BRASÍLIA - O presidente da China, Xi Jinping, pediu nesta quarta-feira, dia 20, apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o Brasil defenda o “verdadeiro multilateralismo” ante a “confrontação” e a “hegemonia”, na esteira da eleição do ex-presidente Donald Trump nos Estados Unidos. O líder chinês realizou uma visita da Estado a Brasília e discursou no Palácio da Alvorada. O petista disse que ambos países privilegiam o diálogo em um mundo de conflitos e tensões.
“A China disposta a trabalhar com o Brasil para defender firmemente o verdadeiro multilateralismo. Juntos, vamos emitir uma voz alta da nova era e buscar desenvolvimento, cooperação e justiça em vez de pobreza, confrontação e hegemonia. E vamos construir um mundo melhor”, afirmou Xi Jinping, sem menção direta ao norte-americano.
Durante o anterior governo, Trump adotou uma postura isolacionista, aprofundou uma guerra comercial com a China e abandonou ou impôs obstáculos ao funcionamento de fóruns multilaterais, como as Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Acordo de Paris.
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Seu novo governo está sendo formado com defensores dessa linha de política externa, e ele próprio ameaça novamente adotar tarifas contra importações. Embora não sejam exclusividade de Trump, a retórica e as medidas dos EUA para conter a expansão da influência econômica e política chinesa devem ser amplificadas.
Tanto Lula quanto o convidado Xi defenderam atuação conjunta na ONU, na OMC, no Brics, no G-20 e no Basic (formado para cúpulas climáticas).
“O que China e Brasil fazem juntos, reverbera no mundo. Defendemos a reforma da governança global e um sistema internacional mais democrático, justo, equitativo e ambientalmente sustentável”, afirmou o anfitrião brasileiro. “Em um mundo assolado por conflitos armados e tensões geopolíticas, China e Brasil colocam a paz, a diplomacia e o diálogo em primeiro lugar.”
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Proposta comum na Ucrânia
Os presidentes destacaram juntos em Brasília o plano sino-brasileiro para promover negociações de paz entre entre Rússia e Ucrânia. Lançada em maio, a proposta de seis pontos não exige a retirada de tropas russas do território invadido e sugere a contenção do conflito sem expandir o terreno de batalha. Ela foi elogiada pelos russos, que buscaram se envolver na discussão.
Os ucranianos, por outro lado, a rejeitaram publicamente por desconfiarem que tenha sido feita sob medida para agradar a Moscou. Kiev fala em discutir os termos, mas aposta em uma fórmula de paz própria e um plano de vitória.
Lula afirmou que o documento Entendimentos Comuns entre o Brasil e a China para uma Resolução Política para a Crise na Ucrânia “são exemplo da convergência de visões em matéria de segurança internacional”.
Xi Jinping destacou que “não existe solução simples para o assunto complexo” e falou em buscar mais apoios de países à iniciativa que lideram. Há resistências nos meios diplomáticos do Ocidente, apoiadores da Ucrânia, por verem China e Brasil com uma postura dúbia e, em vez de neutra, claramente pró-Russia. Em setembro, os dois países promoveram uma reunião em Nova York, às margens da Assembleia Geral da ONU, para discutir a proposta e angariar suporte.
“China e Brasil emitiram os entendimentos comuns sobre uma resolução política para a crise na Ucrânia, e criaram o Grupo de Amigos da Paz sobre a crise na Ucrânia junto com os outros países do Sul Global. Devemos reunir mais vozes que advogam a paz e procuram viabilizar uma solução política da crise na Ucrânia”, disse o presidente chinês.
Ao abordar a questão palestina, ele também afirmou que a “situação humanitária na Faixa de Gaza ainda está se deteriorando, com os efeitos de contágio ampliando, e a segurança regional gravemente impactada”.
“Estamos profundamente preocupados, e a comunidade internacional tem que fazer maior empenho. Para resolver a crise atual, é preciso focar na Palestina, que é a causa raiz. Apelamos para cessar fogo imediato, e assistência humanitária garantida, implementação da solução de dois Estados, e esforços incessantes para a solução abrangente, justa e duradoura da Questão Palestina”, afirmou o chinês.
Voz do Sul Global
O presidente Xi Jinping afirmou ainda que, por seu peso regional, China e Brasil devem “assumir proativamente a grande responsabilidade histórica de salvaguardar os interesses comuns dos países do Sul Global e de promover uma ordem internacional mais justa e equitativa”.
Ele afirmou que a união sino-brasileira é um exemplo de fortalecimento para os demais e que a relação vive a melhor fase. Xi recomendou que os países devem “aprofundar constantemente a confiança estratégica mútua e continuar com os apoios mútuos firmes nas questões vitais como a soberania, segurança e interesses de desenvolvimento”.
“Neste momento o mundo está longe de ser tranquilo, com várias regiões sofrendo guerras, conflitos, turbulências e insegurança. A humanidade é uma comunidade de segurança indivisível. Só quando abraçarmos a visão de segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável, é que trilharemos um caminho de segurança universal”, disse Xi Jinping.
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