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Ucrânia diz avançar em contraofensiva enquanto Rússia lida com consequências do motim

Vice-ministra da Defesa disse que a ofensiva ucraniana continua nas direções de Melitopol, Berdiansk e Bakhmut, já tendo avançado mais de 1 km, aproveitando a distração de Moscou com lutas internas

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Por Redação
Atualização:

KIEV - Enquanto a Rússia continua a lidar com as consequências após o motim de mercenários do grupo Wagner contra Moscou, a Ucrânia disse estar obtendo avanços em sua contraofensiva, conquistando mais de um quilômetro em três diferentes áreas no leste e no sul do país. Entre os avanços estariam a cidade de Bakhmut, que havia sido conquista por forças Wagner antes da marcha a Moscou no último sábado.

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Segundo a vice-ministra da Defesa ucraniana, Hanna Maliar, as forças ucranianas avançaram 1,3 quilômetro na direção da cidade de Berdiansk, porto do Mar de Azov ocupado pela Rússia. “A operação ofensiva de nossas Forças Armadas continua nas direções de Melitopol, Berdiansk e Bakhmut”, escreveu Maliar em sua conta no Telegram. Os avanços, porém, não puderam ser verificados de forma independente pela mídia ocidental.

Também no sul, Maliar afirmou que as forças de Kiev conseguiram consolidar as posições conquistadas nos últimos dias no eixo Rivnopil-Volodine, onde “infligem graves perdas ao inimigo”. Essas duas cidades estão localizadas na parte sudoeste do Oblast de Donetsk, perto da fronteira administrativa com a vizinha Zaporizhzhia. A partir desta área, as forças ucranianas tentam empurrar as tropas de ocupação russas para o sul.

Militares ucranianos operam um tanque antiaéreo autopropulsado Gepard durante na região de Kiev em 30 de junho de 2023 Foto: Valentyn Ogirenko/Reuters

Segundo Maliar, a Rússia está concentrando um número crescente de tropas na frente sul para deter a ofensiva ucraniana ali. A vice-ministra assegurou que a Rússia desdobrou naquela área uma brigada de fuzileiros navais que esteve na província de Kherson. Em relação à frente oriental, Maliar relatou avanços de 1.200 metros e 1.500 metros, respectivamente, em direção às cidades de Klishchivka e Kurdiumivka, ambas localizadas ao sul de Bakhmut.

Avanço lento

A contraofensiva ucraniana era uma expectativa desde as conquistas russas no território ucraniano, e conforme o Ocidente continuava a enviar armamentos pesados para Kiev. A ofensiva finalmente foi lançada no início deste mês, mas vinha obtendo poucos avanços em comparação com a bem sucedida manobra de meados de 2022 que retomou a cidade de Kharkiv.

Porém, nos últimos dias, as tropas ucranianas receberam um impulso moral por causa da rebelião armada na Rússia que representou a ameaça mais significativa ao poder do presidente Vladimir Putin em mais de duas décadas. Porém, ainda não se sabe como a revolta dos mercenários do Grupo Wagner sob o comando do senhor da guerra russo Ievgeni Prigozhin afeta a trajetória da guerra.

A luta interna é uma grande distração para os líderes militares e políticos da Rússia e uma janela de oportunidade única pra a Ucrânia, mas especialistas dizem que o impacto no campo de batalha até agora parece mínimo.

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Nos últimos quatro dias, a Ucrânia intensificou as operações em torno da cidade de Bakhmut, que as forças de Wagner tomaram após meses de combates intensos e depois entregaram aos soldados russos, que continuam perdendo algum terreno em seu flanco sul. Ao longo da linha de frente, no entanto, a força militar russa permanece inalterada desde a revolta.

Vista aérea de Bakhmut, local das batalhas mais pesadas com as tropas russas na região de Donetsk, em 22 de junho de 2023 Foto: AP

Não está claro onde a Ucrânia tentará avançar decisivamente, mas qualquer sucesso dependerá de brigadas recém-formadas e equipadas com o Ocidente que ainda não foram implantadas. Por enquanto, as posições profundamente fortificadas da Rússia e a relativa superioridade aérea estão retardando o avanço da Ucrânia.

Especialistas militares dizem que é difícil dizer quem tem vantagem: a Rússia está repleta de mão de obra e munição, enquanto a Ucrânia é versátil, equipada com armamento moderno e inteligente no campo de batalha.

Mas faltando apenas quatro meses para a estação lamacenta do outono no Hemisfério Norte, alguns comandantes ucranianos dizem que estão correndo contra o tempo. “Embora as forças ucranianas estejam obtendo ganhos pequenos e constantes, elas ainda não têm a iniciativa operacional, o que significa que não estão ditando o ritmo e os termos de ação”, disse Dylan Lee Lehrke, analista da empresa britânica de inteligência de segurança Janes.

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“Isso levou alguns observadores a afirmar que a contraofensiva não está atendendo às expectativas”, disse Lehrke. Mas nunca se assemelharia à libertação relâmpago da Ucrânia na região leste de Kharkiv no ano passado, disse ele, porque “as forças russas tiveram muito tempo para preparar fortificações”.

Distraídos pelo motim

A Rússia ainda luta com as consequências da rebelião armada em meio a informações conflitantes sobre a suposta prisão do vice-chefe das tropas russas na Ucrânia. Sergei Surovikin, um dos poucos comandantes militares russos elogiados pelo chefe do Grupo Wagner, desapareceu do espaço público desde o último sábado, levantando suspeitas sobre um possível expurgo nas fileiras das Forças Armadas russas.

Veronika Surovíkina, filha do general, garantiu nesta sexta ao conhecido canal Telegram Baza que mantém contato com o pai e “nada aconteceu”. “Todos [os generais] estão em seus empregos”, disse ela. Na noite anterior, o jornal russo The Moscow Times, que citou duas fontes próximas ao Ministério da Defesa russo, afirmou que o general foi preso por supostas ligações com o levante.

O meio investigativo russo Vazhnie Istorii (Histórias Importantes) assegurou hoje, citando suas próprias fontes do Estado-Maior do Exército Russo e dos serviços de segurança, que Surovikin foi interrogado e posteriormente liberado.

O principal comandante militar russo na Ucrânia, general Sergei Surovikin, à esquerda, e o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, ao centro Foto: Gavriil Grigorov/Sputnik/Kremlin via AP

O Kremlin, que na quarta-feira descreveu como especulação as publicações de que os militares sabiam do motim dos mercenários e não o denunciaram, não forneceu clareza sobre o paradeiro do alto comando militar. O porta-voz, Dmitri Peskov, se recusou a comentar sobre a suposta detenção de Surovikin e redirecionou todas as perguntas para a Defesa. O departamento chefiado por Sergei Shoigu ainda não se pronunciou.

Enquanto isso, o presidente russo, Vladimir Putin, lançou uma ofensiva para assumir o controle de Wagner no Oriente Médio e na África, de acordo com o The Wall Street Journal. Putin enviou mensagens à Síria, República Centro-Africana, Mali e outros países para assegurar às suas autoridades que Wagner manterá sua presença, mas a partir de agora por ordem do Kremlin.

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Vershinin, voou para Damasco para se encontrar com o presidente sírio, Bashar al-Assad. A diplomacia russa comunicou-se com o presidente da República Centro-Africana, Faustin Archange Touadéra, cuja guarda pessoal inclui mercenários Wagner, enquanto o Ministério de Situações de Emergência da Rússia enviou uma missão ao Mali.

A luta pelo controle de Wagner pode ter sido um dos gatilhos do levante, sugeriu hoje o chefe do Comitê de Defesa da Duma russa, Andrei Kartapolov. Ele sustentou que a liderança militar russa condicionou o financiamento do grupo e sua participação na guerra da Ucrânia à assinatura de contratos com o ministério, algo que Prigozhin rejeitou categoricamente.

Os wagneritas, forçados a assinar um contrato com a Defesa ou se exilar em Belarus, ainda permanecem em sua base na região oriental de Luhansk, mas não participam mais das hostilidades, disse hoje o chefe da inteligência militar ucraniana, Kirilo Budánov./AP e EFE

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