Vitória de Claudia Sheinbaum reforça domínio de Obrador na política do México, dizem analistas

Herdeira do legado político do populista presidente mexicano foi eleita a primeira mulher presidente na história do país com cerca de 60% dos votos, apontam resultados preliminares

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Foto do author Jéssica Petrovna

ENVIADA ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO - A histórica eleição que consagrou Claudia Sheinbaum como primeira mulher presidente do México pode ser considerada também a vitória de um homem: Andrés Manuel López Obrador. Herdeira do seu legado político, ela foi eleita com cerca de 60% dos votos, com 30 pontos de vantagem sobre a segunda colocada Xóchitl Gálvez e caminha para ter maioria qualificada na Câmara, apontam os resultados preliminares.

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A eleição foi pautada pela “Quarta Transformação”, como AMLO batizou o seu projeto político em referência a três momentos-chave na história mexicana: a Guerra da Independência; a Reforma, que separou a Igreja do Estado; e a Revolução, que encerrou 30 anos de ditadura. “Quero agradecer aos milhões de mexicanos que votaram para avançar com a Quarta Transformação”, disse Claudia Sheinbaum em seu discurso de vitória.

“É uma vitória para Claudia, para o partido Morena, mas também é uma vitória importante para López Obrador”, afirma o analista Jean François Prud’Homme, especialista no sistema eleitoral mexicano.

Presidente eleita Claudia Sheinbaum discursa para apoiadores na Cidade do México.  Foto: Marco Ugarte/Associated Press

AMLO deixa a presidência com aprovação na casa dos 60%, impulsionada pelo aumento do salário mínimo e dos benefícios sociais. Uma pesquisa divulgada em maio pelo El Financiero mostrou que 57% dos mexicanos apoiam os programas sociais, o dobro dos 28% que desaprovam.

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Em todas as outras áreas analisadas, contudo, a avaliação negativa do governo superou a positiva. Foi esse o caso da economia (42% a 38%), do combate à corrupção (54% a 29%) e, de forma ainda mais evidente, da segurança pública (64% a 23%).

“À exceção do aspecto social, as políticas do governo são mal avaliadas, mas López Obrador mantém um nível alto de aprovação então é uma vitória para Obrador porque a eleição também foi um plebiscito sobre ele”, observa Prud’Homme.

Se os resultados mostram, por um lado, a força de AMLO e do Morena no sistema político mexicano, por outro, expõem as fragilidades da oposição.

“Essa tendência que está se acentuando no México coloca o que partidos como o Partido Revolução Institucional (PRI), o Partido Ação Nacional (PAN) e o Partido Revolução Democrática (PRD) em uma posição muito complicada. Podemos estar vendo uma reconfiguração do sistema de partidos com o um partido dominante que seria o Morena”, afirma Prud’Homme.

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O perigo, alerta, é reproduzir o sistema que vigorou no México até os anos 2000, quando teve início a alternância de poder após sete décadas de hegemonia total de um único partido, na época, o PRI.

“Somos democratas e, por convicção, nunca faríamos um governo de repressão”, disse Sheinbaum em seu primeiro discurso como presidente.

Pelo menos no Câmara, os resultados preliminares apontam que a coligação deve ter maioria qualificada que precisaria para mudar a Constituição, como propõe o Morena. Sheinbaum prometeu que seguiria com a reforma proposta por Obrador que prevê a eliminação dos deputados e senadores proporcionais, eleitos em um sistema de listas regionais; eleição para juízes da Suprema Corte e mudanças no Instituto Nacional Eleitoral.

Apoiadores celebram vitória de Claudia Sheinbaum na Cidade no México.  Foto: Marco Ugarte/Associated Press

Desafios de Claudia Sheinbaum

Quando tomar posse em 1 de outubro, Claudia Sheinbaum terá uma série de desafios pela frente. O primeiro deles, é a violência dos cartéis de drogas, que marcou a eleição: foram pelo menos 34 candidatos assassinados durante o processo eleitoral, segundo levantamento do think tank mexicano Laboratório Eleitoral.

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Mas há também desafios de política externa e interna. “Um grande desafio serão as relações a nível internacional. O atual presidente parece ter fechado as portas, praticamente não viajou. Então ela terá que estabelecer relações”, afirma Bernardino Esparza Martínez, da Faculdade de Direito da Universidade La Salle.

Do ponto de vista da política interna, Claudia Sheinbaum, que tem sido muito próxima de López Obrador desde que se lançou da política, terá que encontrar a distância certa para manter o apoio de AMLO e, ao mesmo tempo, conseguir deixar uma marca própria, sem ficar à sombra do padrinho político. Também será colocada à prova sua capacidade de manter a união do Morena, partido que tem apenas dez anos e é muito centrado na figura de Obrador.

“O Morena é um partido jovem. Se observarmos os seus dirigentes e principais personagens, aqueles que disputam as eleições, eles vieram de outros partidos”, observa Martínez. “Acredito que ela vai ter que fazer uma reconstrução desse partido porque muitos na base não estão de acordo com as decisões desses dirigentes.”

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