Ucrânia intensifica ataques a cidades na fronteira com a Rússia, aumentando a pressão sobre Putin

Após ouvir questionamentos da China e da Índia sobre a guerra e sofrer críticas internas pela perda de territórios para Kiev, Putin enfrenta ataques muito próximos do território russo

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Por Redação

BELGOROD, Rússia - Depois de uma contraofensiva ucraniana bem-sucedida no nordeste do país, a guerra se aproxima das portas de Vladimir Putin, com ataques de artilharia atingindo alvos militares na Rússia e autoridades russas em cidades e vilas ao longo da fronteira ordenando retiradas apressadas. Os ataques colocam colocam uma nova pressão sobre o presidente russo, que já teve de ouvir críticas de aliados internos e externos nas últimas semanas.

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Uma nova rodada de ataques ucranianos atingiu no sábado, 17, a região de Belgorod, na Rússia Ocidental, matando pelo menos uma pessoa e ferindo duas. Na sexta-feira, 16, a Ucrânia teria atingido a base da 3ª Divisão de Fuzileiros Motorizados da Rússia perto de Valuiki, a apenas 14 km ao norte da fronteira Rússia-Ucrânia. Autoridades russas não reconheceram que um alvo militar foi atingido, mas disseram que um civil morreu e a rede elétrica local sofreu uma interrupção temporária.

A Rússia culpou a Ucrânia pelos ataques, mas Kiev não reivindica a responsabilidade por atingir alvos em território russo. A Ucrânia garantiu às autoridades ocidentais que as armas doadas não seriam utilizadas para atingir alvos dentro da Rússia - o que poderia colocar o Ocidente diretamente no conflito. Mas as forças ucranianas estão agora tão perto da fronteira que podem atingir alvos usando seu próprio armamento menos avançado.

Vista de uma posição militar abandonada não muito longe da cidade de Balaklia, região de Kharkiv, em 18 de setembro de 2022, recentemente recapturada pelo exército ucraniano após a retirada das tropas russas Foto: Sergey Bobok/AFP

Com os cidadãos russos começando a sentir seriamente o impacto da guerra diretamente, Putin ganha uma outra nova fonte de pressão, depois de voltar para casa neste fim de semana de uma reunião da Organização de Cooperação de Xangai no Usbequistão, onde enfrentou uma notável repreensão pública do primeiro-ministro indiano Narendra Modi e questionamentos sobre a guerra do presidente chinês Xi Jinping.

Modi chegou a dizer publicamente para Putin que “a era de hoje não é uma era de guerra, e falei com você ao telefone sobre isso”. Isso seguiu-se a um reconhecimento por Putin de que ele havia ouvido “preocupações e perguntas” sobre a guerra do presidente chinês. Ambos os países são aliados importantes da Rússia e tentam evitar críticas diretas às ações de Moscou na Ucrânia.

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A essas críticas de aliados internacionais, se somam as pressões internas que Putin vem sofrendo devido ao avanço ucraniano em territórios antes ocupados por suas tropas. A Ucrânia fez avanços importantes na região de Kharkiv, no nordeste do país, nas últimas duas semanas. Durante seus avanços, também descobriu centenas de valas comuns e histórias de forças russas aterrorizando moradores da cidade libertada de Izium.

Autoridades ucranianas citaram os ganhos e as evidências de tortura e assassinatos para reiterar os pedidos de tanques de batalha modernos e outros veículos fortemente blindados que os aliados da Otan demoraram a enviar, especialmente a Alemanha.

Cidades russas perto do front

Valuiki e Krasni Khutor estão entre as dezenas de pequenos assentamentos na Rússia que os militares russos usam como base, colocando-os no meio da invasão promovida por Moscou e da crescente contraofensiva de Kiev.

O governador local, Viacheslav Gladkov, ordenou a retirada de centenas de pessoas e fechou escolas em cidades fronteiriças nos últimos meses. Mas agora as autoridades em Belgorod estão sob crescente pressão de moradores nervosos que estão experimentando o que muitos ucranianos vivem há meses: explosões noturnas, casas destruídas e às vezes vítimas.

“Estou perguntando mais uma vez, onde está nosso exército, aquele que deve estar nos protegendo?” A residente de Belgorod, Tatiana Bogacheva, escreveu em sua página na rede social VKontakte (semelhante ao Facebook na Rússia). “Estamos na fronteira; eles estão atirando em nós, então precisamos de um exército e proteção. Quem vai acordar o presidente?”

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As forças russas ficaram esgotadas após erros no campo de batalha e estão lutando para encontrar pessoal e equipamentos de trabalho para manter seu território no nordeste da Ucrânia. Uma recente retirada apressada de Izium e Balaklia, bem como preocupações entre os russos locais que temem que a guerra esteja voltando para casa, parecem ter levado Moscou a reforçar a fronteira com jovens recrutas.

Crianças olham pelas janelas de um carro enquanto elas e outros refugiados da região de Kharkiv, na Ucrânia, chegam ao acampamento temporário em Belgorod, Rússia, em 14 de setembro de 2022. Milhares fugiram do nordeste da Ucrânia para a Rússia em meio à contraofensiva ucraniana na região Foto: AP

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Soldados russos que foram recrutados para servir no 1º Regimento de Fuzileiros Motorizados de Guardas da Divisão Taman como parte do recrutamento de primavera deste ano estão sendo transferidos da região de Moscou para “proteger a fronteira do estado”.

O Serviço Russo da BBC, citando as famílias dos soldados, muitos recrutas da Divisão Taman morreram no início da invasão e aqueles que sobreviveram foram devolvidos ao território russo. Mas, em vez de retornar ao quartel-general em Naro-Fominsk, perto de Moscou, eles ficaram estacionados em Valuiki. O novo grupo de recrutas deve substituir aqueles que devem ser desmobilizados em outubro, disse a BBC.

De acordo com as leis russas, os recrutas não podem ser enviados para a batalha a menos que tenham pelo menos quatro meses de treinamento. Putin negou repetidamente que a Rússia esteja usando recrutas na Ucrânia. Mas o Ministério da Defesa do país reconheceu em março que alguns foram enviados erroneamente para lutar.

Os problemas da Rússia ao longo da fronteira também estão atraindo críticas de fervorosos setores pró-Kremlin dentro da Ucrânia. “Estou curioso para saber se a liderança russa vai reagir de alguma forma ao constante bombardeio do território russo?” Igor Girkin, um ex-comandante linha-dura dos separatistas na Ucrânia, lamentou em seu canal noTelegram. “Ou entendi corretamente que o Kremlin não considera mais a região de Belgorod como território da Rússia?”

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Batalha no sul

A guerra também parece estar enfraquecendo a capacidade da Rússia de apagar incêndios ao sul, na região que o Kremlin há muito considera seu quintal. A pressão sobre os soldados russos aumentou no fim de semana, quando as forças ucranianas realizaram ataques a redutos militares russos, alvos usados por autoridades locais leais ao Kremlin e continuaram a atacar as linhas de suprimentos para milhares de soldados russos no margem ocidental do Rio Dnieper.

Um ataque com mísseis na cidade de Kherson, controlada pela Rússia, destruiu uma fábrica de algodão que era usada como base russa, disseram autoridades ucranianas neste domingo, 18, depois de assumirem o crédito por um ataque a um tribunal no centro da cidade que serviu de sede para a administração militar apoiada pelo Kremlin.

Outro desafio à afirmação da Rússia de que tem controle total da situação de segurança na cidade veio no final de sábado, quando um tiroteio eclodiu nas ruas da cidade e continuou durante a noite, segundo vídeo divulgado por blogueiros militares russos. Kherson continua sendo a única capital regional da Ucrânia capturada por Moscou desde a invasão.

Uma foto divulgada pelo serviço de imprensa do Ministério da Defesa da Rússia em 12 de setembro de 2022 mostra militares russos dirigindo um veículo blindado em um local não revelado na região de Kherson, Ucrânia  Foto: Ministério da Defesa da Rússia/EPA/EFE

Não ficou claro quem estava envolvido na batalha. As autoridades russas locais falaram de um ataque contra guerrilheiros ucranianos. O comando militar sul ucraniano na noite de domingo acusou os russos na cidade de encenar as lutas de rua para poder alegar que as forças ucranianas estavam colocando civis em perigo.

A Ucrânia vem promovendo uma contraofensiva no sul há semanas, tentando desgastar os combatentes russos e forçar sua rendição ou retirada. Mas, ao contrário do nordeste, onde as linhas russas foram pouco espalhadas e rapidamente dominadas pelo ataque relâmpago da Ucrânia, as forças russas no sul passaram semanas se preparando para um esperado avanço ucraniano e fortaleceram suas posições.

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Novas denúncias de tortura

Na esteira da 77ª Assembleia-Geral da ONU, onde a guerra na Ucrânia deve ser um tópico central de discussões, Kiev faz novas acusações de prisões arbitrárias e torturas em cidades recuperadas das forças russas. Jornalistas da Associated Press visitaram o que autoridades ucranianas dizem ser uma prisão improvisada pelos russos em Kozacha Lopan. Segundo o presidente Volodmir Zelenski, mais de 10 “câmaras de tortura” semelhantes foram descobertas na região desde a retirada apressada das tropas russas na semana passada.

Em um comunicado divulgado no sábado em seu canal no Telegram, a promotoria da região de Kharkiv, em cuja jurisdição Kozacha Lopan se encontra, disse que a sala vista pelos jornalistas foi usada como cela de tortura durante a ocupação da área. Segundo a nota, as forças russas criaram uma força policial local que administra a prisão, acrescentando que documentos confirmando o funcionamento do departamento de polícia e instrumentos de tortura foram apreendidos. O comunicado disse que uma investigação estava sendo conduzida.

Edredons e saco de dormir são vistos em um porão que, segundo autoridades ucranianas, foi usado como cela de tortura durante a ocupação russa, na aldeia retomada de Kozacha Lopan, Ucrânia Foto: Leo Correa/AP

Kozacha Lopan, cuja fronteira fica a menos de 2 km da fronteira russa, foi retomada pelas forças ucranianas em 11 de setembro.

Locais de com valas coletivas foram encontrados em algumas áreas onde as forças russas foram expulsas, principalmente na cidade de Izium, onde autoridades ucranianas dizem que mais de 440 túmulos foram encontrados perto do cemitério da cidade. Zelenski disse que eles contêm corpos de adultos e crianças civis, bem como de soldados, mostrando sinais de mortes violentas, algumas possivelmente por tortura./AP, NYT e W.POST

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