade do que era antes. “Não levo meus filhos ao mercado porque sei que não poderei comprar o que eles querem.”
Ela também temia que a vice-presidente Kamala Harris fosse hostil à indústria de petróleo e gás, que atrai muitos trabalhadores de lugares como Roma. Ela culpou as políticas da administração de Joe Biden em apoio à energia renovável pelos cortes nas horas de trabalho de seu pai e de seu irmão nos campos de petróleo.
Funcionário do condado de Starr, Eloy Vera, um democrata, disse que havia um amplo sentimento entre os moradores de que o partido não apoiava a indústria de petróleo e gás. “Nossos jovens pensaram, caramba, eles vão acabar com nossos empregos.”
Rodrigo Burberg, 32, engenheiro de software de Brownsville, apoiou os democratas em disputas locais, mas permaneceu indeciso sobre a corrida presidencial até algumas semanas atrás. Ele acabou votando em Trump.
“Nunca ouvi Kamala dar uma resposta definitiva sobre nada”, disse Burberg. “Os democratas estão dizendo que a economia está realmente forte. Mas na verdade, as métricas não refletem o que as pessoas estão sentindo. Quem se importa com o PIB se tudo é gasto na Ucrânia?”
Trump conquistou sete condados ao sul de San Antonio, incluindo Maverick, onde venceu por 19 pontos após perder por 56 em 2016 e 9 em 2020. Ele também venceu em áreas urbanas como Cameron e Webb.
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Guinada republicana
A guinada à direita dos eleitores hispânicos no sul do Texas surpreendeu os democratas em 2020, quando Trump ganhou apoio significativo. Apesar dos esforços intensificados para mobilizar eleitores democratas no vale do Rio Grande neste ciclo eleitoral, a tendência não foi revertida.
“Os republicanos construíram uma marca em torno das pessoas que trabalham nas plataformas de petróleo, famílias que estavam lutando para pagar mantimentos”, disse Michael Mireles, da Lupe Votes, organização política progressista do sul do Texas. “Parece bobo, mas falar consistentemente sobre o preço dos ovos é algo que as pessoas podem lembrar.”
Gary Groves, republicano de McAllen, observou um aumento no apoio a Trump após as eleições de 2020, organizando caravanas de carros e caminhões com bandeiras. Inicialmente com poucos veículos, os eventos cresceram para até 150 ou 200 carros à medida que o dia da eleição se aproximava.
“O que aconteceu foi um terremoto”, disse Groves, 69, sobre a eleição de terça-feira. E, acrescentou, o partido ainda tem espaço para crescer localmente. “A maioria dos republicanos aqui embaixo não tem ‘Republicano’ em seus cartazes de campanha”, disse ele. “Espero que isso mude.”
Ele compartilhou um vídeo de um de seus encontros no qual uma mulher reclamava que seu marido, um imigrante latino que recentemente se tornara cidadão, não conseguia mais um emprego na construção porque os empreiteiros locais estavam contratando apenas imigrantes que estavam no país sem autorização, geralmente trabalhando por salários mais baixos.
Republicanos têm focado eleitores hispânicos conservadores, alinhando valores com o partido. O governador do Texas, Greg Abbott, iniciou sua campanha de reeleição de 2022 no vale do Rio Grande, reduzindo margens democratas. A campanha do senador Ted Cruz investiu em anúncios em espanhol, abordando temas como apoio a transgêneros. Ele venceu Colin Allred por quase 9 pontos, mas não superou Trump no sul do Texas.
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