Ucrânia faz operações em lagos e rios para encontrar e desarmar ameaças russas

Equipes procuram bombas submersas em lagos e espiões em esconderijos à beira dos rios; operações mudam verão em áreas que não estão sob ocupação russa

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Por Max Bearak

THE WASHINGTON POST, HOSTOMEL - Dois adolescentes estavam em um píer em um dos lagos da Ucrânia quando um detector de metais emergiu das águas, seguido por um mergulhador com equipamento de mergulho completo. Era um dia de verão perfeito, com o sol em um céu sem nuvens e o clima quente. Mas nas mãos do mergulhador estava um morteiro não detonado de 82 milímetros -- e esta imagem distorceu toda a tranquilidade aparente.

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Dois meses atrás, Hostomel, um subúrbio de Kiev, era atacada pelos russos, que recuavam de Kiev depois de não conseguir conquistá-la. Um rastro de bombas foi deixado pelo caminho, e as autoridades da Ucrânia passaram a desminar o máximo de terra que puderam. No entanto, o trabalho em lagos e rios começou apenas, em um momento que os ucranianos, exaustos e traumatizados pela ocupação da Rússia em torno da capital, anseiam por lugares para relaxar e aproveitar o verão.

As equipes de soldados submarinos do Serviço de Emergência do Estado realizam o trabalho. “Este voou e não explodiu”, diz Roman Horiak, de 31 anos, chefe de uma das equipes, sobre o morteiro retirado do lago. “Se você pisar nele, pode ou não detonar, dependendo da condição do detonador. Mas um acidente desagradável pode ocorrer se uma pessoa pisar no elemento de escorva ou no próprio detonador”.

Desminadores ucranianos coletam bombas não-detonadas em lagos da Ucrânia. Imagem é do vilarejo de Horenka, na região de Kiev, do dia 27 de meio Foto: Sergei Supinsky/AFP

A equipe de Horiak se concentra em munições não detonadas em lagos. Outra equipe, liderada pela polícia nacional, lida com rios onde a preocupação não é com dispositivos, mas com espiões e sabotadores. De esconderijos em ilhas isoladas e pântanos, eles podem ajudar os russos a planejar uma nova invasão nesta região do país.

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Ambos trabalham no que consideram cenários impensáveis na Ucrânia de outros momentos: o poderoso rio Dnipro, desprovido de lanchas e jet skis; e lagos suburbanos sem crianças. Sob a lei marcial, as pessoas são proibidas de navegar com os próprios navios e desencorajadas de ir às praias. A maioria está atenta, ciente das dezenas de milhares de minas e munições não detonadas que foram desarmadas quando os ucranianos retomaram o controle da maior parte da porção norte do país.

Horiak diz que as regras estão em vigor porque as autoridades não podem confiar que todas as pessoas estejam atentas sobre os riscos. Não são raras as histórias de indivíduos que foram à procura de munições não detonadas para coletá-las ou até mesmo tentar detoná-las.

Material explosivo coletado nos lagos ucranianos é levado para áreas distantes de habitações para ser detonado. Bombas foram deixadas por russos durante retirada dos arredores de Kiev Foto: Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia / via AFP

Alguns morteiros jaziam no fundo dos lagos da Ucrânia desde a 2ª Guerra. Um aficionado por esse tipo de material levou um para casa, cortou-o e acabou explodido, provavelmente por acidente. Em outro caso, um grupo “acendeu uma fogueira, jogou munição dentro dela, correu e se escondeu atrás de árvores”, contou Horiak. Para decepção de todos, nada explodiu.

Ainda é possível encontrar bombas muito maiores do que simples morteiros. Segundo Horiak, essas bombas de aviação não detonadas precisam ser retiradas da água com o auxílio de um balão inflável para depois serem levadas a um local seguro de detonação a quilômetros de áreas habitadas.

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Recentemente, a equipe de mergulhadores coordenada por Horiak encerrou o trabalho em um pequeno lago de Hostomel no qual vasculharam o fundo e encontraram o último dos seis morteiros da guerra atual. “Pode parecer externamente que o processo de desminagem subaquática é meditativo, que há um pouco de Zen nele”, afirmou o mergulhador-chefe Denys Borbit, 40. “Mas neste lago em particular, posso dizer que este não é o caso. A visibilidade é terrivelmente zero, há um odor desagradável e o fundo está coberto de conchas. Aqui, trabalhamos quase às cegas”.

No rio Dnipro, o trabalho é mais agradável, mas a estranheza da paisagem e o risco dos espiões chama a atenção. “Os russos arruinaram nosso ambiente pacífico”, disse Andri Karpina, chefe do departamento de polícia nacional que supervisiona as vias navegáveis e o espaço aéreo. “Normalmente você veria centenas de barcos com pessoas aproveitando o verão, mas agora estamos aqui pensando que há muito espaço para os sabotadores russos se esconderem”.

Imagem mostra pescador navegando no rio Dnipro, em Kiev, em imagem do dia 6 de julho de 2020. Depois do início da guerra, Dnipro se tornou lugar de espiões e sabotadores Foto: Valentyn Ogirenko / REUTERS

Sergei Ushinski, que opera um drone que ajuda a monitorar clareiras em ilhas fluviais na equipe de Karpina, diz: “Imagine que vamos a uma praia agora. Temos garantias de que a única pessoa que podemos ver em um barco está sozinha? Ou será que não é grupo de pessoas armadas?”.

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Em uma das rondas, Karpina verificou um acampamento de sem-teto que ele teme que possa ser usado como esconderijo. No momento da visita, apenas um homem estava lá e cuidava de uma fogueira. Uma rede de pesca ilegal estava no acampamento, mas Karpina seguiu em frente. Hoje em dia, não é o tipo de coisa que a equipe busca.

As autoridades não divulgaram quantos sabotadores ou esconderijos de armas foram encontrados desde que os russos se retiraram da região de Kiev, mas todos disseram que a ameaça era real. Karpina enfatiza que os ucranianos devem estar sempre alerta, mas se diz ciente do desejo deles de aproveitar o verão como sempre fizeram, com a pesca e passeios de barco pelo rio. Seriam atividades ideais para retornar a uma sensação de normalidade, ainda que mínima. “Quando voltei para casa em Kiev, depois de todas aquelas semanas de bombardeios, e descobri que o parque estava cheio de crianças finalmente entendi o valor da paz”, disse ele.

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