Os planos para enviar ajuda humanitária por mar à Faixa de Gaza, devastada pela fome após cinco meses de guerra entre Israel e o Hamas, aceleraram na sexta-feira com o anúncio da abertura de um corredor marítimo a partir de Chipre e a construção de um porto temporário.
“A abertura deste corredor está muito próxima, com sorte será neste domingo”, afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante uma visita ao porto de Lárnaca, no sul de Chipre.
A ilha mediterrânea, membro da União Europeia, está a cerca de 370 quilômetros de Gaza. Os detalhes não foram divulgados, mas Von der Leyen indicou que uma “operação piloto” seria iniciada ainda nesta sexta-feira, 8.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou no dia anterior que o exército de seu país abriria um “porto provisório” na costa de Gaza para permitir a entrada de ajuda.
Na sexta-feira, ele afirmou que o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu deveria permitir o ingresso de mais ajuda ao estreito território, controlado pelo grupo terrorista Hamas desde 2007.
As Nações Unidas têm alertado repetidamente sobre uma iminente fome em Gaza, que tem sido alvo de cerco e bombardeio por Israel desde o ataque do Hamas ao território israelense em 7 de outubro.
Diante dessa situação, vários países árabes e ocidentais iniciaram lançamentos aéreos de ajuda humanitária. No entanto, uma falha em um paraquedas causou a morte de cinco palestinos na sexta-feira.
Além disso, 10 pessoas ficaram feridas no campo de refugiados de Al Shati como consequência desses lançamentos, afirmou Mohammed al Sheikh, enfermeiro chefe de emergência do hospital Al Shifa, na cidade de Gaza.
Um testemunha disse à AFP que decidiu seguir com seu irmão a ajuda lançada por um paraquedas na esperança de agarrar “uma bolsa de farinha”.
“Então, de repente, o paraquedas não se abriu e caiu como um foguete” contra uma casa, disse Mohammed al Ghoul.
Tanto o exército jordaniano quanto um funcionário de defesa dos EUA negaram que aviões de seus países tenham causado as vítimas mortais. O lançamento aéreo também foi realizado em colaboração com Bélgica, Egito, França e Países Baixos.
A ONU, que insiste que as entregas por ar ou mar não podem substituir as terrestres, adverte que 2,2 milhões dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza estão à beira da fome.
O Pentágono explicou que a construção do porto temporário levará “até 60 dias” e precisará da participação de “mais de 1.000 soldados dos EUA”, que se retirarão após a conclusão da obra, disse seu porta-voz, Pat Ryder.
Uma vez operacional, “poderá fornecer mais de dois milhões de refeições diárias aos cidadãos de Gaza”, acrescentou o porta-voz.
Israel, que mantém um cerco completo ao enclave palestino desde 9 de outubro, acolheu “com satisfação” o plano, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Lior Haiat.
O conflito teve início quando os combatentes do Hamas atacaram o sul de Israel em 7 de outubro e mataram cerca de 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em números oficiais israelenses.
Os islamitas também sequestraram cerca de 250 pessoas. Israel estima que 99 ainda estão detidas em Gaza, das quais 31 teriam falecido.
Em resposta, Israel lançou uma operação aérea e terrestre em Gaza, que já resultou em pelo menos 30.878 mortes, a maioria mulheres e crianças, segundo o ministério da Saúde do território.
Os mediadores do conflito - Estados Unidos, Catar e Egito - tentaram alcançar um acordo para um cessar-fogo antes do início do Ramadã, festa sagrada para os muçulmanos que começa no domingo ou segunda-feira, de acordo com o calendário lunar.
“Parece difícil” alcançá-lo neste prazo, reconheceu Biden na sexta-feira em coletiva de imprensa.
A delegação do Hamas - considerado como organização terrorista por Israel, Estados Unidos e UE - deixou a capital egípcia depois que Israel não atendeu às suas “exigências mínimas”, segundo um funcionário palestino.
O braço armado do Hamas advertiu na sexta-feira que não aceitaria uma troca de reféns e prisioneiros sem a retirada das forças israelenses de Gaza.
“Nossa máxima prioridade para alcançar uma troca de prisioneiros é um cessar total da agressão e uma retirada do inimigo, e não há concessões”, declarou o porta-voz das Brigadas Ezedín al Qassam, Abu Obeida, em um vídeo.
A situação é especialmente crítica no norte de Gaza, onde a distribuição de ajuda por terra é quase impossível devido aos combates, destruição e saques.
Mais de 100 palestinos morreram em 29 de fevereiro quando o exército israelense atirou em uma multidão que aguardava comboios com ajuda humanitária, segundo o Hamas.
O exército israelense afirmou na sexta-feira que sua “análise” mostrou que seus soldados “não atiraram contra o comboio humanitário” e sim “com precisão contra vários suspeitos”.
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