Vitória na Baía dos Porcos foi episódio decisivo de poder

Líder da Revolução Cubana conseguiu repelir invasão dos EUA e tornou-se inimigo ainda mais determinado

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Fidel Castro estava ainda acordado, depois de uma noite de plantão no posto de comando, um sobrado do bairro de Vedado, em Havana, quando dois bombardeiros B-26 passaram sobre sua cabeça, na manhã de 15 de abril de 1961. Tinham as insígnias da Fuerza Aerea Revolucionaria (FAR), mas eram aparelhos dos exilados em Miami que a CIA havia pintado com as cores cubanas para que o povo imaginasse que eram pilotados por desertores. Pouco depois, eles começaram a bombardear a pista de pouso de Ciudad Libertad, a 300 metros dali.

Naquele mesmo instante, outros dois B-26 atacavam as bases de San Antonio de los Baños nos arredores de Havana e de Santiago de Cuba, no extremo oriental da ilha. Os aviões saíram de Puerto Cabezas, na Nicarágua, onde se encontrava a brigada de dissidentes treinados nos EUA. Pelo plano original, 16 bombardeiros deveriam participar da missão, mas o presidente John Kennedy reduziu esse número à metade. Dos oito que restaram, seis entraram em ação. Um foi derrubado, dois voltaram à Flórida quase sem combustível e os outros retornaram à Nicarágua.

Em tanque, Fidel inspeciona campo de batalha durante invasão da Baía dos Porcos Foto: AP Photo/Raul Corrales, The Canadian Press

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A FAR perdeu cinco aviões no solo. Sete cubanos morreram e 52 ficaram feridos no ataque a Havana. Os mortos foram sepultados na manhã do dia 16 e, na cerimônia fúnebre, Fidel comparou o ataque a Pearl Harbor. “A diferença é que desta vez o ataque foi duas vezes mais traiçoeiro e mil vezes mais covarde”, afirmou. Feita a homenagem aos heróis, o comandante aproveitou a emoção da solenidade militar para uma anunciar os rumos de seu governo.

“O que os imperialistas não conseguem nos perdoar é que fizemos uma revolução socialista debaixo do nariz dos EUA e defenderemos com nossos fuzis essa revolução socialista”, afirmou. “Os homens tinham o direito de saber por que estariam morrendo”, justificaria mais tarde.

Ataque principal. O líder cubano achava que o bombardeio das bases aéreas era o início da tentativa de invasão de Cuba, mas nada aconteceu nas horas seguintes. Os primeiros homens da Brigada 2506 - homenagem ao número de série do primeiro voluntário exilado a morrer em treinamento na Guatemala - desembarcaram na Baía dos Porcos, na madrugada do dia 17.

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Era uma força de 1,5 mil combatentes. Eles saltaram de barcaças lançadas dos navios que os trouxeram de Puerto Cabezas sob o comando de José Pérez ‘Pepe’ San Román. A força incluía mais de 200 oficiais e soldados do antigo regime. Era uma tropa bem treinada que Fidel Castro levou a sério. Ele não tinha ideia do tamanho dela, mas imaginava que a Baía dos Porcos, região que conhecia como a palma das mãos, seria o alvo da invasão. Acertou.

De seu posto no bairro de Vedado, o comandante ordenou que a FAR bombardeasse os invasores. Os aparelhos disponíveis na base de San Antonio de los Baños eram dois bombardeiros Sea Fury, dois B-26 e três T-33, jatos de treinamento armados com metralhadoras.

A batalha durou oito horas. Enquanto os ágeis T-33 interceptavam os bombardeiros invasores que voavam em exaustivas missões entre a Nicarágua e a Baía dos Porcos, os Sea Fury e um B-26 bombardearam a frota de oito navios. Afundaram um cargueiro que transportava um batalhão e deixaram as brigadas de exilados sem cobertura aérea. Outros barcos da invasão se afastaram abandonando 1.350 homens encalhados na praia. Os jatos cubanos derrubaram quatro B-26. Alguns dias depois, a brigada invasora, que perdeu 107 combatentes contra 161 cubanos, foi cercada. Foram feitos 1.189 prisioneiros. O Malecón, o boulevard da orla de Havana, estava entulhado de canhões antiaéreos e de artilharia. Cerca de 35 mil pessoas suspeitas de envolvimento com os exilados foram detidas.

Fidel, que comemorou a vitória com a certeza de que os americanos não o deixariam em paz, contava com um aliado forte. “Daremos ao povo cubano e a seu governo toda a assistência necessária para repelir um ataque armado contra Cuba”, advertiu o primeiro-ministro da União Soviética, Nikita Kruchev, em nota enviada ao presidente americano, Kennedy. Moscou intensificou sua ajuda, em dinheiro, armas e treinamento militar.