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Ucrânia usa drones para render soldados russos: ‘é última chance de viverem’

Chamado ‘eu quero viver’, o programa inclui uma linha telefônica direta, um site e um canal no Telegram, todos dedicados à comunicação com os soldados russos e suas famílias

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Por Marc Santora

Dezenas de milhares de drones foram usados em toda a Ucrânia para matar o inimigo, espionar suas formações e guiar bombas para seus alvos. Porém, neste mês os militares ucranianos iniciaram um programa para usar drones em uma função mais incomum: guiar soldados russos que desejam se render.

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O programa teve sua gênese no final de novembro, quando os militares ucranianos divulgaram imagens de um soldado russo jogando sua arma no chão, levantando as mãos e seguindo nervosamente um caminho traçado por um drone acima, levando-o a soldados do Exército ucraniano.

Algumas semanas depois, a Ucrânia divulgou um vídeo instrutivo explicando como os soldados russos podem se render a um drone ucraniano, e agora faz parte de um amplo esforço do país para persuadir os soldados russos a desistirem.

Ucraniano passa por barracas russas atacadas por drones na região de Kherson Foto: Lynsey Addario/The New York Times

O programa, chamado “Eu quero viver”, inclui uma linha telefônica direta, um site e um canal no Telegram, todos dedicados à comunicação com os soldados russos e suas famílias.

É muito cedo para saber se o esforço dos drones atrairá desertores russos em números significativos. Entretanto, acrescenta outro caminho para a Ucrânia recrutar desertores russos, este com um toque distintamente moderno para a velha tática de guerra informativa. E, no mínimo, pode aumentar ainda mais a erosão do moral russo no campo de batalha.


As derrotas russas já deram uma abertura para a Ucrânia explorar esse baixo moral, especialmente nos meses após a mobilização do Kremlin em setembro, que enviou milhares de novos recrutas para batalhas ferozes com pouco treinamento e poucos suprimentos.

Petro Yatsenko, porta-voz do Quartel-General de Coordenação para Tratamento de Prisioneiros de Guerra da Ucrânia, disse em uma entrevista na segunda-feira que a Ucrânia recebeu mais de 4.300 pedidos diretos de informações sobre como se render por meio do programa.

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Andriy Yusov, que representa o Departamento de Inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia, disse que o país recebeu 1,2 milhão de consultas sobre o programa desde que foi criado em 18 de setembro. A maioria vem da Rússia, com apelos de “pessoas que estão estudando para si ou para seus familiares a possibilidade de salvar vidas na guerra sangrenta e injusta”.

Nos últimos 10 meses, tanto a Rússia quanto a Ucrânia se engajaram em robustas campanhas informativas dirigidas aos soldados inimigos com panfletos, postagens nas redes sociais, apelos no rádio, mensagens de texto e campanhas na televisão, todas dedicadas a convencê-los a se render.

Em maio, quando os russos devastavam vilas e cidades e começavam a devorar terras no Leste da Ucrânia, nem todos os canhões estavam carregados com explosivos.

Alguns obuses autopropulsados da era soviética tinham projéteis preparados para explodir no ar e espalhar folhetos sobre o território controlado pela Ucrânia, de acordo com a Zvezda, uma rede nacional de TV estatal russa administrada pelo Ministério da Defesa da Rússia.

Mais recentemente, os russos anunciaram que seus operadores de drones estavam enviando mensagens SMS para assinantes ucranianos de telefonia móvel, dizendo-lhes para largarem as armas. Não há evidências de que os drones de “texto para rendição” da Rússia tenham tido algum impacto.

Última chance

A campanha ucraniana apresentou meios de comunicação de alta e baixa tecnologia. As unidades de artilharia usam rotineiramente sistemas de foguetes de lançamento múltiplo Vampire para disparar projéteis cheios de 1.500 folhetos cada um em posições russas.

Soldados ucranianos retiram corpos de soldados russos mortos em combate em Kupiansk-Vuzlovyi Foto: Finbarr O’Reilly/The New York Times

Hanna Malyar, vice-ministra da Defesa ucraniana, disse que essa era uma maneira de dar aos “ocupantes russos uma última chance de se renderem” quando não havia conexão com a internet. “Caso contrário, a única coisa que os espera nas terras ucranianas é a morte”, disse ela.

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Yatsenko, porta-voz do grupo de prisioneiros de guerra, disse que os ucranianos também estão dando aos soldados russos capturados que são libertados como parte das trocas de prisioneiros de guerra e-cards com informações sobre como se render. Assim, disse ele, se forem jogados de volta na luta, saberão se entregar.

Quando a Ucrânia captura soldados russos, ela os envia para campos de prisioneiros de guerra. O principal fica no Noroeste, perto de Lviv. A Ucrânia permitiu algumas visitas da imprensa, rigidamente controladas, dentro desse campo. Eles também permitem visitas de rotina do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

O esforço ucraniano de maior alcance é o programa “Eu quero viver”, que inclui um canal do Telegram em russo que agora tem mais de 40 mil assinantes, principalmente na Rússia ou em territórios controlados pela Rússia.

As operadoras de telefonia também trabalham 24 horas por dia em um local não revelado em Kiev, recebendo até 100 chamadas diariamente, disse Yatsenko. Mas assim como a rendição foi considerada um dos atos mais perigosos no campo de batalha da Primeira Guerra Mundial, o mesmo é verdade na Ucrânia atualmente.

Com uma linha de frente se estendendo por centenas de quilômetros e as terras entre as trincheiras, um deserto traiçoeiro de minas vigiadas por franco-atiradores e sujeitas a bombardeios quase constantes, arranjar uma rendição apresenta perigos para todos os envolvidos. É aí que entram os drones.

Yatsenko disse que o programa está apenas no começo. Ele não quis oferecer números precisos de russos que se renderam aos drones até agora, mas disse que é mais do que um punhado.

O programa ucraniano, disse Yatsenko, é o primeiro projetado para usar drones em larga escala como parte de uma operação coordenada para encorajar a rendição. “Estamos dando a eles uma última chance de salvar suas vidas”, disse ele.

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