Veteranos da Guerra do Afeganistão criam rede para resgatar aliados afegãos abandonados na retirada

Rede informal conta com a participação de militares da reserva e civis e oferece ajuda humanitária a afegãos que se tornaram alvo do regime do Taleban

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Por Redação

É a partir de Shalimar, cidade litorânea no noroeste da Flórida, que Travis Peterson passa os dias trocando mensagens com pessoas desconhecidas de diferentes cidades do Afeganistão. Veterano da Força Aérea dos Estados Unidos, Peterson serviu no Oriente Médio por anos antes da retirada das tropas americanas em agosto de 2021. Agora, ele e uma rede de voluntários tentam resgatar seus antigos aliados, cidadãos afegãos que trabalharam para Washington e foram esquecidos (ou deixados para trás), do país em que se tornaram alvo prioritário após a tomada de poder pelo Taleban.

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Peterson é parte de uma rede informal liderada por militares veteranos e que conta com voluntários espalhados por todos os EUA que tentam prestar auxílio aos profissionais que trabalharam ao lado das tropas aliadas.

A rede oferece ajuda humanitária, com a compra e entrega de alimentos por meio de fornecedores locais, busca de abrigos e linhas-telefônicas seguros para pessoas que são alvo pelas funções exercidas em 20 anos de ocupação e prestam auxílio burocrático para que as aplicações de vistos delas tenham mais chance de sucesso e elas possam deixar o país (veja depoimentos no vídeo abaixo).

“O Afeganistão está profundamente arraigado a mim. Sinto uma forte obrigação moral de ajudar aqueles que nos ajudaram. Nosso esforço para construir uma democracia exigiu a dedicação de tradutores, policiais, soldados e juízes”, explica o veterano.

“Estamos fazendo tudo o que nós podemos para tirar nossos aliados de lá e mantê-los em segurança. Mas isso não deveria ser nossa responsabilidade”, completou.

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Por ordem do presidente Joe Biden, os EUA encerraram a operação no Afeganistão 20 anos após o começo da invasão, naquela que é a guerra mais longa da História do país. A saída dos militares americanos causou polêmica por ocorrer em meio a uma ofensiva do Taleban, grupo fundamentalista que governava o país antes da chegada americana e com histórico de violações de direitos humanos.

Milhares de pessoas se aglomeraram nos arredores do aeroporto de Cabul na tentativa de deixar o país. Muitas morreram tentando se agarrar aos aviões que decolavam, caindo pouco depois das aeronaves deixarem o solo. Cenas marcantes, como a de mães entregando os filhos para os soldados americanos em tentativas de retirá-los do país rodaram o mundo.

Também durante a retirada, a preocupação com os afegãos que trabalharam para os EUA e seus aliados ocidentais durante os anos de ocupação já era latente, com o presidente Biden chegando a afirmar que ninguém que colaborou com as forças americanas seria deixado para trás. Mas a promessa não foi cumprida.

“O governo fez m****. Eles não tinham nenhum plano de retirada para os aliados. Largaram tudo nas nossas costas”, afirma Peterson, acrescentando: “Estou com raiva, chateado. Que país vai querer ajudar os EUA sabendo que, no fim, vamos abandoná-lo?”.

Em St. Louis, o veterano do corpo de fuzileiros navais Peter Lucier afirma que precisou aumentar as doses de medicação e o acompanhamento psicológico após entrar para a rede de ajuda. Mesmo incompreendido pela família, ele defende seus motivos.

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“Eu acho que minha namorada ainda não entende direito porque passo a noite acordado fazendo esse trabalho. Porque tive que reforçar a medicação e a terapia por essas pessoas que eu nunca conheci. Mas eu sinto que tenho uma obrigação moral, porque é um lugar onde servi”, disse.

Na Geórgia, o veterano do Exército Ben Owen também colocou a ajuda aos antigos aliados como uma prioridade. “Nós acabamos com a poupança das crianças para a faculdade”, detalhou Owen ao falar sobre a dedicação ao projeto.

“Por que não deixo para lá e toco a vida? Eu tento fazer isso todo dia, toda hora. Mas é impossível. É uma ferida moral. É um trauma que vem de testemunhar algo que vai contra nossos valores”, afirmou Peterson. E completa: “Nós, militares, acreditamos todos em uma coisa: você nunca deixa ninguém para trás”. / THE NEW YORK TIMES

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