Marco Rubio, futuro secretário de Estado norte-americano, pode tomar a iniciativa de criar uma coalizão de presidentes conservadores na América Latina para contrabalançar a onda da esquerda na região.
O bloco latino-americano, que se apresentaria como contrário aos regimes populistas de esquerda, seria integrado por Argentina, El Salvador, Equador, Paraguai, República Dominicana, Peru, Costa Rica e Guiana.
Rubio, que sempre defendeu a luta pela democracia em Cuba e Venezuela, escreveu artigo chamando a atenção para o aumento significativo da presença da China, Rússia e Irã na América Latina e alegando que “construir uma coalizão contra essa influência” seria “obviamente desejável”.
“Devemos nos inspirar na nova geração de líderes no hemisfério ocidental potencialmente pró-Estados Unidos”, como Milei, na Argentina, e Santiago Peña, presidente do Paraguai, que, segundo afirmou, sentem “um desagrado pelo socialismo”.’
Quando se reuniu separadamente com Milei e Peña, informou Rubio, eles expressaram “um forte desejo de uma maior colaboração econômica com os Estados Unidos”.
“É de nosso interesse nacional corresponder a esta disposição”.
A ideia é a de que os EUA ofereçam mais apoio aos países conservadores que defendem a liberdade nas ditaduras de Cuba e Venezuela. Os presidentes dos países que poderiam apoiar essa iniciativa na região representam hoje mais de 120 milhões de pessoas, e a economia de seus países somam mais de US$ 1 bilhão, concluiu Rubio.
Os sinais vindos de Milei, ao ser o primeiro presidente a conversar com Trump depois da eleição e pelo convite que recebeu para participar do jantar de gala em Mar a Lago, indicam que a Argentina busca ser o líder do grupo de direita, conservador, mencionado por Marco Rubio.
A oposição à esquerda latino-americana, se for criada, deverá ampliar o debate ideológico na região e voltar-se basicamente para o público interno. A retórica contra a presença de potências extra-regionais e o endurecimento em relação à Venezuela é previsível. Não será fácil conseguir apoio de todos os integrantes para o propósito de frear a influência da China e da Rússia porque todos, a começar pela Argentina, com exceção da Colômbia, dependem fortemente do comércio com a China.
Mais de Interesse Nacional
A China vem gradualmente aumentando sua presença econômica e comercial, enquanto Washington tem baixo interesse na região, relegando seus vizinhos a um distante segundo plano.
Por outro lado, as deportações de milhões de imigrantes que Trump planeja levar adiante e o plano de aumentar tarifas de importação para todos os produtos do exterior não ajudarão a manter unidos os países potencialmente incluidos na coalizão de direita.
O encontro efusivo de Milei com Xi Jinping com vistas a aumentar o intercâmbio comercial entre os dois países (“não farei acordo com comunistas”, disse Milei anteriormente) e a inauguração do porto de Chancay, no Peru, investimento de mais de US$400 milhões, na presença do líder chines, mostram as contradições, na prática, entre dois dos países conservadores da lista de Rubio.
O fato de Rubio dar mais atenção à América Latina, apesar do alheamento de Trump, preocupado com questões internas e a rivalidade com a China e com a Rússia, marcará uma diferença com todos os secretários de Estado anteriores.
A criação e o êxito da eventual coalizão conservadora vão depender das medidas tomadas por Trump internamente e seus impactos sociais, econômicos e comerciais sobre os países da região.
A forma como o presidente republicano vai governar também vai ser determinante. Se governar autoritariamente, com ódio, perseguindo seus críticos, intimidando a imprensa e se continuar próximo de autocratas com Vladimir Putin e Kim Jong Un da Coreia do Norte, a coalizão, inspirada por Marco Rubio, não terá moral para defender a democracia na América Latina.
A eventual criação da coalizão conservadora terá grande repercussão, mas tenderá a ficar limitada às críticas ideológicas para consumo interno em cada um dos países. Resta saber se a oposição ideológica de Rubio vai ampliar-se para contrapor-se à crescente presença da China na região, em especial no Brasil, em vista da nova aproximação estratégica, “baseada em interesses compartilhados e visões de mundo próximas”, materializada nos 37 acordos firmados no encontro Lula e Xi Jinping desta semana, apesar de ter sido evitada a adesão à Iniciativa Cinturão e Rota e buscada apenas sinergias em projetos de infraestrutura.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.