Trumpista busca bolsonaristas para inflar rede social

Jason Miller, que lançou a Gettr para competir com as grandes plataformas, ficará uma semana no Brasil; Trump ainda não aderiu 

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Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla e Correspondente

WASHINGTON - Desde que Donald Trump foi banido do Facebook, Twitter e Youtube após incitar a violência no dia do ataque ao Capitólio, ele sugere que criará sua própria rede social para restabelecer o canal direto com seu eleitorado. Ex-assessor de Trump, Jason Miller lançou uma plataforma para competir com as já existentes. Mas Trump ainda não quis criar um perfil na rede do antigo aliado, que agora mira o Brasil como um dos principais mercados para a nova plataforma.

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O mote do Gettr é ser um espaço contra a cultura do cancelamento. Na prática, é uma reação de aliados de Trump às remoções de conteúdo feitas pelas plataformas de redes sociais a conteúdos falsos, teorias conspiratórias – especialmente sobre o combate à pandemia – e à incitação à violência.

Até agora, o brasileiro Jair Bolsonaro foi o único presidente no cargo a criar um perfil na rede. Os filhos Flávio e Eduardo Bolsonaro também fizeram contas na plataforma. 

Trump cumprimenta Bolsonaro em Assembléia-Geral da da ONU, em Nova York. Foto: Alan Santos/PR - 24/9/2019

Sem Trump, a plataforma deixou de ser vista nos EUA como o espaço para os seguidores do ex-presidente se reconectarem com ele. Agora, Miller busca entre os bolsonaristas adeptos para sua rede. 

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Em busca dos brasileiros, Miller embarca para o País no dia 22. Ficará uma semana entre São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro e pode se reunir com um dos filhos de Bolsonaro. 

O americano será acompanhado por Gerald Brant, um brasileiro-americano responsável por unir a família Bolsonaro a Steve Bannon, ex-estrategista de Trump e agitador de movimentos populistas de direita. 

Bannon, por sua vez, tem auxiliado Miller nos bastidores com a plataforma. O site Politico revelou que a rede social existiu por anos como uma plataforma chinesa ligada ao bilionário chinês Guo Wengui, sócio de Bannon.

“Temos mais de 250 mil brasileiros na plataforma. É nosso segundo maior mercado, atrás apenas dos EUA. O Brasil tem cerca de 15% dos usuários – os EUA respondem por 45%”, afirmou Miller ao Estadão. “Há muita gente apaixonada, especialmente próximas do presidente Bolsonaro”, diz o americano. “Vamos fazer um esforço de marketing robusto no Brasil”, afirma.

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Como parte da estratégia, Miller contratou uma assessoria de imprensa no Brasil. O release disparado a jornalistas sugere a leitura de publicação sobre o Gettr no tabloide americano New York Post, que apoiou Trump durante seu governo. Não há menção a outras reportagens já publicadas na imprensa americana, no entanto, que apontam inconsistências e limitações do Gettr, como o possível financiamento pelo bilionário chinês e o hackeamento da plataforma. Na semana passada, sites americanos reportaram que o Gettr estava sendo inundado por propaganda terrorista divulgada por apoiadores do Estado Islâmico.

Com 1,7 milhão de usuários, a rede está muito distante do alcance de Facebook, Youtube e Twitter, por exemplo. Só o Facebook tem quase 3 bilhões de usuários ativos, sendo 130 milhões brasileiros.

“Estamos falando ainda de um número muito restrito de usuários”, diz Caio Machado, advogado e especialista em tecnologia e proteção de dados, diretor do Instituto Vero. “O Gettr é, por natureza, uma plataforma homogênea, com um público restrito. O valor das plataformas está atrelado à capacidade de atrair gente. O Facebook vale muito porque lá o usuário tem acesso a todos os seus amigos e potenciais amigos. Como no Gettr, estamos falando de um público específico, limitado, é difícil a plataforma se diversificar e atrair usuários”, afirma. 

A rede, explica Machado, estará sujeita como qualquer outra a sanções no judiciário a depender do conteúdo veiculado. “A responsabilização na justiça, por um dano, exige cooperação da plataforma. Se ela recusar, o Judiciário ganha o poder de tomar medidas contra a plataforma, inclusive de bloquear o serviço no Brasil”, afirma Machado. “Assim que começa a surgir uma teoria da conspiração, muito rapidamente pessoas ou instituições se incomodam e a plataforma é acionada, podendo sofrer sanções jurídicas”, diz o especialista. 

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