A Ucrânia pediu mais ajuda militar e novas sanções à Otan e União Europeia nesta quarta-feira, 28, para reagir aos referendos feitos pelas autoridades pró-russas para anexar quatro regiões ocupadas do país. Os Estados Unidos atenderam ao pedido e anunciaram novos pacotes de armas e suprimentos, no valor de US$ 1,1 bilhão, enquanto a presidente da UE, Ursula von der Leyen, pediu aos 27 países do bloco que concordem na aplicação das novas sanções.
O pedido foi feito em um comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, que chama os referendos de “nulos e inúteis”. “Forçar as pessoas nesses territórios a preencher alguns papéis no cano de uma arma é mais um crime russo no curso de sua agressão contra a Ucrânia”, escreve.
Segundo autoridades ligadas ao Kremlin, os referendos, realizados nos territórios de Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson, tiveram entre 97% e 98% dos votos favoráveis à anexação russa. Com o resultado, a Rússia deve anunciar até sexta a anexação formal dos territórios, mas os processos não foram reconhecidos pelo Ocidente.
“Independentemente das reivindicações da Rússia, isso permanece em território ucraniano e a Ucrânia tem todo o direito de continuar a lutar por sua soberania plena”, disse a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre. “Em resposta, trabalharemos com nossos aliados e parceiros para impor custos econômicos adicionais” à Rússia e aos partidários de qualquer anexação, acrescentou.
Outros países, como o Reino Unido, a Alemanha e o Canadá, também não reconheceram os referendos. A China, que mantém relações próximas com a Rússia, pediu respeito pela “integridade territorial de todos os países”.
O pacote de armas anunciado pelos EUA contém financiamento para cerca de 18 sistemas de foguetes mais avançados e outras armas para combater drones que a Rússia tem usado contra as tropas ucranianas. O pacote mais recente eleva o total de ajuda dos EUA à Ucrânia para quase US$ 17 bilhões desde que o governo Biden assumiu o cargo.
A UE propôs um oitavo pacote de sanções, que inclui o estabelecimento de um teto para o preço do petróleo russo e medidas restritivas contra os responsáveis por referendos sobre a anexação dos territórios ucranianos; e os três bancos públicos turcos que usaram o sistema de pagamento Russo Mir anunciaram que suspenderão seu uso.
Barreira para contraofensiva da Ucrânia
Apesar do pedido de reforço feito pela Ucrânia, a formalização da anexação dos territórios dificultaria a contraofensiva ucraniana para retomá-los do controle russo. Na prática, caso a população aprove a anexação, Moscou passaria a considerar as quatro regiões como parte de seu próprio território, tornando uma agressão ucraniana a essas áreas um ataque à nação russa, propícia a retaliações inclusive com armas nucleares - a doutrina nuclear russa prevê o uso de seu arsenal atômico em caso de ataques.
Autoridades apoiadas pelo Kremlin começaram a realizar os referendos na sexta-feira após uma série de reveses no campo de batalha. O presidente Vladimir Putin anunciou seu apoio aos votos em um discurso provocativo contra o Ocidente, acrescentando que seu principal objetivo da guerra continua sendo “libertar” a região leste de Donbas da Ucrânia.
“A situação legal mudará radicalmente do ponto vista do direito internacional e isto também terá consequências sobre a segurança nestes territórios”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Dmitri Medvedev, o ex-presidente da Rússia que agora atua como vice-presidente do Conselho de Segurança do país, confirmou as consequências. “O exército russo reforçará significativamente a defesa de todos os territórios (ucranianos) anexados à Rússia”, prometeu Medvev no Telegram. “A Rússia tem o direito de usar armas atômicas, se necessário, em casos predefinidos, em estrita conformidade com os princípios da política governamental de dissuasão nuclear”, acrescentou Medvedev.
Os ucranianos expressaram temor de que uma consequência imediata da anexação seja o recrutamento para as forças armadas russas e serem forçados a pegar em armas contra seu próprio país. Em partes de Luhansk e Donetsk, que estão ocupadas pela Rússia desde 2014, isso já acontece. /NYT, AP, AFP
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