A Ucrânia rejeitou um ultimato feito por tropas da Rússia que exigiam a rendição imediata dos militares ucranianos na cidade de Mariupol, cercada há semanas pelos inimigos. Autoridades locais e nacionais afirmaram nesta segunda-feira, 21, que o país não aceitaria a demanda russa, feita ainda no domingo, 20.
De acordo com o general russo Mikhail Mizintsev, a Ucrânia teria até as 5h da manhã de hoje para responder à oferta, que incluía também a formação de corredores humanitários para permitir a saída de civis da cidade. No entanto, tanto a vice-primeira-ministra do país, Irina Vereshchuk, e o prefeito de Mariupol, Piotr Andryushchenko, negaram a proposta.
A Rússia tenta reivindicar sua primeira vitória estratégica desde a invasão e Mariupol tem uma importância estratégica no mapa. Se a cidade cair em domínio russo, isso criaria um corredor terrestre controlado pela Rússia entre a Península da Crimeia e as regiões de Luhansk e Donetsk, no Leste, controladas por separatistas apoiados pela Rússia.
Mesmo antes da negativa, as forças russas intensificaram os bombardeios a Mariupol, disparando pela
primeira vez a partir de navios de guerra localizados no Mar de Azov. Os ataques também foram ampliados em outros importantes centros, como Kiev, Kharkiv e Sumi - essa última onde um bombardeio a uma fábrica provocou um vazamento de amônia.
Veja um resumo com os principais acontecimentos do 26° dia de Guerra na Ucrânia:
Rússia culpa Ucrânia por demora nas negociações
O Kremlin afirmou que as negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia ainda não fizeram nenhum progresso significativo, acusando Kiev de atrasar as negociações de paz ao fazer “propostas inaceitáveis”.
O posicionamento da Presidência da Rússia contesta as declarações mais recentes de autoridades da Turquia, que tenta mediar uma saída pacífica, que afirmaram que um acordo entre as partes estaria próximo.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que um progresso significativo nas negociações ainda precisa ser feito para que haja uma base para um possível encontro entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski -- que no fim de semana voltou a pedir um encontro “cara a cara” com o líder russo, mas afirmou que não abriria mão da integridade territorial da Ucrânia.
Bombardeio com mísseis transforma shopping de Kiev em ruínas
Um ataque com mísseis reduziu o amplo shopping center Retroville, em Kiev, a uma ruína fumegante, no que já é considerado um dos ataques mais poderosos a abalar o centro da capital ucraniana desde o início da guerra.
Autoridades da cidade confirmaram ao menos oito pessoas mortas no ataque realizado na noite de domingo, embora o número provavelmente aumente considerando o estabelecimento e o a potência da explosão, que jogou escombros a centenas de metros em todas as direções, sacudiu prédios e derrubou uma parte do shopping.
Cerca de 8h após o ataque, já na manhã desta segunda-feira, bombeiros ainda lutavam contra as chamas enquanto soldados e equipes de emergência vasculhavam os escombros em busca de sobreviventes ou vítimas. Na análise do jornal americano The New York Times, o alcance da devastação ao redor do shopping foi maior do que qualquer coisa relatada pela imprensa até agora em Kiev.
Para entender
Alvos civis são bombardeados em Odessa
Autoridades ucranianas acusaram as forças russas de realizar um ataque a prédios residenciais nos arredores de Odessa na manhã desta segunda, no que foi o primeiro ataque desse tipo à cidade portuária do Mar Negro.
O conselho da cidade disse que não houve vítimas, embora o ataque tenha causado um incêndio. “São prédios residenciais onde vivem pessoas pacíficas”, disse o prefeito Gennadiy Trukhanov.
Segundo Richard Barrons, ex-comandante do Comando das Forças Conjuntas do Reino Unido, a cidade portuária ucraniana de Odessa será o próximo “objetivo lógico” das tropas russas, depois de Mariupol.
Ataque russo provoca vazamento de amônia em Sumi
Autoridades ucranianas pediram que moradores da cidade de Novoselitsia se refugiem após um vazamento de amônia em uma fábrica de produtos químicos nas proximidades, enquanto os combates contra tropas russas continuam na área.
Segundo o serviço de emergência da Ucrânia, o vazamento começou por volta das 4h30 locais (23h30 do domingo, em Brasília) “como resultado do bombardeio de artilharia russa”. Por volta das 7h45 (4h45 de Brasília), o serviço disse no Twitter que o acidente havia “acabado”.
“As unidades do Serviço de Inteligência do Estado continuam trabalhando na deposição da nuvem de amônia. Como resultado do incidente, uma pessoa ficou ferida (um funcionário da empresa)”, disse em comunicado no Telegram.
ONU estima quase mil civis mortos pela guerra
O escritório de direitos humanos da ONU informou que já registrou 2.421 vítimas civis desde a invasão da Ucrânia pela Rússia. Foram 925 mortos, incluindo 39 crianças, e 1.496 feridos até a meia-noite de domingo.
“A maioria das vítimas civis registradas foi causada pelo uso de armas explosivas com uma ampla área de impacto, incluindo bombardeios de artilharia pesada e sistemas de foguetes de lançamento múltiplo, mísseis e ataques aéreos”, disse a organização em comunicado.
O escritório ainda acrescenta que os números reais provavelmente são “consideravelmente maiores”.
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