A Ucrânia reivindicou, nesta sexta-feira, 17, a conquista de várias posições na margem leste do rio Dnieper, ocupada pelos russos no sul do país, uma operação bem-sucedida após meses de uma contraofensiva com poucos resultados.
“As Forças de Defesa da Ucrânia conduziram uma série de operações bem-sucedidas na margem esquerda do rio Dnieper”, na região de Kherson, anunciou o comando da Marinha ucraniana nas redes sociais. “As tropas da Marinha ucraniana, em cooperação com outras unidades das Forças de Defesa, conseguiram estabelecer várias cabeças de ponte na região”, acrescenta o comunicado, que cita “baixas consideráveis” nas fileiras inimigas.
Cabeça de ponte é um termo militar para a construção de uma posição estratégica do outro lado de um rio ou mar que seja território do seu inimigo. Estas posições militares são ocupadas provisoriamente para permitir avanço das tropas ao território inimigo.
Segundo a nota, mais de 1.000 soldados russos morreram nas operações, uma afirmação que a AFP não conseguiu confirmar com fontes independentes.
O anúncio desta sexta-feira é o primeiro êxito reivindicado pelos ucranianos desde a tomada da localidade de Robotyne, na região sul de Zaporizhzhia, em agosto.
Kiev esperava que a libertação desta cidade permitisse às suas tropas romper as linhas russas e recuperar outras áreas ocupadas, mas o Exército ucraniano ficou atolado diante do poder de fogo das defesas russas.
Ataque em maior escala
Com a tomada de várias posições na margem esquerda do Dnieper, o comando militar ucraniano tem a expectativa de iniciar um ataque maior em direção ao sul. Para isto, no entanto, o país precisa ter a capacidade de mobilizar soldados, veículos e equipamentos em uma área de acesso difícil, repleta de bancos de areia e pântanos.
O chefe do gabinete presidencial ucraniano, Andrii Yermak, informou na terça-feira que as forças de seu país haviam conseguido estabelecer posições na margem esquerda do Dnieper, sem revelar mais detalhes.
A Ucrânia mantém sigilo sobre a dimensão de suas operações em curso, as vitórias e os fracassos. O Kremlin e o Ministério russo da Defesa não comentam as informações.
Um avanço nesta região seria muito importante para as tropas ucranianas, porque a linha de frente está praticamente congelada desde que Kiev conseguiu libertar a cidade de Kherson, capital da região homônima, há um ano.
A frente de batalha da região está delimitada desde então pelo rio Dnieper, com as forças russas ocupando a margem esquerda e as tropas ucranianas controlando a margem direita.
Combates
O governador da parte ocupada pela Rússia da região de Kherson, Vladimir Saldo, admitiu na quarta-feira que dezenas e até centenas de soldados ucranianos haviam conseguido estabelecer posições na margem esquerda do Dnieper, em particular nas proximidades da localidade de Krinki.
Saldo minimizou os avanços, citou o envio de reforços russos e afirmou que as tropas ucranianas estavam enfrentando um “inferno de fogo”.
Kiev deseja evitar o efeito pernicioso do cansaço entre os aliados ocidentais com um conflito que já dura quase dois anos, no momento em que grande parte da atenção mundial está voltada para a guerra entre Israel e grupo terrorista Hamas.
A Ucrânia é muito dependente do fornecimento de armas e munições americanas e europeias. O país está preocupado com o debate em vários países aliados sobre a conveniência de manter ou reduzir o apoio econômico e militar.
Saiba mais
O conflito no Oriente Médio já provocou uma desaceleração nas entregas de equipamentos à Ucrânia, revelou na quinta-feira o presidente Volodimir Zelenski a um pequeno grupo de meios de comunicação, incluindo a AFP. “Nossos suprimentos diminuíram”, disse.
O ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, advertiu esta semana que a União Europeia não terá a capacidade de entregar um milhão de munições à Ucrânia antes da primavera (outono no Brasil), ao contrário da promessa formulada.
O Kremlin afirma que reorientou a economia russa para a produção de armas e munições. O país recrutou quase 400.000 soldados adicionais desde o início do ano./AFP
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