Truques de mágica de Maduro não resolvem a crise econômica

Única chance da Venezuela é uma reforma real, que nunca será feita enquanto o presidente ocupar o cargo

PUBLICIDADE

Por The Economist
Atualização:

Nicolás Maduro qualificou o plano de “fórmula mágica realmente espetacular”. Seu “pacotaço vermelho” cria uma nova moeda com um corte de cinco zeros do bolívar, que já não valia nada, eleva o preço do combustível e aumenta em mais de 3.000% o salário mínimo. Esqueça a mágica. A fórmula do presidente, mesmo que um pouco realista, provavelmente fracassará e não salvará os venezuelanos de sua agonia econômica.

Maduro exibe a nota de 500 bolívares soberanos, a mais alta do novo sistema monetário da Venezuela Foto: Miraflores Palace/Handout via REUTERS

PUBLICIDADE

A Venezuela tem a economia com o pior desempenho no mundo entre os países que não estão em guerra. O Produto Interno Bruto (PIB) teve uma queda de mais de um terço, entre 2013 e 2017. A inflação deve superar a casa de 1.000.000% este ano, segundo o FMI. Um país com as maiores reservas de petróleo do mundo não tem condições de importar alimentos e remédios.

A escassez de água e os apagões são constantes nas cidades. Mais de 2 milhões de venezuelanos fugiram, inquietando os países vizinhos. Maduro afirma que a culpa é das potências “imperialistas” como os EUA, que travam uma guerra econômica contra a Venezuela. Na verdade, a catástrofe foi causada pelo socialismo insano introduzido por Hugo Chávez, ao qual Maduro deu continuação após a morte de Chávez, em 2013. 

Expropriações e controles de preços destruíram empresas privadas e contraíram a produção. A corrupção arruinou o Estado. A má gestão da estatal PDVSA resultou na queda para a metade da produção de petróleo desde 2014. Do mesmo modo que o regime asfixiou a democracia, manipulando as eleições e governando sem consultar o Legislativo controlado pela oposição, ele estrangulou a economia.

Finalmente, Maduro reconheceu a necessidade de mudanças. Admitiu pela primeira vez que a hiperinflação foi causada pela emissão descontrolada de moeda para financiar o déficit orçamentário, que deve ultrapassar 30% do PIB este ano, segundo o FMI. Ao reduzir os subsídios para o combustível e elevar as tarifas, sua meta é zerar o déficit. Seu pacotaço desvalorizou a moeda, da taxa oficial de 250.000 bolívares para US$ 1 – disponível para alguns poucos privilegiados – para a taxa de mercado de 6 milhões.

Publicidade

Petro

Maduro criou um plano destinado ao fracasso. O novo bolívar soberano está atrelado ao petro, uma nova unidade monetária lastreada nas reservas de petróleo. Mas, como ninguém sabe como o petro funcionará e nada vincula a nova moeda a ela, a indexação inspira pouca confiança. Na prática, o regime ainda pode imprimir quantos bolívares desejar. A promessa de eliminar o déficit está comprometida por uma recente isenção fiscal para o setor petrolífero e a elevação do salário mínimo. A conta dos salários para o funcionalismo público vai inflar, provocando mais inflação e desestimulando a produção.

Com outra pessoa na chefia do governo, a Venezuela poderia ter uma chance. Um presidente competente utilizaria partes da terapia adotada por Maduro, como a desvalorização da moeda, e acrescentaria novas medidas. As empresas seriam liberadas dos controles de preço e teriam mais segurança legal. 

O bolívar seria emitido por um Banco Central realmente independente ou talvez substituído pelo dólar. A Venezuela conseguiria ter credibilidade externa e apoio financeiro negociando um acordo de ajuste com o FMI e iniciaria negociações sérias para reestruturar sua dívida externa.

Tudo isso necessitaria da cooperação da oposição e da comunidade internacional. É difícil imaginar que qualquer dessas hipóteses se torne realidade enquanto Maduro ocupar a presidência. A Venezuela precisa de uma reforma real, não de truques de mágica. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Publicidade

© 2018 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.