Um dia após a promessa de diminuir ataques, Rússia volta a bombardear norte da Ucrânia

Regiões de Chernihiv e Kiev, onde Rússia prometeu reduzir ataques, foram bombardeadas durante a madrugada; porta-voz do Kremlin afirma que negociações não resultaram em nada promissor

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Por Redação
Atualização:

Um dia depois que as negociações de paz deram esperança de uma diminuição do ataque da Rússia à Ucrânia, autoridades locais relataram novos ataques nesta quarta-feira, 30, nos arredores de Kiev e na cidade de Chernihiv, no norte - duas áreas onde a Rússia prometeu reduzir as operações. Os ataques sinalizam que Moscou não tem pressa em encerrar a guerra, agora com cinco semanas, apesar das declarações dadas nesta terça-feira. Outras localidades do país também sofreram ataques russos.

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Em Chernihiv, no norte, um ataque durante a última madrugada deixou 25 pessoas feridas. A cidade, assim como Kiev, é justamente onde a Rússia disse que ia reduzir sua presença militar. Em entrevista à CNN, o prefeito, Vladislav Astroshenko, disse que os ataques são provas de que “a Rússia sempre mente”. “Eles estão dizendo que reduziram a intensidade, na verdade aumentaram a intensidade dos golpes”, disse.

Na região de Kiev, alarmes aéreos foram disparados durante a madrugada e armadilhas foram encontradas em Irpin, subúrbio da capital. A informação é de Vadim Denisenko, assessor do ministro do Interior da Ucrânia. Ele também citou outras regiões, principalmente no leste, com alertas de ataques.

Moradores retirados de Irpin desembarcam em centro assistencial no arredor de Kiev, na Ucrânia, nesta quarta-feira, 30. Irpin, subúrbio de Kiev, continua sob ataque russo, apesar da promessa de redução de operações militares Foto: Rodrigo Abd / AP

“Na verdade, não havia áreas [do país] sem sirenes. De manhã eles se repetiram. Em particular, em Donbas - Kramatorsk, Bakhmut - a cidade de Kiev, região de Kiev, etc. Houve bombardeio em Chernihiv. Houve bombardeio em região de Khmelnytsky. Em Kiev, vários foguetes foram abatidos sobre a capital”, declarou.

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Em seu discurso na noite desta terça-feira, 29, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, disse que as negociações entre os países em guerra ocorrida pela manhã foram “positivas, mas não abafam as explosões de bombas russas”. Ele acrescentou que a Ucrânia não tem intenção de reduzir seus esforços militares - que começam a dar resultado em algumas contraofensivas.

Zelenski ainda afirmou que os ucranianos “não são pessoas ingênuas” e que não viu “nenhuma razão para confiar nas palavras de certos representantes de um Estado que continua lutando por nossa destruição”.

Os ataques russos na Ucrânia foram observados em outras regiões da Ucrânia mesmo durante a reunião diplomática ocorrida na Turquia, depois da qual os russos afirmaram que iriam reduzir as operações militares. Um ataque russo destruiu grande parte de um prédio do governo regional na cidade portuária de Mikolaiv, no sul do país, deixando pelo menos 12 pessoas mortas e mais de 30 feridas, segundo o governador, Vitali Kim. Outro ataque com mísseis russos destruiu um depósito de petróleo na região de Khmelnitski, no oeste da Ucrânia, segundo autoridades locais.

Em Mariupol, as forças russas atacaram nesta quarta-feira uma instalação da Cruz Vermelha, de acordo com a ex-ministra da Ucrânia, Ludmila Denisova. “Aeronaves e artilharia inimigas dispararam contra um edifício marcado com uma cruz vermelha sobre fundo branco, indicando a presença de feridos, civis ou de ajuda humanitária”, afirmou nas redes sociais. Entretanto, Denisova não especificou quando os ataques ocorreram e disse que ainda não havia confirmação sobre vítimas.

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O jornal inglês The Guardian afirmou que o ataque a um prédio da Cruz Vermelha foi confirmado por um porta-voz da organização. “Podemos confirmar que a imagem que circula mostra o depósito do CICV em Mariupol. Não temos uma equipe no terreno em Mariupol, portanto não temos outras informações, inclusive sobre possíveis vítimas ou danos. Podemos dizer que já distribuímos todos os suprimentos de ajuda no armazém”, declarou o porta-voz ao jornal.

Tropas russas também foram vistas cruzando a fronteira entre a Ucrânia e Belarus. Outras foram vistas retornando a própria Rússia. Segundo informações da inteligência britânica, no entanto, estas tropas irão se reabastecer e se reorganizar.

Rússia afirma que não há nada promissor após negociações com a Ucrânia

O porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, afirmou nesta quarta-feira que as negociações entre as delegações russa e ucraniana em Istambul não resultaram em nada muito promissor ou qualquer avanço. Apesar das declarações feitas após a reunião, que dava esperanças do progresso para o fim da guerra, o Kremlin afirmou que “há muito trabalho por fazer”.

Porta-voz de Moscou, Dmitri Peskov, em entrevista para jornalistas russos, no dia 23 de dezembro de 2021. Peskov afirmou nesta quarta-feira, 30, que não houve grandes avanços na última rodada de negociação entre Rússia e Ucrânia Foto: AP / AP

“No momento, não podemos informar nada muito promissor ou um avanço. Há muito trabalho por fazer”, declarou Peskov à imprensa.

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Ainda assim, Peskov considerou “positivo” o fato de que a delegação ucraniana “tenha finalmente começado a formular de maneira concreta suas propostas e colocá-las por escrito”. “Evitamos cuidadosamente fazer declarações públicas sobre o teor das questões que são objeto de discussões, porque acreditamos que as negociações devem ser acontecer de forma discreta”, acrescentou.

Rússia e Ucrânia classificaram nesta terça-feira as conversas de Istambul como “significativas”, ao contrário das rodadas anteriores, o que gerou esperanças após mais de um mês guerra, que deixou milhares de mortos e milhões de deslocados.

O país já havia afirmado após a reunião que a promessa de retirada de tropas do norte não significaria um cessar-fogo. Entretanto, era esperado que os ataques se concentrassem na região Leste da Ucrânia. “Este não é um cessar-fogo, mas esta é a nossa aspiração: alcançar gradualmente uma desescalada do conflito, pelo menos nestas frentes”, disse o chefe da delegação russa, Vladimir Medinski.

Medinski voltou a reafirmar nesta quarta-feira, após os novos ataques próximos a Kiev e em Chernihiv, que a Rússia tem interesse em um acordo de paz nos moldes do proposto nas negociações em Istambul. “Ontem, as autoridades de Kiev, pela primeira vez em todos esses últimos anos, declararam sua prontidão para chegar a um acordo com a Rússia”, disse o negociador em um comunicado televisionado. As mensagens, entretanto, contradizem as declarações de Peskov.

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Líderes ocidentais desconfiaram de promessa russa

Logo após as negociações em Istambul, líderes ocidentais, como o primeiro-ministro Boris Johnson e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, viram a promessa russa de diminuição de ataques com desconfiança. Eles afirmaram que iriam manter as sanções impostas contra o país - em retaliação à invasão - até que a Rússia fizesse o que prometeram fazer.

Alguns membros da Otan se reuniram virtualmente nesta terça-feira, depois das negociações entre Ucrânia e Rússia. Segundo a Casa Branca, o presidente dos EUA, Joe Biden, conversou durante uma hora com o presidente francês Emmanuel Macron, o chanceler alemão Olaf Scholz, o primeiro-ministro italiano Mario Draghi e o primeiro-ministro britânico Boris Johnson. Até o momento, não há informações sobre o que foi discutido na chamada.

De acordo com Joe Biden, houve um consenso entre esses países de aguardar os próximos passos da Rússia para avaliar o que fazer. “Mas, enquanto isso, continuaremos a manter fortes sanções”, disse Biden. “Vamos continuar a fornecer aos militares ucranianos a capacidade de se defenderem. E vamos continuar atentos ao que está acontecendo.” /AFP, NYT, GUARDIAN

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