NASHVILLE, TENNESSEE - O presidente Donald Trump e seu rival democrata, Joe Biden, se encontram nesta quinta feira, 22, às 22h, pelo horário de Brasília, no palco de debates pela segunda e última vez no Tennessee. A reunião de 90 minutos no horário nobre acontece apenas 12 dias antes da eleição, em 3 de novembro.
O primeiro debate, considerado um dos mais caóticos da história moderna, foi marcado por interrupções frequentes, principalmente de Trump, com rispidez verbal dos dois lados e com Biden dizendo ao presidente para "calar a boca".
Um segundo debate planejado não aconteceu depois que o presidente americano foi diagnosticado com o coronavírus e se recusou a participar de um formato virtual. Biden e Trump, em vez disso, participaram de entrevistas em forma de audiência pública, com pergutnas da plateia, em redes de televisão concorrentes.
Aqui estão algumas questões principais que entram no debate:
Trump pode mudar a trajetória da corrida?
Trump não pode se permitir um debate sobre o status quo. As pesquisas nacionais mostram que ele perdeu para Biden e, embora algumas pesquisas estaduais principais sejam mais apertadas, os próprios aliados de Trump estão preocupados com a perspectiva de uma derrota séria.
Este debate representa sua melhor, e talvez a última, oportunidade de mudar os contornos da corrida enquanto dezenas de milhões de americanos assistem.
O presidente prejudicou suas chances no primeiro debate no mês passado, quando sua abordagem de atacar o tempo todo saiu pela culatra. Trump perdeu outra oportunidade quando se recusou a participar do segundo debate depois que os organizadores decidiram que os candidatos se enfrentariam virtualmente por causa de preocupações sobre a infecção do presidente por coronavírus.
Trump precisa encontrar uma maneira de mudar o foco do debate de sua gestão para um governo de Biden. Mas, para fazer isso, ele precisa evitar se tornar o centro das atenções, algo que não é natural para o presidente.
Cortar o microfone manterá as coisas civilizadas?
Depois que os telespectadores do último debate presidencial lamentaram a incapacidade do moderador de cortar os microfones dos candidatos, a apartidária Comissão de Debates Presidenciais respondeu com um anúncio esta semana que o microfone de cada candidato será desligado enquanto seu oponente dá uma resposta de dois minutos a uma pergunta inicial sobre cada tópico do debate.
O impacto pode ser exagerado. O restante de cada bloco de 15 minutos será uma discussão aberta, sem qualquer silenciamento, diz a comissão.
A mudança garantirá que os candidatos tenham pelo menos algum tempo para responder às perguntas sem interferências. Em última análise, no entanto, o botão mudo só pode ser usado por um total combinado de 24 minutos de debate de 90 minutos. É tempo de sobra para os candidatos se agredirem verbalmente.
Trump tem uma resposta melhor para a pandemia?
Quer queira quer não, o presidente terá de falar longamente sobre o coronavírus. E ele tem que dar uma resposta melhor do que durante o primeiro debate para convencer os eleitores indecisos de que ele tem a situação sob controle.
Não vai ser fácil.
As infecções por coronavírus estão atingindo seus níveis mais altos em meses. Mais de 220.000 americanos morreram. E em vez de trabalhar em um plano abrangente para impedir a propagação com base na ciência, Trump passou os últimos dias atacando o especialista em doenças infecciosas mais respeitado do país, Dr. Anthony Fauci, enquanto minava a recomendação de seu próprio governo de usar máscaras.
No primeiro debate, Trump apontou sua decisão de meses atrás de instituir uma proibição parcial de viagens à China como prova de que estava fazendo um bom trabalho.
Ele também destacou estatísticas cuidadosamente selecionadas que minimizaram a extensão da crise. Ele terá que vir com algo melhor do que isso se quiser convencer alguém, exceto sua base mais leal, de que ele não se rendeu completamente à pior crise de saúde dos EUA em um século.
Desde o último debate, Trump foi diagnosticado e hospitalizado pela covid-19. O republicano se referiu ao vírus e sua própria infecção em termos positivos, retomou a realização de grandes comícios de campanha.
Biden, que retratou a resposta do governo Trump como um fracasso, adotou uma abordagem muito mais cautelosa. Ele regularmente usa uma máscara, realiza pequenos eventos de campanha presencial.
Como Biden lidará com os ataques contra o seu filho?
Trump e seus aliados na mídia conservadora aumentaram seu foco nas acusações contra Hunter, filho de Biden, nos últimos dias. A equipe de Biden espera que Trump faça dessas alegações uma peça central de sua estratégia de debate.
O presidente tentou levantar uma questão no primeiro debate sobre Hunter Biden e seu uso de drogas, que o filho mais jovem de Biden reconheceu publicamente. Mas Biden declarou que estava orgulhoso de seu filho, que, como muitos americanos, lutou para superar um vício.
Trump acredita que tem mais munição desta vez, no entanto, após a publicação de uma reportagem de um tablóide sobre o suposto tráfico de influência de Hunter Biden no exterior. A reportagem se concentra em dados supostamente recuperados do laptop de Hunter Biden, embora os dados não tenham sido verificados e, se forem legítimos, não vinculam Joe Biden a qualquer tipo de corrupção.
A equipe de Biden considera o problema uma distração de preocupações muito mais urgentes - ou seja, a pandemia e a economia - mas Biden certamente terá que defender a si mesmo e sua família novamente na noite de quinta-feira.
Como o tema racial entrará em discussão?
Após um segundo trimestre marcado por protestos em todo o país por causa da injustiça racial, Trump repetidamente se retratou como um maior defensor dos negros americanos do que Biden, enquanto enfatizava o tema de lei e ordem.
Mas durante o último debate, Trump deu uma resposta relutante quando questionado se ele condenaria os supremacistas brancos, e ele se recusou a condenar abertamente um grupo fascista de extrema direita.
Biden, que frequentemente reconhece o racismo sistêmico, acusou o presidente de encorajar um aumento da supremacia branca e milícias armadas e cita os comentários de Trump de que havia "gente muito boa" em ambos os lados de um comício de supremacistas brancos em 2017 em Charlottesville, Virgínia.
O candidato democrata deve continuar batendo nesses temas enquanto Trump considera Biden o responsável por ajudar a mandar milhões de negros americanos para a prisão com uma lei criminal de 1994, quando Biden era senador.
Como os temas de segurança nacional e imigração farão parte da discussão?
Trump deve continuar promovendo suas políticas America First, que tiraram os EUA de acordos multilaterais que ele afirma não serem do interesse do país. Ele também deve destacar a construção de mais de 320 quilômetros de seu muro prometido ao longo da fronteira EUA-México e recentemente negociou acordos para normalizar as relações entre Bahrein e os Emirados Árabes Unidos e Israel.
Biden acusou o presidente de se distanciar de antigos aliados dos EUA. Ele deve se concentrar nos esforços de Trump para manter um relacionamento com a Rússia de Vladimir Putin, apesar dos avisos das agências de inteligência dos EUA de que a Rússia interferiu na eleição presidencial dos EUA de 2016 e das alegações de que a Rússia ofereceu recompensas secretas pelas mortes de americanos no Afeganistão.
A imigração não está entre os tópicos esperados durante o debate, mas Biden pode levantar a questão na sequência de uma reportagem desta semana que diz que advogados não conseguiram encontrar os pais de 545 crianças separadas na fronteira entre EUA e México no início da administração Trump. Biden criticou repetidamente as políticas de imigração de Trump, algo que Trump teve destaque em sua campanha de 2016.
Biden pode evitar jogar dentro da narrativa do Partido Republicano?
O maior inimigo de Biden na noite de quinta-feira pode ser ele mesmo.
Trump tem lutado para encontrar uma linha de ataque eficaz contra o democrata de 77 anos, mas o político tem um histórico bem estabelecido de gafes que o tornou alvo de piadas republicanas por anos.
Trump, de 74 anos, e seus aliados passaram grande parte do ano questionando a saúde física e mental de Biden. Aindaque Biden tenha silenciado essas questões com um desempenho sólido no primeiro debate, elas não desapareceram. Ele precisa evitar quaisquer erros embaraçosos no palco que afetariam a narrativa republicana mais ampla de que ele está mal equipado para liderar o mundo.
Biden certamente estará preparado. Ele passou quatro dos últimos cinco dias sem eventos públicos para que pudesse se concentrar quase exclusivamente na preparação do debate.
Ainda assim, a história de tropeços autoimpostos de Biden levanta a possibilidade distinta de que ele poderia prejudicar sua campanha, com ou sem a ajuda de Trump. Não ajuda Biden que as expectativas serão maiores após o fraco desempenho de Trump no primeiro debate.
Moderador e formato
O debate será moderado pela correspondente da NBC News na Casa Branca Kristen Welker. Welker será a primeira mulher negra a servir como moderadora de um debate presidencial desde Carole Simpson em 1992.
O debate será dividido em seis segmentos de 15 minutos, cada um sobre um tópico selecionado por Welker: “Combate à covid-19,” famílias americanas, raça nos EUA, mudança climática, segurança nacional e liderança.
Trump e Biden terão seu microfone cortado, enquanto o adversário dá uma resposta inicial de dois minutos para cada um dos seis tópicos do debate, anunciou a comissão. O botão mudo não aparecerá na parte de discussão aberta do debate.
Onde assistir ao debate americano?
O debate de 90 minutos começa às 22h, pelo horário de Brasília, e será acompanhado ao vivo pelo Estadão, com comentários de analistas, a partir das 21 horas desta quinta-feira. O streaming do debate, em inglês, também estará disponível no Estadão.
Também haverá transmissão pelos principais canais de televisão americanos. No Brasil, a CNN Brasil fará a transmissão ao vivo, além do YouTube, Facebook e Twitter a partir das 21h./AP
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