CARACAS - A Venezuela anunciou nesta segunda-feira, 29, que retirará o pessoal diplomático de suas missões na Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai e expulsou o corpo diplomático desses países em Caracas. Essas nações questionaram os resultados anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral que deu vitória a Nicolás Maduro nas eleições de domingo, 28.
A ditadura chavista disse que tomou a decisão “em rejeição às ações e declarações intervencionistas” desses governos. Em um comunicado, o Ministério das Relações Exteriores considerou que a posição desses governos “atenta contra a soberania nacional”.
O Ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, classificou as posições das nações vizinhas como intervencionistas e as acusou de estarem “subordinados” aos Estados Unidos, vinculando-os com a ideologia do “fascismo internacional”. O comunicado do chanceler também apontou que o governo se reserva o direito de tomar medidas para defender e “fazer respeitar” seu direito à autodeterminação.
Esses países, bem como Equador, Guatemala e Paraguai, expressaram profunda preocupação com o desenvolvimento das eleições e exigiram a revisão completa dos votos, com a presença de observadores eleitorais independentes. Também anunciaram que solicitariam uma reunião urgente do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) “para emitir uma resolução que salvaguarde a vontade popular”.
Na embaixada argentina, estão refugiados há semanas seis colaboradores da líder opositora venezuelana María Corina Machado que receberam ordem de prisão do regime chavista.
O governo argentino já havia se manifestando durante a madrugada questionando os resultados e com o presidente Javier Milei declarando derrota de Maduro. Hoje ele voltou a fazer críticas ao ditador. “A fraude perpetrada pelo ditador Nicolás Maduro não é nada além de uma vitória pírrica. Pode achar que ganhou a batalha, que ele acredite nisso, mas o mais importante é que os leões venezuelanos despertaram”, disse em um vídeo no TikTok.
A decisão da chancelaria venezuelana ocorreu logo depois que o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, anunciar a retirada de seus diplomatas da Venezuela e por “em suspenso” as relações com Caracas.
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“Por respeito à história do Panamá, por respeito aos milhares de venezuelanos que escolheram nosso país para viver e por respeito às minhas convicções democráticas, não posso permitir que meu silêncio se torne cumplicidade”, disse o presidente panamenho em coletiva de imprensa.
Segundo ele, as relações ficarão suspensas “enquanto não for realizada uma revisão completa das atas e do sistema de informática do escrutínio da votação que permitam conhecer a genuína vontade popular”.
Ambos os países não têm embaixadores, mantendo apenas encarregados de negócios para relações bilaterais.
O Panamá é um dos países da região mais afetados pela crise venezuelana, conforme milhares de migrantes entram no país pela selva de Darién, onde Mulino prevê um aumento do número de migrantes depois dos resultados. Mais de 200.000 pessoas já realizaram a travessia com destino aos EUA em 2024, dois terços delas de venezuelanos, segundos dados oficiais panamenhos.
“Eu acredito, e espero estar errado, que o fluxo de venezuelanos [pelo Darién] vá aumentar por razões óbvias. Temos que tomar as decisões correspondentes também para proteger suas vidas, sua integridade e facilitar o trânsito das pessoas que desejam emigrar para os Estados Unidos”, disse.
Brasil, Colômbia e México articulam declaração
Dos países que ainda não questionaram os resultados, estão aliados importantes de Maduro na região. Diplomatas de Brasil, Colômbia e México articulam uma declaração conjunta para cobrar a Venezuela a divulgar as atas eleitorais da votação.
Segundo apurou o Estadão, haverá uma cobrança explícita para o CNE fornecer as atas ao Centro Carter, um dos poucos centros de observação eleitoral permitidos pela ditadura chavista a operar na Venezuela. Os termos da nota estão sendo discutidos e a previsão é que seja publicada ainda hoje.
Será com base na análise das atas e na avaliação do Centro Carter que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — com subsídios do ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, e do assessor especial enviado a Caracas, Celso Amorim — vai decidir se o Brasil reconhecerá ou não a reeleição de Maduro.
Será com base na análise das atas e na avaliação do Centro Carter que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — com subsídios do ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, e do assessor especial enviado a Caracas, Celso Amorim — vai decidir se o Brasil reconhecerá ou não a reeleição de Maduro./Com AFP
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