BRASÍLIA — A ministra Cármen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou em nota que a Corte não irá mais enviar técnicos do tribunal para acompanhar as eleições da Venezuela, marcadas para o próximo domingo. Durante comício na terça-feira, 23, Maduro disse, sem provas, que os boletins de urna no Brasil não são auditáveis.
“Em face de falsas declarações contra as urnas eletrônicas brasileiras, que, ao contrário do que afirmado por autoridades venezuelanas, são auditáveis e seguras, o Tribunal Superior Eleitoral não enviará técnicos para atender convite feito pela Comissão Nacional Eleitoral daquele país para acompanhar o pleito do próximo domingo”, diz a nota.
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No próximo domingo, 28, acontecem as eleições venezuelanas, nas quais Maduro, candidato do chavismo governante, terá como principal rival Edmundo González Urrutia. Maduro, que busca um terceiro mandato, acusa a oposição de armar um plano para denunciar fraude e gerar violência nas ruas. Mas foi a sua reeleição, em 2018, que foi contestada pela oposição devido a alegações de fraude, assim como pelos Estados Unidos e pela União Europeia e a maioria dos países da América Latina. Além disso, o processo eleitoral deste ano tem sido marcado por inabilitações e prisões de opositores.
“Temos o melhor sistema eleitoral do mundo. Tem 16 auditorias e se fazem auditorias em tempo real em 54% das mesas. Em que outra parte do mundo fazem isso? Nos EUA?”, questionou Maduro durante um comício na noite de terça-feira, 23. “No Brasil? Não auditam nenhuma ata no Brasil. Na Colômbia? Não auditam nenhuma ata. Na Venezuela auditamos em tempo real, nas mesas, 54%”, disse.
Ao contrário do que disse Nicolás Maduro, no Brasil, a Justiça Eleitoral é responsável pela auditoria das urnas.
O comunicado do TSE ainda afirma que a Justiça Eleitoral brasileira não admite que, interna ou externamente, por declarações ou atos desrespeitosos à lisura do processo eleitoral brasileiro, se desqualifiquem com mentiras a seriedade e a integridade das eleições e das urnas eletrônicas no Brasil.
Também reiterou que é falsa a informação de que as urnas eletrônicas brasileiras não sejam auditadas. “São auditáveis e auditadas permanentemente, são seguras, como se mostra historicamente. Nunca se conseguiu demonstrar qualquer equívoco ou instabilidade em seu funcionamento”.
Rusgas entre Maduro e Lula
Maduro tem se voltado contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu antigo aliado, após o petista criticar a condução do processo eleitoral venezuelano. Durante um discurso em um dos atos de sua campanha à reeleição na semana passada, Maduro afirmou que haveria um “banho de sangue” e uma “guerra civil fraticida” caso não ganhe as eleições.
Lula reagiu, na segunda-feira, 22, à declaração, instando seu homólogo venezuelano a respeitar o processo eleitoral. “Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue”, disse o presidente.
“Maduro sabe que a única chance que a Venezuela tem de retornar a normalidade é ter um processo eleitoral que seja respeitado por todos. Ele precisa respeitar este processo”, ponderou Lula.
A fala de Lula foi a segunda crítica direta ao seu aliado. Em março, o governo criticou Maduro por não permitir a inscrição da opositora Corina Yoris para disputar a eleição. O impedimento continua sem justificativa até hoje.
As falas de Lula não passaram batidas por Maduro, que disse na terça-feira, 23, sem mencionar explicitamente o presidente brasileiro, que quem ficou assustado deveria “tomar um chá de camomila”.
“Que tome um chá de camomila”, disse Maduro. “Eu não disse mentiras. Apenas fiz uma reflexão. Quem se assustou que tome um chá de camomila”, afirmou Maduro. “Eu prevejo para aqueles que se assustaram que na Venezuela teremos uma maior vitória eleitoral da história”, insistiu o venezuelano.
Argentina de fora
Também nesta quarta-feira, o ex-presidente argentino Alberto Fernández disse que o governo da Venezuela lhe pediu que não viajasse mais ao país para atuar como observador das eleições, porque tinha “dúvidas sobre [sua] imparcialidade”.
“A razão que me foi dada é que, a juízo daquele governo, declarações públicas realizadas por mim a um veículo nacional causavam incômodo e geravam dúvidas sobre minha imparcialidade. Entenderam que a coincidência com o que havia expressado um dia antes o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, gerava uma espécie de desestabilização do processo eleitoral”, acrescentou.
O ex-mandatário peronista pediu ontem que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, aceite os resultados das eleições. “Se for derrotado, o que deve fazer é aceitar, como disse Lula: quem ganha, ganha, e quem perde, perde”, declarou à emissora Radio Con Vos.
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