Autoridades ucranianas e russas deram declarações conflitantes nesta quinta-feira, 7, sobre a situação de Mariupol, cidade portuária no sudeste da Ucrânia que está sob o ataque e o cerco de tropas russas há semanas. Segundo um conselheiro da presidência ucraniana, Alexei Arestovich, as forças ucranianas na cidade continuam resistindo com dificuldades, e a Rússia “renovou os ataques”.
Por outro lado, Eduard Basurin, porta-voz da autodeclarada República Popular de Donetsk, pró-Moscou, afirmou que as forças ucranianas foram retiradas do centro de Mariupol. Ele disse que a maioria dos combates militares chegaram ao fim, mas que há alguns pontos de resistência dentro e ao redor da cidade.
Segundo Basurin, em declarações às televisões russas, cerca de 3 mil soldados ucranianos permanecem perto da usina de aço Azovstal. Ele também afirmou que os combatentes ucranianos conseguem se deslocar pela cidade por passagens subterrâneas.
O Ministério da Defesa do Reino Unido afirmou nesta quarta-feira que “os combates pesados e os ataques aéreos russos continuam na cidade cercada de Mariupol”. Segundo o ministério, 160 mil moradores permanecem na cidade - a maioria sem luz, comunicação, remédios, aquecimento e água.
As condições tornaram impossível que a imprensa internacional verifique de forma independente quantas pessoas permanecem em Mariupol.
O prefeito Vadim Boichenko disse nesta quinta-feira que mais de 100 mil pessoas precisam ser retiradas da cidade. Os esforços para a saída dos civis estão paralisados: desde a sexta-feira passada, 1º de abril, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha tenta chegar a cidade para escoltar os veículos por corredores humanitários, mas não consegue por falta de segurança.
Falando na televisão nacional, Boichenko descreveu a situação na cidade portuária como uma catástrofe humanitária. Já o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, pediu ao parlamento grego nesta quinta-feira que use sua influência para resgatar a população remanescente na cidade, que tem grandes populações étnicas gregas há séculos.
A Câmara Municipal de Mariupol alegou nesta quinta-feira que as forças pró-Rússia “deportaram à força” funcionários e pacientes de um hospital para o território controlado pela República Popular de Donetsk. A Ucrânia já acusou a Rússia de realocar à força milhares moradores de Mariupol.
O cerco a Mariupol
Prefeito de Dnipro pede que mulheres e crianças saiam da cidade
Em Dnipro, distante 300 quilômetros de Mariupol, no centro-leste da Ucrânia, o prefeito Boris Filatov pediu que mulheres, crianças e idosos saiam da cidade porque os combates com a Rússia devem se intensificar nos próximos dias. “Todos aqueles que têm capacidade, como já disse, devem sair. Isso envolve mulheres, crianças, idosos, aqueles que não são (…) diretamente integrados na economia”, declarou.
Dnipro, que antes da guerra possuía uma população de quase um milhão de pessoas, até agora foi poupada dos piores combates da guerra, que devastaram cidades como Mariupol.
As advertências de Filatov seguem apelos semelhantes das autoridades da região de Luhansk, a leste de Dnipro. Nesta quarta-feira, o governador regional de Luhansk exortou todos os moradores a saírem enquanto ainda podem em relativa segurança.
Trens de evacuação bloqueados na região de Donetsk
Um ataque aéreo russo em uma ferrovia perto da estação de Barvinkove, na região de Donetsk, bloqueou a saída de três trens que serviam para a saída de civis, de acordo com relatos verificados pela Reuters.
Milhares de passageiros que deveriam sair nos trens aguardam na estação, de acordo com o meio de comunicação ucraniano Hromadske. /REUTERS, WASHINGTON POST
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