BOGOTÁ - As eleições na Colômbia formaram um novo cenário político no qual a oposição liderada por Álvaro Uribe retorna ao poder e a esquerda cresce e assume papel fiscalizador. Não houve surpresas e, como previam as pesquisas, Iván Duque, do Centro Democrático (CD), partido de Uribe, foi eleito presidente com 10,3 milhões de votos. Gustavo Petro, do movimento Colômbia Humana, teve 8 milhões.
Para esses resultados contribuíram a aglutinação em torno do uribismo das forças de direita, que já haviam mostrado capacidade de mobilização em 2016, quando, contra todos os prognósticos, rejeitaram nas urnas o acordo de paz com a guerrilha.
Na campanha, Duque manteve o discurso de rever o acordo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), mas garantiu que não o destruirá totalmente. “A paz exige correções e haverá correções, para que as vítimas estejam no centro do processo e para garantirmos a verdade e a justiça”, disse ele no primeiro discurso após a eleição.
Segundo Mauricio Jassir, professor de ciências políticas da Universidade de Rosario, em Bogotá, “modificar o acordo não será fácil”, tendo em vista a oposição interna, especialmente de movimentos sociais que apoiam Petro, mas também em razão do repúdio da comunidade internacional que batalhou pela paz.
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Duque, que assume em agosto, também precisará de jogo de cintura para governar com uma bancada legislativa que, embora lhe proporcione maioria no Congresso, é bastante diversa em termos ideológicos e de lealdades. “Entrar em acordo com todos esses grupos será uma prova de confiança”, disse Jassir.
No Congresso, Duque terá 16 senadores do CD, comandados por Uribe, outro vitorioso nas eleições porque, embora esteja há oito anos na oposição a Juan Manuel Santos, os resultados mostram que ele continua tendo força e influência eleitoral. “O uribismo foi o grande vitorioso, porque há anos vinha sendo menosprezado e todos pensavam que o país havia se cansado dele”, disse Jassir.
Quanto a Petro, sua votação é quase um mandato para se tornar líder da oposição, embora seja preciso ver manterá unidos os que o apoiaram. “Há um mandato inédito para a esquerda, que foi vitoriosa, pois agora terá de exercer controle fiscalizador, especialmente na questão da paz”, acrescentou Jassir.
Resta ver qual o papel das forças de centro, já que nem todos apoiaram Petro, e também de Sergio Fajardo, terceiro colocado, que defendeu o voto em branco no segundo turno. Também não está claro o futuro do enfraquecido partido de Santos, que, sem candidato, não apoiou ninguém e pode acabar diluído entre as novas forças da política colombiana. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO, EFE
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