O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, foi escolhido nesta quarta-feira, 7, a “pessoa do ano” pela revista americana Time. A revista também reconheceu “o espírito da Ucrânia”, apontando para a resiliência do país em uma repreensão ao presidente Vladimir Putin da Rússia.
A premiação, que ocorre desde 1927, aponta pessoas mais influentes do ano em diferentes categorias, além da principal, vencida por Zelenski. Ao divulgar o resultado, a revista disse que o líder ucraniano inspirou os cidadãos de seu país e ganhou elogios globais por sua coragem em resistir à invasão devastadora da Rússia.
A homenagem marca o último passo em uma ascensão notável de Zelenski que se viu catapultado de uma carreira como comediante de televisão, primeiro para a presidência em 2019 da Ucrânia e depois, este ano, para o status de líder com influência global.
“O sucesso de Zelenski como líder em tempo de guerra se baseou no fato de que a coragem é contagiosa. Ela se espalhou pela liderança política da Ucrânia nos primeiros dias da invasão, quando todos perceberam que o presidente havia permanecido”, escreveu a Time ao reconhecer o presidente de 44 anos.
Na terça-feira, Zelenski visitou as tropas ucranianas perto das linhas de frente no leste da Ucrânia.
Duas decisões tomadas em fevereiro definiram sua personalidade em meio à guerra. Quando a guerra começou, as potências ocidentais e especialistas militares assumiram que as forças russas iriam rapidamente invadir Kiev, a capital, e esperavam que o governo recuasse para um terreno mais seguro. Em vez disso, Zelenski permaneceu na cidade como um símbolo de desafio e continuidade da autoridade civil. Eventualmente, as forças ucranianas repeliram o ataque russo de lá.
A segunda decisão foi iniciar discursos noturnos transmitidos nas redes sociais. Em um deles, pouco antes do início da invasão, Zelenski disse: “Ouça a voz da razão”, acrescentando: “O povo ucraniano quer a paz”.
Em um segundo discurso, feito na noite em que as forças russas cruzaram a fronteira e começaram a bombardear Kiev, ele expressou uma nova missão nacional. “Putin começou uma guerra contra a Ucrânia e contra todo o mundo democrático”, disse ele. “Ele quer destruir nosso país e tudo o que construímos, mas conhecemos a força do povo ucraniano.”
Desde então, Zelenski usou seu escritório em Kiev para fazer uma série de discursos ao Congresso dos Estados Unidos, ao Parlamento britânico, à União Europeia e a muitos outros grupos, pedindo apoio militar, agradecendo às nações por apoiarem a Ucrânia e enquadrando a política de seu país. luta entre a liberdade e o despotismo.
Até mesmo seu visual – botas de combate, calça cáqui, camiseta verde e barba aparada – tornou-se uma marca registrada, reforçando sua imagem de cidadão-soldado. Em meados de novembro, ele fez uma visita à cidade de Kherson, no sul, pouco depois de as forças ucranianas a recapturarem.
Quem é Volodmir Zelenski
Zelenski chegou ao poder prometendo uma política anticorrupção, confiante na época em sua capacidade de alcançar a paz no duradouro conflito com os separatistas apoiados pela Rússia, então confinados no leste do país. Ele venceu de lavada, com 73% dos ucranianos o apoiando em detrimento do então presidente, Petro Poroshenko, um rico empresário que havia assumido uma posição dura contra Moscou.
Zelenski não tinha experiência anterior na política além de encenar o papel de um presidente caricato na TV. Ele venceu com base em uma agenda populista, combatendo uma abastada classe de oligarcas, e prometeu ser um presidente pragmático, cuja visão para a Ucrânia não era nem de “uma parceira corrupta do Ocidente” nem de uma “irmã mais nova da Rússia”. Seu apoio mais consistente veio do sul e do leste da Ucrânia, incluindo as regiões de Donetsk e Luhansk, que abriga enclaves separatistas e durante a guerra foram anexadas ilegalmente por Putin junto com Kherson e Zaporizhzhia.
Quando Zelenski se dirigiu diretamente aos russos em seu dramático discurso às vésperas da invasão, mudando a língua para o russo, ele se referiu a eles como vizinhos e família, mesmo enquanto reconhecia diferenças e admitia que eles provavelmente jamais ouviriam suas palavras, dado o controle estrito do Kremlin sobre os meios de comunicação na Rússia.
A trajetória de Zelenski espelha a de seu país, que esteve em guerra contra separatistas apoiados pela Rússia por oito anos até culminar na invasão em 24 de fevereiro.
A década passada testemunhou uma dramática ascensão do orgulho nacional ucraniano e do uso da língua ucraniana, juntamente com a confiança na democracia e a orientação pró-Ocidente. A confiança na Rússia e o respeito pelo governo autoritário de Putin diminuíram.
“Ele se transformou porque, basicamente, a sociedade ucraniana se transformou”, afirmou Volodmir Yermolenko, filósofo que edita a revista Ukraine World.
O presidente era “um cidadão do leste ucraniano, de fala russa, que fazia negócios em língua russa”, afirmou ele, referindo-se ao canal de TV de Zelenski, o Kvartal 95. “Os russos teriam esperado políticas pró-Rússia de sua parte, mas ele entende que os russos querem fazer tudo segundo seus próprios termos e dominar a Ucrânia, negar a existência da Ucrânia. É evidente que, de maneira gradual, ele se tornou um típico patriota ucraniano.”/AP, AFP e NYT
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