KIEV - Autoridades ucranianas nas ruínas sitiadas de Mariupol disseram nesta sexta-feira, 25, que cerca de 300 pessoas morreram quando um ataque aéreo russo explodiu um teatro onde centenas de civis estavam abrigados. Se confirmado, é provável que este número eleve ainda mais a pressão sobre as nações ocidentais para aumentar a ajuda militar.
Em uma tentativa vã de proteger os que estavam dentro do grande teatro dos constantes mísseis e ataques aéreos que a Rússia fez chover sobre as cidades, uma enorme inscrição dizendo “Crianças” em russo foi colocada do lado de fora do prédio e era visível do ar.
Durante dias, o governo da cidade portuária foi incapaz de fornecer uma contagem de baixas para o ataque de 16 de março. O post em seu canal Telegram desta sexta citou testemunhas oculares. Não ficou imediatamente claro se as equipes de emergência terminaram de escavar as ruínas do teatro ou como as testemunhas chegaram ao horrível saldo de vidas perdidas.
A cidade, uma das maiores da Ucrânia, também teve cortada a água, eletricidade e comunicações durante os combates. Antes, autoridades ucranianas disseram que ao menos 130 pessoas haviam sido resgatadas do teatro.
“Até o último momento, queremos acreditar que todos conseguiram escapar”, escreveu a Câmara Municipal em seu canal Telegram sobre o prédio.
Ainda assim, o quadro de baixas poderia reorientar a atenção para a recusa até agora dos países da aliança da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em fornecer aviões de guerra ou fazer patrulhas sobre o espaço aéreo da Ucrânia. O presidente do país, em apuros, pediu repetidamente por essas medidas para se proteger contra esses ataques.
Logo após o ataque, Ludmila Denisova, comissária de direitos humanos do Parlamento ucraniano, disse que mais de 1.300 pessoas estavam lá dentro, muitas cujas casas foram destruídas no cerco da cidade pela Rússia. O prédio tinha um abrigo antibombas no porão relativamente moderno, e alguns sobreviventes emergiram dos escombros após o ataque.
Ajuda da Otan
O novo número de mortos ocorre um dia depois que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e outros líderes prometeram que mais ajuda militar para a Ucrânia está chegando. A promessa foi feita durante uma cúpula da Otan em Bruxelas. Mas eles pararam de fornecer o armamento pesado que o presidente ucraniano Volodmir Zelenski deseja.
As nações da Otan temem que o fornecimento de aviões, tanques e outros equipamentos que Zelenski diz serem urgentemente necessários possa aumentar o risco de serem arrastados para um conflito direto com a Rússia.
Mas os Estados Unidos e a União Europeia anunciaram um movimento para apertar ainda mais a Rússia: uma nova parceria para reduzir a dependência da Europa da energia russa e espremer lentamente os bilhões de dólares que o Kremlin recebe com a venda de combustíveis fósseis.
Apesar dos esforços para atingir a economia da Rússia para forçar o Kremlin a mudar de rumo, a miséria para os civis se torna cada vez mais aguda em cidades que, dia a dia, se assemelham cada vez mais às ruínas que as forças russas deixaram para trás em campanhas anteriores na Síria e na Chechênia.
Dependência
A invasão aguçou um dilema energético e moral para as nações europeias que aquecem casas e indústrias de energia com combustíveis fósseis russos. Alarmados de que os bilhões que pagam possam ser canalizados pelo Kremlin para seu esforço de guerra, eles estão acelerando a busca por alternativas.
A Alemanha disse na sexta-feira que forjou contratos com novos fornecedores que reduzirão significativamente sua dependência de carvão, gás e petróleo russos nas próximas semanas.
Biden disse que a nova parceria de fornecimento de gás EUA-UE ajudará a minar o uso de vendas de energia pelo presidente russo, Vladimir Putin, para “coagir e manipular seus vizinhos” e “dirigir sua máquina de guerra”. De acordo com o plano, os EUA e outras nações aumentarão as exportações de gás natural liquefeito para a Europa em 15 bilhões de metros cúbicos este ano.
Enquanto milhões de ucranianos fugiram para o oeste, a Ucrânia acusou Moscou de deportar à força centenas de milhares de civis de cidades destruídas para a Rússia na intenção de pressionar Kiev a desistir. Ludmila Denisova disse que 402.000 pessoas, incluindo 84.000 crianças, foram levadas contra sua vontade para a Rússia, onde algumas podem ser usadas como “reféns” para pressionar Kiev a se render.
O Kremlin deu números quase idênticos para aqueles que foram realocados, mas disse que eram de regiões predominantemente de língua russa de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia, e queriam ir para a Rússia. Separatistas pró-Moscou lutam pelo controle há quase oito anos nessas regiões, onde muitas pessoas apoiam laços estreitos com a Rússia./AP e NYT
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