Representantes dos Estados Unidos no Brasil estão apoiando os refugiados venezuelanos que entram pela fronteira de Roraima, principalmente pela cidade de Pacaraima, a cerca de 200 quilômetros de Boa Vista, na divisa com a Venezuela.
Após um encontro com autoridades brasileiras e a ONG religiosa Fraternidade Federação Humanitária Internacional na semana passada, diplomatas da Embaixada dos EUA visitaram locais de concentração de refugiados no Estado e se reuniram com líderes de organizações que dão suporte a fugidos da crise política e econômica na Venezuela.
“Muita gente está oferecendo apoio”, disse Freyo Viana, presidente da Associação Venezuelanos no Brasil e militante do Nuvipa (Nueva Visión Para Mi País), grupo que critica a política de repressão do regime do presidente Nicolás Maduro, mas se diz desvinculado “do governo e da oposição”. Na quinta-feira, eles também receberam os americanos.
Segundo um dos diplomatas dos EUA, as informações sobre os refugiados venezuelanos são preocupantes. “Estamos verificando as informações passadas pela Acnur (agência da ONU para refugiados)”, respondeu durante visita noturna ao refúgio de Boa Vista.
O local dá abrigo a quase 300 venezuelanos, a maioria da etnia warao, 80 dos quais são crianças. De acordo com a Superintendência da Polícia Federal em Roraima, somente neste ano, entre janeiro e 30 de maio, já entraram no País por Pacaraima cerca de 28,8 mil venezuelanos e 11 mil retornaram a seu país.
Dos que permaneceram, muitos trabalham em Boa Vista e Manaus, que fica a cerca de 700 quilômetros da capital de Roraima. A média diária de atendimentos na fronteira, de acordo com os dados da PF, está em cerca de 100 casos de solicitação de entrada.
Fuga. Em Pacaraima, onde os americanos estiveram na quarta-feira, os refugiados se aglomeram perto da estação rodoviária da cidade, à beira da Rodovia 174, a 15 quilômetros da vizinha Santa Helena de Uiarén, a primeira cidade em terras venezuelanas. A brasileira Pacaraima tem cerca de 11 mil habitantes.
O grupo de 200 indígenas warao permanece acampado sob marquises e nas calçadas. Mas há também muitos trabalhadores que buscam emprego no Brasil e, com pouco dinheiro, se acomodam como podem na região à espera de transporte para Boa Vista.
O diplomata dos EUA ouviu também relatos das dificuldades enfrentadas pelos venezuelanos que não são da etnia warao. Eles são cerca de 80 homens que recorrem ao abrigo, do bairro Pintolândia, ao lado da Praça Germano Sampaio, em busca de comida e lugar para dormir.
Durante o dia, saem às ruas para fazer bicos de capina e outros serviços gerais, como pintura, recebendo diárias que variam de R$ 20 e R$ 100, dependendo da tarefa. À noite, as luzes no abrigo se apagam por volta de 21 horas. Pelo menos dois casamentos entre homens não indígenas e mulheres warao já ocorreram.
Atendimentos. O jovem Brian Sanches, de 23 anos, casou-se com Romélia Warao, de 18 anos. E José Francisco Blando, de 43 anos, que chegou no ano passado ao local, também se casou no abrigo. A mulher dele, também indígena, acabou de dar à luz a um filho do casal. “Irmã Clara, como está minha mulher?”, perguntou ele, na última terça-feira, ao voltar de uma obra nos arredores do abrigo. “Ela está bem e o bebê vai ficar mais uns dias no hospital, mas isso é normal”, respondeu a religiosa.
Segundo o chefe da Defesa Civil, coronel Doriedson Ribeiro, os homens venezuelanos que não são indígenas devem permanecer no abrigo o mínimo possível. Ele explicou que o local atende a 289 pessoas, sendo 77 crianças. “Estamos trabalhando nisso desde novembro do ano passado e já fizemos 113.554 atendimentos”, afirmou.
O forte dos atendimentos se concentra em alimentação: 111.185 até aquela data. “Há ainda um forte impacto sobre o sistemas de saúde e educação de Boa Vista. A cidade não estava preparada para aguentar, além da preocupação com a segurança pública”, disse o militar.
Pela manhã, há distribuição de café, pão e frutas, nem sempre em bom estado para consumo porque são doações de sobras de mercados. Todo dia, novas famílias chegam. O clima no local se complica principalmente à noite, na hora da distribuição do jantar. A cozinha é administrada pelas mulheres indígena. “Aí, acontecem conflitos”, explicou a irmã Clara, da Fraternidade, que passa o dia administrando as desavenças entre os grupos, mas que à noite não fica no local.
Segundo o ajudante de pedreiro Luis Beltrán Rojas, de 34 anos, emigrar para o Brasil foi a única saída encontrada para a crise no seu país. Ele viajou de Cariaco, uma pequena cidade já na beira do mar do Caribe, em busca de trabalho. Empurrando uma bicicleta, com capacete de operário, ele chegou ao abrigo perto do meio-dia de segunda-feira com outros dois colegas de serviço. Foram procurar o almoço, servido com a ajuda da ONG.
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