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Ucrânia avança sobre Kherson para tentar impor a Putin seu maior revés na guerra

Apesar da desconfiança com o anúncio de retirada das tropas de Moscou, autoridades ucranianas dizem ter retomado vilarejos estratégicos da região; EUA aumentam ajuda militar

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Por Redação
Atualização:

KIEV - Um dia depois que as tropas russas receberam ordens para sair de Kherson, no sul da Ucrânia, as tropas de Kiev recapturaram 12 vilarejos a caminho da cidade. Apesar de ser o mais significativo recuo da Rússia desde o início do conflito, as Forças Armadas ucranianas consideram a hipótese de se tratar de uma armadilha prévia a um contra-ataque. Kherson é um importante ativo estratégico para a Rússia, por ligar a Crimeia ao Rio Dnieper e à região de Odessa. Sua retomada, caso confirmada, seria um duro revés para os planos de Vladimir Putin na guerra.

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Na última quarta-feira, 9, o ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, ordenou a retirada das forças russas da margem oeste do Rio Dnieper em Kherson, mas não ficou claro quantos dos cerca de 40 mil soldados de Moscou ainda permanecem na região, o quão longe já estavam em sua retirada e se um contingente havia sido deixado para trás para lutar na cidade. Autoridades ucranianas veem o anúncio como uma possível armadilha destinada a atrair suas forças para um combate urbano, embora reconheçam que uma retirada era necessária após ataques destruírem as rotas de suprimentos da cidade.

Em meio à campanha na região, os Estados Unidos aumentaram a ajuda militar em mais US$ 400 milhões (R$ 2,1 bilhões), incluindo o envio de sistemas de defesa aéreos Avengers, equipados com mísseis Stringer. “Quando estive em Kiev na semana passada, tive a chance de consultar diretamente com o presidente Zelenski sobre o que a Ucrânia precisa para estar na posição mais forte possível no campo de batalha”, disse o conselheiro de segurança dos EUA, Jake Sullivan

O general Valeri Zaluzhni, comandante das forças armadas ucranianas, disse que suas tropas continuaram conduzindo ataques na região de Kherson no dia anterior. Ao todo, as tropas ucranianas já teriam retomado 41 vilarejos na região desde 1º de outubro.

Civis retirados da parte controlada pelos russos da região de Kherson, em um ônibus em uma estação ferroviária local na cidade de Dzhankoi, na Crimeia, em 10 de novembro de 2022 Foto: Alexey Pavlishak/Reuters

Vídeos postados por autoridades ucranianas nas mídias sociais supostamente mostram soldados ucranianos em frente a um tanque e a bandeira amarela e azul de seu país em uma vila recentemente recuperada no sul, embora as imagens não tenham sido verificadas imediatamente de forma independente.

O comando militar sul ucraniano disse em um comunicado nesta quinta que suas forças estavam enfrentando minas e bloqueios de estradas colocados pelas forças russas. Houve explosões em toda a região durante a noite, com os militares ucranianos dizendo que atingiram um posto de comando russo, uma coluna de equipamentos militares e depósitos de munição.

Mikhailo Podoliak, conselheiro sênior do presidente ucraniano Volodmir Zelenski, disse no Twitter que as forças russas colocaram minas em tudo o que podiam na cidade de Kherson, incluindo apartamentos e esgotos. Os ucranianos alertaram há dias que os soldados russos na cidade estavam vestindo roupas civis, se mudando para casas e fortificando posições fora da cidade.

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Arkadiy Dovzhenko, que fugiu de Kherson em junho, disse que seus avós lhe disseram na quinta-feira que “os russos estavam trazendo muitos equipamentos para a cidade e também minerando cada centímetro dele”.

Um militar ucraniano passa por um prédio de um jardim de infância danificado durante um ataque com mísseis russos na vila de Novooleksandrivka, na região de Kherson, Ucrânia 9 de novembro de 2022  Foto: Valentyn Ogirenko/Reuters

Maior revés para Putin

A cidade de Kherson, capital da região de mesmo nome, foi um dos primeiros ganhos da Rússia na guerra, quando capturou a região em 2 de março, poucos dias depois de invadir a Ucrânia. A intenção de Moscou era usar a região como uma ponte terrestre da Rússia até a cidade de Odessa, onde se encontra um dos principais portos do Mar Negro. A ideia não se concretizou nos oito meses de guerra, e uma forte contraofensiva ucraniana no leste e no sul ameaça o controle russo da região há meses.

A retirada seria uma das maiores perdas para os russos, que seriam empurrados para a margem oeste do rio Dnieper e perderiam um dos principais acessos à Crimeia, que a Rússia anexou em 2014.

A perda de Kherson, onde outdoors proclamavam que “a Rússia está aqui para sempre”, seria um dos golpes mais sérios da guerra para o presidente russo, Vladimir Putin. Foi há pouco mais de um mês que ele subiu ao palco na Praça Vermelha em Moscou para declarar Kherson e três outras regiões da Ucrânia parte da nação russa. Sua mudança para anexar ilegalmente partes da Ucrânia foi condenada em todo o mundo.

Recapturar a cidade, cuja população pré-guerra era de 280.000 habitantes, poderia fornecer à Ucrânia uma plataforma de lançamento de suprimentos e tropas para tentar reconquistar outros territórios perdidos no sul, incluindo a Crimeia.

Putin já enfrenta uma forte pressão interna por revezes anteriores de suas forças, que perderam regiões estratégicas do nordeste e do leste da Ucrânia, como Kharkiv e partes do Donbas. O russo ainda não comentou a retirada, mas seus aliados correram para defendê-la como algo difícil, mas necessário.

O analista político pró-Kremlin Serguei Markov descreveu a medida como “a maior perda geopolítica da Rússia desde o colapso da União Soviética” e alertou que “as consequências políticas dessa enorme perda serão realmente grandes”.

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Uma mulher carrega uma criança enquanto civis são retirados da região controlada pelos russos em Kherson  Foto: Alexey Pavlishak/Reuters

Ceticismo

O temor ucraniano, no entanto, é a retirada ser falsa. Analistas militares disseram acreditar que a Rússia tentaria manter posições defensivas perto das margens do Rio Dnieper para proteger sua rota de retirada. Com apenas uma estrada principal sobre uma represa ao norte da cidade deixada para os russos, eles contam com uma série de balsas e pontões para atravessar o rio.

Mas já nesta quinta, as autoridades ucranianas pareceram suavizar o ceticismo. “O inimigo não teve outra escolha a não ser fugir”, disse Zaluzhni, porque o exército de Kiev destruiu os sistemas de abastecimento e interrompeu o comando militar local da Rússia. Ainda assim, ele disse que os militares ucranianos não podem confirmar uma retirada russa.

Alexander Khara, do Centro de Estratégias de Defesa, com sede em Kiev, ecoou essas preocupações, dizendo que continua temeroso de que as forças russas possam destruir uma barragem rio acima de Kherson e inundar as proximidades da cidade. O ex-diplomata ucraniano também alertou sobre armadilhas e outros possíveis perigos que os russos em retirada deixaram para trás. “Eu ficaria surpreso se os russos não tivessem preparado alguma coisa, algumas surpresas para a Ucrânia”, disse Khara.

“Com pontos de passagem limitados, as forças russas estarão vulneráveis ao cruzar o Rio Dnieper”, disse a agência de inteligência de defesa britânica nesta quinta-feira. “É provável que a retirada ocorra ao longo de vários dias com posições defensivas e fogos de artilharia cobrindo as forças em retirada.”

O general Mark Milley, presidente do Estado-Maior Conjunto, disse na quarta-feira que 20 mil a 30 mil soldados russos precisariam ser retirados para o sul e leste do rio, e que a retirada seria lenta se Moscou seguisse adiante. “Não vai levar um dia ou dois”, disse ele. “Isso vai levar dias e talvez até semanas para puxar essas forças para o sul daquele rio.”

Civis são retirados da parte controlada pelos russos da região de Kherson  Foto: Alexey Pavlishak/Reuters

Um morador disse que Kherson estava deserta nesta quinta e que explosões podiam ser ouvidas ao redor da ponte Antonivski – uma importante travessia do rio Dnieper que as forças ucranianas bombardearam repetidamente. “A vida na cidade parece ter parado. Todo mundo desapareceu em algum lugar e ninguém sabe o que vai acontecer a seguir”, disse Konstantin, um morador cujo sobrenome foi omitido por razões de segurança.

Autoridades ucranianas foram cautelosas em outros momentos ao declarar vitórias contra uma força russa que, pelo menos inicialmente, superava em número de armas e em número as forças armadas da Ucrânia. Orisia Lutsevych, chefe do Fórum da Ucrânia no think-tank de assuntos internacionais Chatham House, disse que a reticência explica “por que, até que os ucranianos estejam na cidade, eles não querem declarar que têm o controle”.

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O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak foi igualmente cauteloso ao conversar nesta quinta com o presidente ucraniano Zelenski, e seu gabinete disse que concorda que “é certo continuar a ter cautela até que a bandeira ucraniana seja hasteada sobre a cidade”./AP e NYT

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