Os visitantes caminham na ponta dos pés em torno do túmulo de mármore que abriga os restos mortais de Hugo Chávez. Simpatizantes soluçam enquanto a voz do presidente venezuelano morto há um mês ecoa pelos alto-falantes. Turistas estrangeiros fotografam painéis que narram sua vida, desde a infância rural até a atuação como líder radical da Venezuela.Um quartel do Exército em um morro de Caracas foi transformado em santuário e museu para o líder bolivariano.Mesmo morto, Chávez continua dominando a política local, e a campanha para a eleição presidencial do dia 14 gira em torno da continuidade ou não do socialismo chavista.Centenas de pessoas aparecem diariamente para prestar homenagem a Chávez. "Eles vêm de todos os lugares, de muitos países", disse Alba Antunes, de 75 anos, que trabalha como guia no imponente prédio centenário escolhido para receber o caixão de Chávez.Chávez morreu de câncer, em 5 de março, após governar a Venezuela por 14 anos. Seu velório atraiu milhões de pessoas, numa comoção comparável à do funeral da argentina Eva Perón, há seis décadas.Depois de um velório de dez dias, o corpo foi levado até o quartel que já funcionava como um memorial do frustrado golpe militar de 1992, que lançou a carreira política do então tenente-coronel Chávez.Planos para embalsamar o corpo foram abandonados e ainda não está decidido se o presidente será enterrado definitivamente na sua cidade natal, Sabaneta, ou no grandioso Panteão Nacional, em Caracas.O corpo atualmente repousa próximo à favela 23 de Enero, importante bastião do chavismo, e com vista para o palácio presidencial de Miraflores.Para os críticos, a comoção pela morte de Chávez tem obscurecido os lados mais sombrios de seu governo: prisão ou exílio para os opositores políticos, gestão econômica caótica e um obsessivo e autoritário estilo de governar.O presidente em exercício e herdeiro político, Nicolás Maduro, apresenta-se como "filho" ideológico de Chávez e sua campanha eleitoral tem como base a promessa de que manterá as políticas populares de assistência social.O candidato da oposição Henrique Capriles diz que Maduro não passa de uma pálida imitação de Chávez, e é hora de seguir em frente.Ao redor do sarcófago, dois enormes retratos de Chávez encaram duas imagens do herói da independência Simón Bolívar. Numa capela ao lado, fotos de Chávez rezando e segurando um crucifixo ladeiam o altar.A maioria dos visitantes faz o sinal da cruz e toca rapidamente o jazigo preto e elevado. Embora os admiradores sejam maioria, alguns críticos também aparecem."Nunca fui chavista. Ele fez muito mal ao país e parece que todo mundo está esquecendo isso agora. Mas nunca demonstrarei desrespeito pelos mortos", disse o estudante de administração Antonio Rodríguez, de 24 anos, ao colocar sua mão sobre o mármore. / REUTERS
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.