Zelenski viaja à cúpula do G-7 para pressionar Brasil, Índia e Indonésia contra a Rússia

Líder ucraniano deve chegar ao Japão no domingo, onde pediu um encontro bilateral com Lula, que se mantém neutro na guerra da Ucrânia

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Foto do author Carolina Marins

KIEV - O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, vai viajar para a cúpula do G-7 neste fim de semana para pedir mais ajuda em armamentos para as democracias mais ricas do mundo e pressionar os convidados neutros no conflito como Brasil, Índia e Indonésia. Sua participação na reunião já era confirmada por videoconferência, mas nesta sexta-feira, 19, ele informou que deve chegar ao Japão no domingo e já solicitou uma reunião bilateral com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Sua participação na reunião do Grupo dos Sete ocorrerá após sua primeira visita à Arábia Saudita, onde participou de uma cúpula da Liga Árabe e implorou aos países para não se curvarem à influência russa. O ucraniano iniciou uma nova rodada de viagens diplomáticas na intenção de obter apoio internacional antes de uma contraofensiva ucraniana contra posições russas no leste do país.

A cúpula deste ano tem como foco tratar da agressão da Rússia contra a Ucrânia, bem como da influência da China no mundo. O Brasil, que tem uma posição de neutralidade no conflito da Ucrânia, foi um dos países de fora do grupo a ser convidado para a cúpula, junto com Índia e Indonésia, também neutros. A chegada de Zelenski ao Japão promete lançar mais pressão para que esses países se aproximem da Ucrânia.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, envia uma mensagem em vídeo durante a 4ª Cúpula do Conselho da Europa em Reykjavik, Islândia, 16 de maio de 2023  Foto: Anton Brink Hansen/EPA/EFE

O jornal americano Financial Times foi o primeiro a noticiar a viagem de Zelenski à cúpula, “para aproveitar a oportunidade para fazer lobby em participantes [da cúpula] de fora do G-7, como Índia e Brasil”. Há uma expectativa de autoridades do G-7 que a presença de Zelenski torne mais difícil para os países convidados manter a neutralidade no conflito.

Logo após a confirmação da viagem, autoridades ucranianas entraram em contato com a diplomacia brasileira solicitando um encontro bilateral entre Lula e Zelenski, ainda não respondida pelo Brasil.

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Os dois líderes já conversaram por chamada, depois de declarações polêmicas do presidente brasileiro sobre a guerra. Na semana passada, o ucraniano se encontrou com o assessor especial Celso Amorim, que também se reuniu com Vladimir Putin em Moscou. O ponto de maior tensão na posição brasileira sobre a Ucrânia foi quanto ao pedido de armamentos ao Brasil.

Segundo revelou o The New York Times em abril, a Ucrânia fez pelo menos dois pedidos ao Brasil para comprar uma longa lista de armamentos que incluía veículos blindados, aeronaves, sistemas de defesa aérea, morteiros, rifles de precisão, armas automáticas e munições. O Brasil, porém, ignorou os pedidos. Em uma visita do chanceler alemão Olaf Scholz a Brasília, Lula deixou claro que o Brasil não vai fornecer armas à Ucrânia.

“É uma tentativa legítima do Zelenski [pressionar por apoio de Lula], mas não vejo isso como tendo grandes efeitos, até porque o Brasil não é o único país convidado que tem uma posição de neutralidade”, ressalta Vinícius Vieira, professor de Relações Internacionais na FAAP e FGV. “Se houver realmente um encontro, cabe ao Lula ouvir o Zelenski, mas é pouco provável, para não dizer impossível, que o Brasil mude sua posição em função apenas desse encontro.”

“O mais constrangedor pro Brasil na questão da Ucrânia até agora foi o pedido de materiais militares. Não acho que o Brasil vai fornecer em algum momento, porque pode implicar numa perda de neutralidade que seria muito ruim para a pretensão brasileira de atuar como mediador”, completa.

Lula chega para a cúpula do G-7 em Hiroshima, no Japão Foto: Ministério das Relações Exteriores do Japão/AFP

Mais ajuda à Ucrânia

Apesar dos esforços do primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, de que o encontro do G-7 não se transforme totalmente em uma cúpula sobre a Ucrânia apenas, os chefes de governo do Japão, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha e Itália falarão nos próximos três dias sobre todas as dimensões da guerra. Eles pretendem discutir a aplicação de sanções, entrega de mais armas a Kiev e a possibilidade de negociações sobre um tratado de paz.

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Oleksi Danilov, chefe do conselho de defesa nacional da Ucrânia, anunciou a viagem de Zelenski em rede nacional na sexta-feira. “Coisas muito importantes serão feitas lá; portanto, a presença física de nosso presidente é importante para defender nossos interesses”, disse. “Fornecer propostas claras e argumentos claros sobre os eventos que ocorrem no território de nosso país.”

Em Hiroshima, Zelenski também deve se encontrar com o Joe Biden, que nessa sexta disse a seus aliados que permitiria que pilotos ucranianos fossem treinados em caças F-16 fabricados nos Estados Unidos. Os caças são um desejo antigo de Zelenski.

Autoridades americanas disseram ao NYT que Biden está disposto a permitir que outros países deem F-16 à Ucrânia. Não ficou claro, porém, quando essa aprovação pode ocorrer. Alguns países europeus que possuem os caças disseram que gostariam de fornecer os jatos para a Ucrânia.

O apoio de Biden ao treinamento de pilotos ucranianos em caças avançados serve como um precursor para enviar os jatos para a Ucrânia pela primeira vez. Mas as decisões sobre quando, quantos e quem fornecerá os caças serão tomadas nos próximos meses, enquanto o treinamento estiver em andamento, disse Biden aos líderes.

Biden disse a aliados que permitiria que pilotos ucranianos fossem treinados em caças F-16, de fabricação americana Foto: David Zalubowski/AP

Os líderes do G-7 também usarão sua cúpula para lançar uma nova onda de sanções globais contra Moscou, bem como planos para aumentar a eficácia das penalidades financeiras existentes destinadas a restringir o esforço de guerra do presidente Vladimir Putin.

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“Nosso apoio à Ucrânia não vai vacilar”, disseram os líderes do G-7 em um comunicado divulgado após reuniões a portas fechadas. Eles prometeram “ficar juntos contra a guerra de agressão ilegal, injustificável e não provocada da Rússia contra a Ucrânia”. “A Rússia começou esta guerra e pode acabar com esta guerra”, disseram eles.

Cúpula da Liga Árabe

A ida de Zelenski ao G-7 ocorre após uma visita surpresa a Jeddah, na Arábia Saudita, para participar da cúpula anual da Liga Árabe, onde se dirigiu a países que mantêm relações calorosas com a Rússia. Em seu discurso, Zelenski apelou aos governantes para ajudar a salvar os ucranianos “das jaulas das prisões russas”.

“Infelizmente há alguns no mundo, e aqui entre vocês, que fecham os olhos para essas jaulas e anexações ilegais”, disse ele. “Estou aqui para que todos possam olhar honestamente, não importa o quanto os russos tentem influenciar.”

Suas observações pareciam especialmente pontuais, visto que pela primeira vez em mais de uma década, os líderes árabes estavam dando as boas-vindas ao líder sírio Bashar al-Assad, que dependia fortemente do apoio militar russo para travar uma guerra na Síria. Ele havia sido amplamente evitado, regional e internacionalmente, desde 2011, quando começou a reprimir violentamente a revolta da Primavera Árabe na Síria, usando armas químicas contra seu próprio povo em alguns pontos de uma guerra civil que matou centenas de milhares.

O presidente ucraniano Volodmir Zelenski se reuniu com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman Foto: Saudi Press Agency/AFP

Apesar da pressão dos Estados Unidos, muitos países árabes evitaram tomar partido desde que Moscou invadiu a Ucrânia há quase 15 meses, dizendo que não querem ser arrastados para uma competição entre superpotências e devem ser capazes de buscar seus próprios interesses.

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As autoridades sauditas tentaram manter boas relações com ambas as partes no conflito. Eles prometeram US$ 400 milhões em ajuda à Ucrânia, mesmo coordenando com a Rússia e outros produtores de petróleo do cartel Opep+ para aumentar os preços da energia, irritando as autoridades americanas.

Zelenski foi convidado para a cúpula pela Arábia Saudita, onde se encontrou com o líder do reino, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman./Com AP e NYT