As autoridades ucranianas advertiram os civis do leste da Ucrânia que os próximos dias representarão a “última chance” de fugir da região, antes que a Rússia inicie uma grande ofensiva na região. “Os próximos dias são, talvez, a última oportunidade de fugir”, afirmou no Facebook o governador Sergui Gaidai, ao informar que os russos “estão cortando todas as vias possíveis de saída”.
“Não hesitem em partir”, insistiu, depois de escrever no aplicativo Telegram que as autoridades “não permitirão uma segunda Mariupol”, em referência à cidade portuária do sul da Ucrânia, cercada e destruída pelo exército russo desde o fim de fevereiro.
A situação nas cidades de Roubijne e Popasna, que ficam na região de Lugansk, leste do país, “piora”, afirmou o governador. “As retiradas são complicadas e não há um hospital da região que esteja intacto”.
“Vamos levar as pessoas em ônibus até o último dia, até que os russos iniciem a ofensiva”, disse.
As autoridades ucranianas pedem aos habitantes desta região do país que abandonem a área o mais rápido possível, porque no caso de uma grande ofensiva militar russa, os civis “ficarão expostos à morte”.
A Rússia afirmou que está reorganizando as tropas para concentrar seus esforços na “libertação” do Donbass, a região do leste da Ucrânia onde separatistas pró-Moscou enfrentam as forças militares da Ucrânia desde 2014.
Segundo a vice-primeira-ministra ucraniana, Irina Vereshchuk, autoridades ucranianas e russas concordaram em estabelecer 10 rotas de evacuação de civis de Donetsk, Luhansk e da região de Zaporizhzhia. Ela disse que os moradores poderão buscar segurança nas cidades de Zaporizhzhia, no sudeste da Ucrânia, e Bakhmut, no leste.
A região já registrou ataques nos últimos dias. O governador de Donetsk, Pavlo Kirilenko, disse que pelo menos cinco civis foram mortos e outros oito ficaram feridos por bombardeios russos nesta quarta-feira, 6.
Reforço militar
As autoridades também pedem que o Ocidente envie armas para reforçar o exército ucraniano. “Minha agenda é muito simples... são armas, armas e armas”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, ao chegar à sede da Otan nesta quinta-feira, 7, para conversar com chanceleres da organização militar.
“Quanto mais armas obtivermos e quanto mais cedo elas chegarem à Ucrânia, mais vidas humanas serão salvas”, continuou.
Algumas nações da Otan temem que possam ser o próximo alvo da Rússia, mas a aliança se esforça para evitar ações que possam levar qualquer um de seus 30 membros diretamente para a guerra. Ainda assim, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, pediu aos países membros que enviem mais armas à Ucrânia, e não apenas armas defensivas.
“A Ucrânia está travando uma guerra defensiva, então essa distinção entre armas ofensivas e defensivas não tem nenhum significado real”, disse Soltenberg.
Os países ocidentais forneceram à Ucrânia armas antitanque e antiaéreas portáteis, mas relutaram em fornecer aeronaves, tanques ou qualquer equipamento que as tropas ucranianas teriam que ser treinadas para usar.
Questionado sobre o que mais seu país estava procurando, Kuleba listou aviões, mísseis terrestres, veículos blindados e sistemas de defesa aérea.
O foco de Moscou em Donbas
Desde que Moscou anunciou há mais de uma semana que planejava concentrar suas forças no leste, um número crescente de tropas de Putin, juntamente com mercenários, foram vistas em direção a Donbas, onde separatistas apoiados pela Rússia lutaram contra forças ucranianas por oito anos e controlar duas áreas.
Antes de sua invasão em 24 de fevereiro, Moscou reconheceu as áreas de Luhansk e Donetsk como estados independentes. Analistas militares disseram que Putin também pode estar tentando expandir o território controlado pelo governo.
A região de Donbas, na fronteira com a Rússia, representa cerca de 9% do território ucraniano. Grande parte de seus moradores sentem há muito tempo tanta conexão com a Rússia quanto com o resto da Ucrânia.
Depois que a Rússia invadiu e anexou a Crimeia em 2014 - uma região próxima à Donbas -, separatistas apoiados por Moscou em Donbas iniciaram sua própria guerra civil contra o governo da Ucrânia. Os separatistas proclamaram a formação de duas repúblicas separatistas, e os combates continuaram esporadicamente nos últimos oito anos. No mês passado, Putin reconheceu ambas as repúblicas.
Se concentrar em Donbass tem múltiplas vantagens para a Rússia. Nas últimas semanas, as tropas já fizeram progressos na tomada de território na região. Além disso, o país pode manter esse território sem as longas e expostas linhas de suprimentos que a Ucrânia atacou com sucesso em outros lugares.
Uma batalha sobre Donbas também dá à Rússia a oportunidade de cercar e destruir uma grande parte das forças armadas da Ucrânia. Mais de um terço de todas as tropas ucranianas podem estar na região, lutando contra os separatistas e os militares russos.
A Rússia parece estar prestes a criar tal cerco em torno dessas tropas ucranianas, vindas tanto do leste quanto do sul. Especialistas se referem a esse progresso russo como uma “ponte terrestre” da Crimeia à Donbas.
A cidade de Mariupol, no sul de Donbas, faz parte dessa história. Putin e seus estrategistas militares atacam a cidade portuária tão brutalmente porque é a maior cidade, na potencial ponte de terra, que eles ainda não controlam. Outro fator é o importante porto de Mariupol.
Nos últimos dias, ataques foram feitos às cidades de Mikolaiv, Dnipropetrovsk e Luhansk, no sul e no leste da Ucrânia, contra depósitos de combustíveis que serviam para abastecer as forças ucranianas. As três cidades ficam localizadas na região de Donbas. /AFP, AP, NYT
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