Violência armada é rara no Japão e quase sempre está relacionada à Yakuza; leia a análise

País registrou apenas 10 incidentes envolvendo armas de fogo que acabaram em morte, feridos ou danos materiais em 2021; lei prevê 12 etapas antes da compra

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Por Redação

O ataque a tiros que matou o ex-primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe foi especialmente chocante porque envolveu uma arma de fogo – um tipo de crime extremamente raro em um país com algumas das leis mais rigorosas sobre compra e posse de armamentos.

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No Japão, 10 incidentes que contribuíram para a morte, ferimentos ou danos materiais foram relatados em 2021, segundo estatísticas da Agência Nacional de Polícia. Desses episódios relacionados a armas, uma pessoa foi morta e outras quatro ficaram feridas. Os números não incluem acidentes ou suicídios.

A lei de armas de fogo do Japão afirma que, em princípio, armas de fogo não são permitidas no país. Existem exceções para armas usadas na caça, mas o processo de obtenção de uma licença é demorado e caro, então poucas pessoas passam pelo incômodo de possuir uma arma de fogo.

Uma pessoa deve passar por 12 etapas antes de receber autorização para comprar uma arma de fogo, começando com aulas de segurança de armas e depois passando em um exame escrito, que acontece três vezes por ano.

Tetsuya Yamagami (de cinza) é detido por segurança após atirar com arma caseira no ataque que matou o ex-premiê japonês Shinzo Abe Foto: Nara Shimbun/Kyodo News via AP

Um médico deve comprovar a saúde física e mental do comprador da arma. E outras etapas incluem uma extensa verificação de antecedentes e uma inspeção policial do cofre de armas e do armário de munição necessários para armazenar armas de fogo e balas.

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Em 2020, havia cerca de 192 mil armas de fogo licenciadas no país, sendo a grande maioria espingardas e rifles de caça, segundo a agência policial. Isso é menos do que o número de armas registradas no Estado americano do Alabama, que tem uma população cerca de 20 vezes menor do que o Japão.

Não está claro como as regras em torno da posse de armas no Japão se aplicariam ao suspeito de disparar contra em Abe, uma vez que informações iniciais davam conta de que a arma do crime parecia ser caseira - o que foi confirmado pelo suspeito detido na cena do crime posteriormente.

Tiroteios são comuns no Japão?

“A violência armada é muito, muito rara”, observou Satona Suzuki, professora de história japonesa na Universidade SOAS de Londres.

Com restrições rigorosas às armas de fogo, a violência armada é frequentemente associada à Yakuza, a máfia japonesa. No ano passado, 10 tiroteios foram registrados no Japão, sem contar acidentes ou suicídios. Eles levaram a uma morte e quatro feridos. Dos incidentes, a polícia ligou oito à máfia.

Assassinatos políticos que eram uma característica do final dos anos 1920 e 1930 são considerados “coisa do passado”, de acordo com Suzuki.

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O ataque a Abe deixará as pessoas “chocadas”, disse ela. “Eles ficarão com medo, mas não é como a América. Não são atiradores loucos indo para escolas ou shoppings.”

Violência política

O próprio avô de Abe, Nobusuke Kishi, sobreviveu a uma tentativa de assassinato a facadas em 1960, quando era primeiro-ministro.

Em 1992, um atirador falhou ao tentar ferir o vice-primeiro-ministro Shin Kanemaru – como Abe, um membro do Partido Liberal Democrata. Dois anos depois, o ex-primeiro-ministro Hosokawa Morihiro saiu ileso depois que um atirador disparou contra ele em um hotel de Tóquio.

Em 2007, o prefeito de Nagasaki, Ito Itcho, foi morto a tiros por um homem que as autoridades descreveram como membro de um grupo do crime organizado.

Que arma o suspeito usou no assassinato de Abe?

A polícia de Nara confirmou na sexta-feira que o próprio suspeito fez a arma. Várias armas artesanais confiscadas de sua casa após uma busca eram semelhantes à arma usada no ataque, disseram eles.

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Fotografias da arma, que a polícia disse ter 40 cm de comprimento, sugeriram que foi improvisada usando itens disponíveis gratuitamente, como canos, madeira, fita adesiva e baterias. Andrei Serbin Pont, analista de segurança do Coordenador Regional de Pesquisa Econômica e Social (CRIES), com sede em Buenos Aires, escreveu no Twitter que a arma parecia ter sido projetada para funcionar sem munição produzida convencionalmente.

Em uma mensagem, Serbin Pont disse que o atirador pode ter usado pólvora preta caseira, uma forma bruta de pólvora ou, mais provavelmente, fogos de artifício como propulsor para forçar um projétil da arma. A teoria dos fogos de artifício faz sentido “porque estão prontamente disponíveis no Japão”, acrescentou./ NYT e WPOST

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