O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse, nesta quinta-feira, 29, que o bloco não reconhece a “legitimidade democrática” da reeleição de Nicolás Maduro na Venezuela. Sem a divulgação das atas eleitorais mais de um mês após o resultado proclamado pela Justiça eleitoral venezuelana, vinculada ao chavismo, o chefe da diplomacia da UE frisou que a vitória não pôde ser comprovada e, portanto, não pode ser reconhecida.
Maduro “continuará presidente, sim, de fato. Mas não reconhecemos legitimidade democrática baseada em resultados [eleitorais] que não podem ser verificados”, declarou Borrell ao final de uma reunião de ministros das Relações Exteriores da UE.
Diante do impasse, o alto representante para a política externa da UE declarou que o bloco “tem pedido repetidamente as atas [eleitorais]. Mas, um mês depois, não há esperança de que Maduro as apresente. É tarde demais para continuar pedindo isso”, declarou.
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“Consideramos que a vitória eleitoral que ele proclama não foi provada. E como não foi provada, não temos por que acreditar nela. E se eu não acredito que ele ganhou as eleições, não posso reconhecer a legitimidade democrática proporcionada pelas eleições”, declarou Borrell.
O candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, participou da reunião em Bruxelas por videoconferência e apresentou um quadro da situação em seu país.
Os ministros europeus concordaram em não reconhecer a proclamada vitória eleitoral de Maduro, mas não houve unanimidade para atribuir o triunfo à oposição.
O chanceler venezuelano, Yván Gil, tachou Borrell de “desavergonhado” e rejeitou a postura.
“Nós nos lixamos para seus comentários”, escreveu em mensagem publicada em sua conta no Telegram. “Mas a Venezuela se respeita, aqui venceu a Constituição e a democracia, dedique seus últimos dias no cargo a assumir todas as derrotas que colheu, deixe-nos em paz, chega de tanta ingerência.
De acordo com uma fonte diplomática, os países decidiram “intensificar o diálogo com os atores regionais, especialmente com Brasil e Colômbia”.
Em relação à Venezuela, Borrell lembrou que, “na vida diplomática, os governos não são reconhecidos, mas sim os Estados”. “Temos embaixada na Venezuela. Temos embaixada na Nicarágua. Você acredita que reconhecemos a legitimidade democrática do senhor [Daniel] Ortega? Não. Mas temos embaixadas e interagimos”, afirmou.
Os ministros também discutiram a possibilidade de ampliar a lista de sanções a autoridades venezuelanas, mas não chegaram a um acordo.
“Temos 55 figuras políticas da Venezuela já sancionadas. Entre elas a vice-presidente [...] e aquele que hoje é o ministro do Interior. Ou seja, já chegamos quase à cúpula mais alta”, declarou./AFP.
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