ADIYAMAN, TURQUIA - Com a raiva crescendo na Turquia neste sábado, 11, pela resposta lenta do governo ao terremoto devastador de segunda-feira atingindo o que os críticos dizem ser construções de má qualidade, o governo de Recep Tayyip Erdogan começou a deter empreiteiros em todo o país que culpou por alguns dos colapsos que ajudaram a levar o número de mortos para mais de 28 mil.
Mais de 100 pessoas foram detidas nas 10 províncias afetadas pelo terremoto, informou a agência de notícias estatal Anadolu no sábado, quando o Ministério da Justiça turco ordenou que as autoridades nessas províncias estabelecessem Unidades de Investigação de Crimes de Terremoto. Também os orientou a nomear promotores para apresentar acusações criminais contra todos os “construtores e responsáveis” pelo colapso de edifícios que não cumpriram os códigos existentes, que foram implementados após um desastre semelhante em 1999.
As prisões foram os primeiros passos do Estado turco para identificar e punir as pessoas que podem ter contribuído para a morte de seus concidadãos no terremoto. Em toda a zona do terremoto, os moradores expressaram indignação com o que disseram ser construtores corruptos que cortam custos para aumentar seus lucros e com a concessão de “anistias” do governo aos construtores que levantaram complexos de apartamentos que não cumpriram os novos códigos.
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No Bairro de Saraykint, em Antakya, os moradores apontaram um acabamento de má qualidade em um prédio de luxo recém-construído de 14 andares, com cerca de 90 apartamentos, que desabou sobre si mesmo. “O concreto é como areia”, disse um homem que se recusou a dar seu nome, parado perto do prédio enquanto observava o trabalho dos socorristas. “Foi construído muito rapidamente.”
Entre os detidos no sábado estava Mehmet Ertan Akay, o construtor de um complexo que desabou na cidade de Gaziantep, fortemente atingida, acusado de homicídio involuntário e violação da lei de construção pública, informou uma agência de notícias turca. A promotoria de Gaziantep disse que emitiu a ordem de detenção após inspecionar as evidências coletadas nos escombros do complexo que ele havia construído.
Mehmet Yasar Coskun, o construtor de um prédio de 12 andares na Província de Hatay com 250 apartamentos que foi completamente destruído, foi detido na sexta-feira em um aeroporto de Istambul enquanto tentava embarcar em um voo para Montenegro. Acredita-se que dezenas de pessoas tenham morrido quando o prédio desabou.
Dois construtores de um prédio de 14 andares que desabou em Adana, que fugiram da Turquia imediatamente após o terremoto, foram detidos no norte do Chipre, de acordo com a administração do norte do Chipre controlada pela Turquia.
Resposta lenta
O presidente Erdogan, visitando a província de Diyarbakir no sábado, defendeu as ações do governo, dizendo que este terremoto foi “três vezes maior e mais destrutivo do que o terremoto de 1999, o maior desastre na memória recente de nosso país”. Embora reconheça que a resposta oficial tem sido lenta, ele disse que o país não estava preparado para um terremoto desta magnitude.
Erdogan, que enfrenta uma dura batalha eleitoral em maio, pediu união, dizendo: “Infelizmente, alguns partidos políticos, ONGs, ainda procuram atacar imoralmente, descaradamente”. Ele prometeu retribuição aos saqueadores e disse que todas as universidades turcas mudariam para o aprendizado online para que os sobreviventes pudessem viver por enquanto em dormitórios estatais.
Embora a Turquia tenha códigos de construção implantados após o terremoto de 1999, os moradores disseram que muitas vezes eles não foram aplicados porque os empreiteiros podem ganhar mais dinheiro ao cortar custos: misturando o concreto e usando barras de metal mais baratas para fortalecer os pilares, entre outras coisas.
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Mesut Koparal, um negociante de automóveis cuja mãe foi morta no terremoto, ficou furioso com o Estado por não fazer mais para garantir que os edifícios fossem bem construídos.
Na cidade de Adiyaman, a via principal parecia um canteiro de obras que se espalha, quarteirão após quarteirão. Mas, em vez de erguer prédios, equipes de trabalhadores, guindastes e escavadeiras estavam cavando os escombros daqueles que desabaram. Moradores disseram que as equipes de resgate e a ajuda demoraram a chegar.
Vítimas
O número de mortes no terremoto na Turquia e na Síria passou neste sábado de 28 mil. Martin Griffiths, coordenador de emergência da ONU, disse que o total, porém, pode ser duas vezes maior. “É assustador. Esta é a natureza revidando de forma dura. É profundamente chocante a ideia de que montanhas de escombros ainda esteja sobre pessoas vivas”, afirmou Griffiths em entrevista à Sky News. “Nós realmente ainda nem começamos a contar o número de mortos.”
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De acordo com ele, o período de 72 horas após um desastre é crucial para os resgates, Mesmo passado esse prazo, porém, muitos sobreviventes ainda estão sendo retirados dos escombros.
“Deve ser muito difícil decidir quando interromper a fase de resgate”, afirmou o coordenador da ONU, que visitou a Província de Kahramanmaras, na Turquia, e descreveu o terremoto como “o evento mais grave na região nos últimos 100 anos”.
Urgência
A situação na Síria e na Turquia é grave, segundo a ONU. Pelo menos 870 mil pessoas precisam urgentemente de alimentos nos dois países. Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a comunidade internacional deveria colocar a política de lado e enviar ajuda humanitária à Síria, que sofre sanções econômicas e ainda vive uma guerra civil de mais de uma década.
Diante da devastação, começaram a surgir neste sábado os primeiros relatos de saques a mercados, principalmente na Turquia. A preocupação é tão grande que Erdogan ameaçou punir com rigor os saqueadores.
A segurança na zona afetada pelo terremoto entrou em foco neste sábado depois que equipes da Alemanha e da Áustria suspenderam suas operações de resgate em Hatay, na Turquia, alegando “uma situação de segurança cada vez mais difícil”.
“Nas últimas horas, a situação de segurança na Província de Hatay aparentemente mudou”, disse o porta-voz das equipes de resgate da Alemanha, Stefan Heine. “Há cada vez mais relatos de confrontos entre diferentes facções e de tiros sendo disparados.” /AP, AFP E NYT