Ucrânia pede que EUA amenizem retórica contra Rússia e Biden fala em enviar tropas

Presidente ucraniano e chefe do Conselho de Segurança dizem que ameaças de Biden pioram a situação e disseminam pânico na população

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Por Redação

KIEV- Os EUA voltaram a denunciar nesta sexta-feira, 28, o acúmulo de tropas russas e uma possível invasão da Ucrânia, com o presidente Joe Biden dizendo que pode mandar um pequeno número de militares ao Leste Europeu. Mas, pela primeira vez, o governo ucraniano pareceu incomodado com a retórica de guerra dos americanos. O presidente, Volodmyr Zelenski, e o chefe do Conselho de Segurança, Oleksii Danilov, pediram a Washington que modere o discurso.

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Segundo Zelenski, a situação na fronteira – onde estão 130 mil soldados russos – não é muito diferente da do ano passado. Em entrevista a jornalistas em Kiev, um dia depois de conversar com Biden, Zelenski disse que a mobilização da Rússia, embora perigosa, não significa que a guerra seja inevitável. Ele enfatizou que não discorda de Biden sobre a gravidade da ameaça, mas diverge do tom agressivo usado na crise. 

“Não há nenhum mal-entendido. Eu entendo o que está acontecendo em meu país, assim como ele (Biden) sabe o que está acontecendo no dele”, disse Zelenski. “O rufar dos tambores da guerra contribui para a instabilidade e problemas econômicos que aumentam o risco representado pela Rússia.”

Pessoas brincam na neve em 27 de janeiro de 2022, em Mariupol, Ucrânia, apesar da ameaça de uma escalada militar não muito distante Foto: Brendan Hoffman/The New York Times

Danilov, chefe do Conselho de Segurança da Ucrânia, foi ainda mais direto na mensagem aos americanos. “Quando começam a dizer que amanhã haverá guerra, precisam entender que a primeira coisa que não precisamos é de pânico”, disse. “Por que? Porque o pânico é irmão do fracasso.”

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Críticas

Na noite desta sexta-feira, após as declarações dos ucranianos, Biden disse estar planejando enviar um pequeno número de forças americanas para o Leste Europeu no "curto prazo". "Mas não muitos", disse ele, a repórteres.

Os comentários de Biden são o mais recente sinal de que a Casa Branca acredita que uma invasão russa seja uma forte possibilidade em um futuro próximo. O Pentágono já havia colocado 8,5 mil soldados em alerta para um possível deslocamento para a região. 

Mais cedo, o Departamento de Defesa havia alertado que mais soldados russos foram movidos para a região. Segundo funcionários do governo americano, a mobilização agora inclui o envio de suprimentos de sangue, o que aumenta a suspeitas de uma operação militar. Na quinta-feira, Biden afirmou que Vladimir Putin deve atacar a Ucrânia em fevereiro.

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Foi esse tipo de declaração que Zelenski criticou. “Temos de ser muito cuidadosos na forma como falamos, quando dizemos que a guerra acontecerá amanhã”, disse o presidente ucraniano. “Estamos nos preparando para qualquer cenário possível.”

Para Danilov, a melhor forma de ajudar a Ucrânia é enviando armas. “É por isso que estamos dizendo aos nossos parceiros: ‘Não gritem tanto’”, disse. “Você vê uma ameaça? Então, nos enviem dez caças todos os dias. Não um, mas dez. E a ameaça desaparecerá.”

Diplomacia

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Nesta sexta-feira, Putin conversou com o presidente francês, Emmanuel Macron. No diálogo, cuja transcrição foi divulgada pelo Kremlin, ele falou pela primeira vez sobre as respostas que recebeu dos EUA e da Otan a respeito das exigências que havia feito ao Ocidente. “Eles ainda não levaram em conta as preocupações da Rússia, que incluem impedir a expansão da Otan e recusar-se a implantar sistemas de armas de ataque perto das fronteiras russas”, disse Putin.

Apesar da reação fria do presidente russo, o chanceler, Serguei Lavrov, encontrou aspectos positivos na mensagem dos EUA. Ele afirmou que na resposta americana havia um “embrião de racionalidade em alguns temas”. Por isso, Moscou continuaria as negociações sobre segurança europeia. “Comparada à carta enviada pela Otan, a resposta americana é quase um exemplo de sutileza diplomática”, disse Lavrov. “A resposta da Otan foi tão ideológica que ficamos envergonhados por aqueles que escreveram o texto.” /NYT e AFP