KIEV - A Ucrânia decidiu impor “apagões programados” por todo o país, após bombardeios russos destruírem entre 30% e 40% de sua infraestrutura energética. Em meio às acusações que Moscou tenta transformar o fornecimento elétrico do país em uma nova frente de batalha, a questão ganha cada vez mais urgência com a aproximação do inverno no Hemisfério Norte.
Autoridades ucranianas anunciaram uma série de restrições ao consumo de eletricidade na quinta-feira, 20. Mais de 4.000 cidades, vilas e vilarejos sofreram cortes de energia durante a semana, afetando desde residências a prédios comerciais e infraestrutura pública. Em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, a operadora do metrô anunciou que aumentaria os intervalos entre os trens para economizar eletricidade. A presidência ucraniana descreveu a situação como “crítica”.
O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, pediu à população, empresas e comércios que “economizassem ao máximo” o consumo em iluminação e publicidade. “Até mesmo as pequenas economias de cada lar vão ajudar a estabilizar o sistema energético do país”, afirmou.
Estimativas apresentadas pelo governo ucraniano apontam que entre 30% e 40% das centrais elétricas do país ficaram destruídas após ataques de mísseis e drones kamikaze da Rússia.
Para Entender
Em um pronunciamento na quarta-feira, o presidente Volodmir Zelenski acusou as forças russas de terem minado uma represa da central hidroelétrica de Kakhovka, em Kherson, e disse temer “uma catástrofe em grande escala” se a barragem for destruída.
Zelenski, em uma intervenção perante os líderes dos países da União Europeia, já havia dito que Moscou queria transformar a rede elétrica ucraniana em um “campo de batalha”, para paralisar o país que se aproxima do inverno. Essa estratégia pode provocar um novo êxodo de ucranianos para o bloco europeu, alertou Zelenski, instando os países da UE a fornecer defesas antiaéreas mais sofisticadas a Kiev.
Estratégia ‘sem riscos’
O uso de drones kamikaze e disparos massivos de mísseis contra a rede elétrica ucraniana se intensificaram em outubro, quando o Exército russo já acumulava uma série de derrotas em várias frentes de batalha na Ucrânia. A nova estratégia foi aplaudida por políticos e analistas militares russos.
“Isso deveria ter sido feito desde o primeiro dia, não depois de oito meses”, disse Alexander Khramchikhin, analista militar russo consultado pela France-Presse. “A vantagem desse tipo de estratégia é que paralisa a economia e em grande medida as Forças Armadas”, tudo “sem risco” para a Rússia.
Após ataques à infraestrutura ucraniana nesta semana, o deputado russo Andrei Guruliov comemorou a abordagem militar. “É impossível sobreviver quando não há aquecimento, água e eletricidade”, declarou./ AFP
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.