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Visita de Pelosi a Taiwan impulsiona nova fase da campanha de pressão da China; leia análise

Novas medidas da China após a viagem da presidente da Câmara dos EUA tendem a intensificar o risco de conflito com forças americanas no Pacífico Ocidental

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Por David Crawshaw e Lily Kuo

A visita durou meras 19 horas. Mas a contenciosa viagem de Nancy Pelosi a Taiwan foi um momento definidor na cada vez mais amarga rivalidade entre China e Estados Unidos.

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O quadro mais amplo da resposta chinesa emergirá nas próximas semanas e meses, e já existem sinais de que implicará em maior coerção econômica e militar. Qualquer que seja a forma acabada da retaliação de Pequim, a visita de Pelosi anuncia uma nova fase nos esforços da China de controlar o destino de Taiwan — e essas medidas tendem a intensificar o risco de conflito com forças americanas no Pacífico Ocidental.

Ao se encontrar na quarta-feira, 3, com a presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, Pelosi, democrata da Califórnia, afirmou que os EUA não abandonarão Taiwan. “Agora, mais que nunca, a solidariedade americana com Taiwan é crucial”, afirmou ela, descrevendo um mundo que encara a escolha entre democracia e autocracia. Pelosi afirmou que o compromisso americano em preservar a democracia de Taiwan é “firme”, mas, mantendo a abordagem de ambiguidade de Washington, só faltou a ela prometer que os EUA defenderiam a ilha militarmente.

A presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, e a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen Foto: Presidência de Taiwan via AFP

Taiwan jamais foi parte da República Popular da China, apesar do governante Partido Comunista reivindicar soberania sobre a ilha governada democraticamente, de 23 milhões de habitantes, e ter ameaçado tomá-la pela força se necessário. Os EUA há muito adotam a política de “Uma só China”, que reconhece Pequim e suas reivindicações sobre Taiwan, mas sem endossá-las, ao mesmo tempo que Washington mantém laços informais com Taipei.

A China tem buscado isolar Taiwan diplomaticamente e se eriça em relação a intercâmbios entre Taipé e autoridades internacionais — especialmente as de alto nível, como Pelosi. Pequim se preocupa com a possibilidade da presença da democrata da Califórnia normalizar visitas desse tipo e encorajar aliados dos EUA a solidificar seus próprios laços não oficiais com Taipei. De fato, quando questionada por um repórter em Taipei sobre a possibilidade de sua viagem abrir caminho para outras visitas de congressistas americanos à ilha, Pelosi afirmou: “Certamente espero que isso aconteça”.

À medida que mais países se relacionam com Taiwan, elevando sua importância global, Pequim perde controle sobre a antiga questão a respeito de como tratar a ilha, uma nação de facto reconhecida apenas por uns poucos países — como resultado do agressivo lobby de Pequim. Para a liderança chinesa, segundo a qual “reunificar” Taiwan com a pátria-mãe é um elemento central da ideologia do partido, isso é inadmissível.

A viagem de Pelosi a Taiwan foi a primeira visita de um presidente da Câmara dos Deputados à ilha desde que Newt Gingrich, republicano da Geórgia, esteve por lá em 1997. Mas naquela época a China era muito menos capaz militarmente e economicamente. Hoje, o país é governado com punho de ferro pelo presidente Xi Jinping, que está determinado a assegurar um terceiro mandato no congresso do partido em outubro, o que o faria dele o líder chinês mais poderoso desde Mao Tsé-tung.

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Xi agiu assertivamente nos anos recentes para esmagar o movimento pró-democracia em Hong Kong e intensificar o controle de Pequim sobre o polo financeiro. Mas ele tem poucas opções em relação a Taiwan, e há pouco que ele possa fazer sem iniciar uma guerra que poderia prejudicá-lo bastante em um momento politicamente sensível. E os taiwaneses, que lutaram arduamente por sua democracia depois de décadas sob lei marcial, não desejam se submeter ao jugo autoritário de Pequim.

“A China não quer conflito direto com os EUA, e economicamente é improvável que a China corte laços. Honestamente, a China não tem tantas cartas na manga”, afirmou Chu Shulong, professor de ciência política e relações internacionais da Universidade Tsinghua, em Pequim.

Até o momento, a China anunciou novas sanções comerciais contra Taiwan, sobre frutas e pescado. E seus planos de conduzir exercícios militares em larga escala em torno da ilha nos próximos dias elevaram as tensões, levando autoridades taiwanesas a reclamar na quarta-feira que Pequim está violando seu espaço territorial com medidas que representam, na prática, um bloqueio aéreo e marítimo.

A Casa Branca tem buscado apaziguar os ânimos, enfatizando seu apoio ao status quo e insistindo que não houve nenhuma mudança na política dos EUA em relação a Taiwan, ao mesmo tempo que alerta Pequim a respeito de uma reação exagerada.

Essas declarações dificilmente deixarão Xi satisfeito. O presidente chinês tem cultivado um humor hipernacionalista domesticamente e provavelmente se sentirá compelido a responder energicamente para demonstrar a determinação chinesa. É isso o que preocupa autoridades americanas e de outros países, que temem que uma retaliação da China poderia elevar o risco de um erro de cálculo militar com graves consequências, potencialmente atraindo outras potências regionais e aliados dos EUA, como Japão e Austrália.

O solavanco na economia global ocasionado por um conflito no Estreito de Taiwan seria imenso, dado o volume de comércio que trafega pelo adjacente Mar do Sul da China e o papel central de Taiwan na indústria global de eletrônicos.

“Se a China planeja usar a força contra Taiwan no futuro, as sanções que ela enfrentaria seriam ainda mais sérias do que as enfrentadas pela Rússia agora”, afirmou Fan Shih-ping, professor do Instituto de Graduação em Ciência Política da Universidade Nacional Normal de Taiwan. “O fato de Xi Jinping dedicar tanto esforço para interferir na visita de Pelosi neste momento indica que a questão de Taiwan não é mais um problema que pode ser solucionado apenas entre as partes nos dois lados do Estreito de Taiwan.”

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A China condenou repetidamente a visita de Pelosi e alertou os EUA em relação a “brincar com fogo”. Nesta quarta-feira, quando Pelosi se preparava para deixar Taipei, o ministério chinês de Relações Exteriores afirmou que implementará contramedidas direcionadas capazes de afetar os EUA e Taiwan.

Tsai, que Pequim considera uma perigosa separatista, enfatizou que Taiwan está pronta para reagir a qualquer ação militar da China. Caças de combate chineses atravessam com frequência os céus ao redor de Taiwan, fazendo com que a Força Aérea da ilha acione seus jatos. Taipei “não recuará” em face às ameaças intensificadas da China, afirmou a líder taiwanesa nesta quarta-feira.

E ainda que Taiwan tenha parecido em grande medida desfrutar da atenção à visita de Pelosi — impulsionando seu perfil, um objetivo crucial de Tsai — a ilha encara agora a perspectiva de uma intimidação crescente de uma liderança chinesa determinada a conseguir o que deseja.

Questionada em entrevista coletiva a respeito de quais benefícios tangíveis sua viagem havia produzido para compensar os custos para Taiwan, Pelosi notou que os EUA aprovaram na semana passada a Lei dos Chips e da Ciência, que ela promoveu como uma ferramenta para possibilitar melhores intercâmbios econômicos e investimentos na manufatura. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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