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Turquia derubou caça russo para proteger tráfico de petróleo do EI, afirma Putin

Presidente russo acusou Ancara de envolvimento econômico com membros do grupo jihadista Estado Islâmico; presidente turco disse que renunciaria se Moscou provasse as alegações

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MOSCOU - O presidente russo, Vladimir Putin, acusou Ancara de ter derrubado na segunda-feira da semana passada um caça-bombardeiro russo Su-24russo perto da fronteira com a Síria para proteger o tráfico de petróleo do grupo Estado Islâmico (EI).

Uma semana após o incidente, Putin se recusou a encontrar o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, à margem da Conferência do Clima da ONU, a COP-21, que acontece no centro de convenções Le Bourget, no norte de Paris.

Putin acusou a Turquia de derrubar caça para proteger tráfico de petróleo do EI Foto: REUTERS/Mikhail Klimentyev/Sputnik/Kremlin

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"Temos todas as razões para acreditar em que a decisão de abater o nosso avião foi ditada pelo desejo de proteger as rotas de circulação do petróleo para o território turco", afirmou Putin, durante uma coletiva de imprensa na noite de segunda-feira à margem da COP-21.

"Recebemos informações complementares que, infelizmente, confirmam que esse petróleo, produzido em zonas controladas pelo EI e por outras organizações terroristas, é encaminhado maciçamente, de maneira industrial, para a Turquia".

"E a defesa dos turcomanos é apenas uma desculpa", acrescentou Putin, em relação com essa minoria síria que Ancara qualifica de "irmãos étnicos" e que a aviação russa teria bombardeado em várias ocasiões, segundo fontes turcas e ocidentais.

Por sua vez, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, prometeu hoje mesmo que renunciaria se a acusação de Putin fosse comprovada.

"Não é moral acusar a Turquia de comprar petróleo do EI. Se há documentos, deveriam mostrá-los, que os vejamos. Se for demonstrado, eu não ficarei no cargo. E pergunto ao senhor Putin: O senhor ficará em seu cargo?", declarou Erdogan à imprensa em Paris.

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Na semana passada, Moscou já havia acusado Ancara de "proteger" os jihadistas do EI e de acobertar o contrabando de petróleo, uma das principais fontes de financiamento do grupo. Antes do incidente com o avião, na Cúpula do G20 na cidade turca de Antalya, Putin havia mostrado imagens de satélite de comboios fretados pelos jihadistas que supostamente transportavam petróleo em direção à Turquia.

Segundo o presidente russo, a maioria de seus interlocutores, no âmbito da conferência de Paris, concordou com que não era "necessário" que as autoridades turcas derrubassem o avião russo, que "não ameaçava a Turquia".

Putin lembrou que os pilotos russos inscreveram em suas bombas frases como "Por nosso povo" e "Por Paris", referindo-se ao avião de transporte russo atingido no Egito em 31 de outubro e os atentados de 13 de novembro na França.

"E esse bombardeiro (com essas inscrições) foi derrubado pela Aviação turca. De que coalizão se pode falar nessas condições?", questionou. "Sempre defenderemos (a ideia de uma coalizão ampliada), mas nunca vamos conseguir isso se alguns utilizam grupos terroristas para seus interesses políticos a curto prazo", insistiu Putin.

A ideia de uma coalizão única com o objetivo de eliminar o EI na Síria foi proposta por Putin e pelo presidente francês, François Hollande, mas sua integração se choca com as divergências sobre o futuro do presidente sírio, Bashar Assad. Além disso, a grave crise nas relações entre Moscou e Ancara afeta o futuro do projeto no momento.

"Ouvimos da parte turca que o presidente não tomou tal decisão, que a decisão foi tomada por outros. Para nós isso não é importante. O importante é que como resultado de uma ação criminosa morreram dois de nossos soldados. Foi um grande erro", assinalou o líder russo.

Putin lembrou também que há muito tempo Moscou e Ancara têm diferenças na luta contra o terrorismo, em alusão ao fato de que a Turquia supostamente acoberta membros de grupos terroristas do Cáucaso Norte russo.

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O presidente russo lamentou a brusca piora das relações com a Turquia, o quinto parceiro comercial da Rússia, contra quem ordenou a imposição de sanções no terreno econômico, comercial, turístico e na área de investimentos. / AFP e EFE

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