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Ucrânia, em guerra contra seu passado soviético, restaura imponente monumento de Kiev

Os trabalhadores desmontaram a parte do escudo com a foice e o martelo soviéticos do Monumento à Pátria e substituíram pelo emblema ucraniano

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Por Shera Avi-Yonah
Atualização:

Um dos principais monumentos de Kiev trocou um brasão soviético de 42 anos por um tridente moderno, uma troca que exemplifica a luta do país devastado pela guerra contra o exército russo do século 21 e os vestígios do passado soviético da Ucrânia.

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O Monumento à Pátria, uma estátua de 100 metros de uma mulher segurando uma espada e um escudo, ergue-se sobre Kiev desde 1981 como um símbolo dos triunfos da URSS durante a 2ª Guerra Mundial.

Os trabalhadores desmontaram a parte do escudo com a foice e o martelo soviéticos no início de julho; no domingo, 6, eles o substituíram pelo emblema ucraniano.

Os esforços da Ucrânia para substituir a iconografia soviética datam de quase uma década. Em meio à onda pró-democracia da Revolução de Maidan, o parlamento da Ucrânia derrubou o presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich em 2014 e manifestantes ucranianos derrubaram estátuas do ex-governante soviético Vladimir Lenin e outros símbolos soviéticos, que o país acabou proibindo.

Trabalhadores instalam o brasão ucraniano no escudo na mão da estatura mais alta do país, o Monumento à Pátria, depois que o brasão soviético foi removido, em Kiev Foto: Efrem Lukatsky / AP

A invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em 2022 acelerou a tendência. Os ucranianos rejeitam cada vez mais a língua russa, mesmo em partes do país onde ela já foi comumente falada.

Eles já analisaram e proibiram textos russos e tentaram renomear ruas que valorizavam figuras e locais soviéticos e russos.

Livros

A Ucrânia removeu milhões de livros de bibliotecas públicas em seu esforço contínuo de “desrussificação”, de acordo com o parlamento ucraniano.

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Até novembro do ano passado, 19 milhões de livros haviam sido retirados das bibliotecas públicas após uma iniciativa do Ministério da Cultura local de retirar “certos tipos de livros”.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, assinou leis que proíbem nomes de lugares russos e exigem que novos cidadãos façam um exame de língua ucraniana.

Trabalhadores instalam o brasão oficial ucraniano, também conhecido como tryzub, substituindo o brasão da ex-União Soviética que foi removido anteriormente, no escudo do Monumento da Pátria em Kiev  Foto: Sergei Supinsky/ AFP

Até o Natal mudou de data, por causa disso. A Ucrânia mudou seu feriado oficial do dia de Natal de 7 de janeiro para 25 de dezembro, a última medida para se distanciar de tradições russas por causa da invasão de Vladimir Putin ao país.

O presidente Volodimir Zelenski transformou em lei um projeto de lei parlamentar que visava “abandonar a herança russa de impor celebrações de Natal”.

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“A população ucraniana esteve por muito tempo sujeita à ideologia russa em quase todas as esferas da vida, inclusive com o calendário juliano e a celebração do Natal em 7 de janeiro”, afirmou a nota que explica a lei, cujo projeto foi aprovado pelos parlamentares em meados de julho.

O novo escudo da estátua da Pátria marca mais um sinal da campanha que os ucranianos chamam de “descolonização”, “descomunização” e “des-russificação”.

O tridente é destaque no brasão da Ucrânia, um símbolo que data do século 10, quando foi associado a Volodimir, o Grande, o grande príncipe de Kiev.

Como em casos anteriores, as autoridades russas condenaram a mudança. Leonid Slutski, chefe do Comitê de Assuntos Internacionais da Duma Estatal, disse no Telegram que refazer a estátua não apaga a história compartilhada da Rússia e da Ucrânia. Ele disse que a Ucrânia está tentando desrespeitosamente reivindicar as vitórias soviéticas como suas.

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