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Venezuela impede entrada de observadores da ONU, diz comissão da entidade

Nações Unidas pedem investigação transparente das mortes ocorridas durante protestos no país e desejam fazer um relatório sobre a situação dos direitos humanos

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Por Jamil Chade, correspondente e GENEBRA

GENEBRA - O governo venezuelano tem proibido a entrada no país de representantes de direitos humanos da ONU, impedindo uma avaliação por parte da entidade internacional sobre a situação em Caracas. O Estado apurou que, nas últimas semanas, a chancelaria venezuelana tem protestado em cartas sigilosas à cúpula das Nações Unidas contra as cobranças que recebe da entidade. 

Manifestantes queimam barricada durante protesto contra Maduro em Caracas Foto: REUTERS/Christian Veron

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A situação levou ao fechamento das fronteiras aos representantes da ONU.Em junho de 2016, o Estado revelou que a recusa havia ocorrido em quatro ocasiões desde 2014. "O que exatamente vocês estão escondendo de nós?", questionou o alto comissário da ONU para Direitos Humanos, Zeid Ra'as Al Hussein. 

Com a nova onda de violência e protestos, a esperança das Nações Unidas era poder voltar a entrar no país, com a missão de tentar aproximar a oposição e o governo e abrir canais de diálogo. Outro propósito era examinar a situação de direitos humanos. 

Mas o acesso tem sido negado. De acordo com o Escritório do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, um acompanhamento da situação ocorre a partir do escritório da entidade no Chile. "Nosso escritório regional tem solicitado múltiplas vezes visto, o último em outubro de 2016, sem resposta", disse Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos.

Desde a última vez que um visto foi negado, em outubro, a reportagem apurou com diplomatas sul-americanos que o diálogo tem sido cada vez mais complicado entre as autoridades venezuelanas e a ONU e a entidade sequer conseguiu espaço para apresentar um pedido oficial de visto. 

"A última vez que o representante regional conseguiu conduzir uma visita oficial à Venezuela foi em 2011", disse Ravina. Segundo ela, a última vez que um relator da ONU teve acesso ao território venezuelano para investigar violações de direitos humanos foi em junho de 1996. 

Investigação. Nesta terça-feira, 25, a ONU pediu que o governo venezuelano promova "investigações transparentes" em relação às mortes ocorridas nos últimos dias na Venezuela, no contexto de protestos realizados em diversas cidades. 

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"Estamos profundamente preocupados com a escalada de violência na Venezuela", declarou a porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos. "Pedimos que as forças de ordem atuem e operem respeitando suas obrigações", alertou, numa referência às suspeitas de violação de direitos humanos. "A administração desses protestos precisa estar dentro de padrões internacionais", insistiu, pedindo que o uso da força seja evitado.

À população, o escritório da ONU também faz um apelo. "Solicitamos que usem meios pacíficos para fazer suas vozes serem ouvidas", disse.

Na semana passada, a ONU havia alertado ao governo de Nicolás Maduro que sua iniciativa de entregar armas à população apenas faria aumentar o risco de um confronto no país. "Dar armas a civis implica um risco muito alto", alertou Rupert Colville, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos. "O que se necessita nesse contexto de conflito é reduzir a tensão. Quanto maior o número de armas pelas ruas, maior a possibilidade de que possam ser usadas", disse Colville. 

Maduro anunciou a aprovação de um plano para expandir para 500 mil os membros da milícia bolivariana. Segundo ele, o grupo estará em todo o território para a "defesa do país". "Uma arma para cada miliciano", prometeu Maduro, em um anúncio na semana passada por radio e televisão.

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