Um presidente transformador

Em menos de oito anos de mandato, Obama mudou a economia e política dos EUA

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Por Redação

Em entrevista durante a campanha de 2008, Barack Obama disse que Ronald Reagan havia mudado os EUA de uma maneira que Richard Nixon e Bill Clinton não conseguiram. Claramente, Obama aspirava a ser um presidente transformador como Reagan. Nesse ponto, é justo afirmar que ele se tornou. Veja o que ocorreu durante seu mandato com o país, com seu partido e, mais revelador, com sua oposição. 

A primeira frase na biografia de Obama terá de indicar o que ele é, ou seja, o primeiro presidente negro dos EUA. No entanto, o que ele realizou também é relevante. Após o colapso financeiro de 2008, Obama trabalhou com o governo de George W. Bush, que estava de saída, com Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, e com membros de ambos os partidos no Congresso para enfrentar a crise em todas as frentes: fiscal, monetária e regulatória. Como resultado, os EUA saíram da recessão em situação melhor do que qualquer outra economia importante. 

Obama discursa no Gran Teatro de Havana: presidente condenou atentado em Bruxelas Foto: AFP PHOTO/ Nicholas KAMM

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A realização mais notável de Obama foi no campo da saúde, tendo aprovado uma lei pela qual hoje 90% dos americanos possuem um seguro médico. Embora a lei tenha seus problemas, alcançou o objetivo enunciado pela primeira vez por Theodore Roosevelt, há 100 anos. E ocorreu também uma transformação da política energética dos EUA. O governo realizou investimentos e ofereceu uma variedade de incentivos para colocar o país na vanguarda da revolução energética emergente. Um exemplo: durante o governo Obama, o custo da energia solar caiu em 70% e a geração solar aumentou em 3.000%. 

Obama também adotou uma nova política externa, com base nas lições das últimas décadas, que limita o envolvimento no Oriente Médio e se concentra no combate ao terrorismo. Isso deixou o governo livre para buscar novas estratégias para países como Irã e Cuba e direcionar a atenção e recursos para a região da Ásia-Pacífico, que em poucos anos abrigará quatro das cinco maiores economias do mundo. 

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Do mesmo modo que Reagan consolidou a posição ideológica do Partido Republicano de defesa do livre mercado, do livre comércio, uma política externa expansiva e uma perspectiva otimista, Obama contribuiu para impelir o Partido Democrata no sentido de usar o governo para atingir objetivos públicos. E o partido correspondeu. 

Na entrevista de 2008, Obama ressaltou que Reagan não transformou o país sozinho. Ele se beneficiou da mudança do estado de espírito nacional. O mesmo pode ser dito com relação aos EUA atualmente. Anos de salários estagnados, desigualdade crescente e crise financeira criaram um novo clima político que Obama ajudou a forjar. 

O maior impacto da sua presidência, contudo, pode ser observado na oposição, que está em pleno colapso ideológico. Examinando esse cenário, Daniel Henninger, colunista conservador, escreveu no Wall Street Journal que Obama “está próximo de destruir seus inimigos políticos, o Partido Republicano, o movimento conservador e o legado de Ronald Reagan no âmbito das políticas públicas. Nesse aspecto, o sucesso de Obama, se podemos chamar assim, é passivo. Ele deixou que seus oponentes se autodestruíssem e nunca abusou da sua posição.” 

Desde o primeiro mês do mandato de Obama, o Partido Republicano decidiu que ele era um radical socialista contra o qual se deveria opor de qualquer modo. Mas Obama não caiu na armadilha e governou a partir da centro-esquerda. Não foram somente gestos. Durante as negociações envolvendo o orçamento, Obama fez uma concessão na reforma da Previdência Social jamais feita por qualquer democrata, concordando em reduzir o aumento anual automático dos benefícios, o que enfureceu a base do partido. Os republicanos rejeitaram a oferta, o que seguramente lamentam já que, provavelmente, jamais será oferecida outra vez pelos democratas. 

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Talvez o fato de não conseguir representá-lo como socialista, ou talvez por outras razões, grande parte da retórica republicana no tocante a Obama se tornou pessoal – com insinuações sobre sua origem, raça, religião e patriotismo. Obama jamais contra-atacou, demonstrando disciplina mesmo com a oposição se tornando cada vez mais feroz. 

Se Obama manteve serenidade, o Partido Republicano se enterrou ainda mais na política de identidade, contemplando por alto problemas de caráter étnico, racial, religioso e se afastando de seus dogmas que são o governo limitado, livres mercados e livre comércio – o que vem provocando uma implosão ideológica e não sabemos ainda o que surgirá dos escombros. Obama tem insistido que um dos seus princípios de política externa é “não cometer alguma estupidez”. Ao que parece, funciona também para a política interna. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

*É COLUNISTA

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