BRUXELAS - O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, deve se reunir com Vladimir Putin em Moscou nesta sexta-feira, 5, logo depois de visitar a Ucrânia pela primeira vez durante a guerra. Budapeste assumiu esta semana a presidência da União Europeia e tenta se apresentar como mediador do conflito, mas a proximidade entre Orbán e Putin é motivo de desconfiança.
O encontro com Vladimir Putin não foi divulgado oficialmente, mas fontes do governo húngaro confirmaram a viagem e disseram ao The Guardian que foi planejada em conjunto com a agenda em Kiev. Ele deve ir acompanhado pelo ministro das Relações Exteriores, Péter Szijjártó, que tem visitado a Rússia com frequência no momento em que o Ocidente tenta isolar Moscou.
Depois que as notícias começaram a circular, o presidente do Conselho Europeu Charles Michel sugeriu que a Hungria não estará representando o bloco no encontro com Vladimir Putin.
“A presidência rotativa da União Europeia não tem mandato para se envolver com a Rússia em nome da UE. O Conselho Europeu é claro: a Rússia é o agressor, a Ucrânia é a vítima. Nenhuma discussão sobre a Ucrânia pode ocorrer sem a Ucrânia”, escreveu no X.
Ao visitar Kiev na terça-feira, 2, Orbán sugeriu ao presidente Volodmir Zelenski que ele deveria considerar a possibilidade de uma trégua nos combates. “Pedi ao presidente que considere a possibilidade de um cessar-fogo rapidamente, que estaria limitado no tempo e permitiria acelerar as negociações de paz”, declarou o líder nacionalista, o único na UE próximo do Kremlin.
Zelenski já havia rejeitado firmemente a ideia de uma trégua com a Rússia, que ocupa cerca de 20% do território ucraniano. Ele afirma que um cessar-fogo só serviria para que Moscou fortalecesse o seu Exército e insiste na importância de uma “paz justa”. Kiev considera que a retirada das tropas russas de seu território é um requisito prévio para a paz, enquanto a Rússia afirma que o país deveria ceder as regiões ocupadas e desistir da aspiração de entrar para Otan.
O presidente ucraniano não reagiu de imediato, mas em seu discurso diário convidou a Hungria e Orbán a se unirem aos esforços para organizar uma nova cúpula de paz, depois do encontro na Suíça em junho.
Durante o encontro, aproveitou para pedir a manutenção “a um nível suficiente” da assistência militar da Europa no momento em que a Ucrânia enfrenta dificuldades no campo de batalha.
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Orbán tem sido crítico do apoio a Kiev. No começo do ano, chegou a bloquear o pacote de 50 bilhões de euros, que terminou sendo aprovado em fevereiro. A Hungria também apresentou resistência às negociações para adesão da Ucrânia a UE. Após intensa negociação, Orbán saiu da sala e abriu caminho para que os outros 26 países do bloco dessem início ao processo, mas deixou claro que era contra.
“A Hungria não quer ter elação com essa decisão. Por isso, não participei da votação”, disse Orbán, em vídeo gravado à época, acrescentando que a entrada da Ucrânia no bloco era “uma decisão completamente sem sentido, irracional e incorreta.”
O líder húngaro também se opõe às sanções impostas pela União Europeia contra Rússia em resposta a guerra e atuou para suavizar os embargos. Em diversas ocasiões, classificou a invasão russa como uma “operação militar”, usando o mesmo eufemismo que o Kremlin.
Apesar das divergências, o líder húngaro expressou o desejo de “melhorar” as relações bilaterais./Com AFP
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